Acusado de uso de “laranjas”, líder de seita está entre os presos pela PF

Ezequiel Fagundes e Alessandra Mendes - Hoje em Dia
17/08/2015 às 18:45.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:23
 (Polícia Federal)

(Polícia Federal)

A cúpula da seita religiosa Jesus, a Verdade que Marca foi presa nesta segunda-feira pela Polícia Federal (PF), (17), incluindo o líder da entidade, Cícero Vicente de Araújo, durante a operação de Volta para Canaã. O pastor Araújo, como é mais conhecido, foi preso em uma das casas dele em Pouso Alegre, no Sul de Minas.   Ele e outras cinco pessoas tiveram a prisão temporária decretada pela 4ª Vara Federal de Belo Horizonte. Eles são suspeitos de liderar uma organização criminosa que teria amealhado, nos últimos oito anos, cerca de R$ 100 milhões do patrimônio de fiéis que eram submetidos a regimes de trabalhos semelhantes a escravidão.   De acordo com fontes da investigação, o pastor Araújo e seus colaboradores montaram uma rede de laranjas para ocultar os recursos doados pelos seguidores da seita. O objetivo era esconder a existência de restaurantes, fazendas, lojas de autopeças, contas bancárias postos de combustível, entre outros comércios que, na realidade, pertencem aos líderes da Jesus, a Verdade que Marca.   Setenta mandados judiciais de sequestro de bens e veículos foram expedidos pela Justiça. Entre os bens confiscados inclui  modelos Toyota Hilux e SW4 e Mercedes-Benz, entre outros. Além de seis mandados de prisão e outros seis de busca e apreensão, outras 47 pessoas foram obrigadas a prestar depoimento de forma coercitiva.   Além de Minas, a ação dos federais ocorre em São Paulo e na Bahia. Os suspeitos devem ser indiciados pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, trabalho escravo, estelionato, tráfico de pessoas e falsidade ideológica.   A ação deflagrada hoje é um desdobramento da operação Canaã, de 2013, quando a PF em parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego e o Ministério Público do Trabalho descobriram uma série de irregularidades em inspeções nas propriedades rurais e algumas empresas ligadas a seita religiosa. O pente-fino foi realizado a partir de denúncias dos trabalhadores das fazendas. A expansão dos negócios da quadrilha começou por volta de 2003, conforme relatório do Ministério do Trabalho e Emprego. Só agora, no entanto, a PF conseguiu intensificar as investigações de lavagem de dinheiro.   “Com as investigações, restou apurado que os líderes e membros da “comunidade” instalada no Sul de Minas Gerais eram dirigentes e seguidores da então denominada Comunidade Evangélica: Jesus - a Verdade que Marca, fundada em São Paulo, no ano de 1998, pelo pastor Cícero Vicente de Araújo e atualmente denominada Igreja Cristã Traduzindo o Verbo. Verificou-se que os líderes da “comunidade” de fato haviam adquirido diversos empreendimentos e imóveis rurais e urbanos na região sul de Minas Gerais. O patrimônio, pago com recursos provenientes de doações não contabilizadas dos seguidores à Comunidade Evangélica: Jesus - a Verdade que Marca, não era, contudo, registrado como propriedade dessa comunidade”, diz trecho do relatório preparado pelo Ministério do Trabalho. O documento embasou a operação dos federais.     “Conclui-se, portanto, que tem havido uma constante expansão dos empreendimentos do grupo, tanto rurais quanto urbanos, que vem sendo construída através do labor de pessoas em situação de fragilidade social, que deixam suas moradias, desfazem-se de seus bens pessoais e passam a residir em propriedades do grupo e a laborar em seus empreendimentos econômicos (principalmente nas associações) sem qualquer direito trabalhista e previdenciário. Demonstrar-se-á neste relatório que a grande maioria foi aliciada com falsas promessas (o que caracteriza tráfico de pessoas para fins de exploração laboral) para laborar em condições análogas às de escravo”, descreve o documento.

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