Adolescente é impedido de entrar no clube do Cruzeiro por gritar 'Galo' e pais chamam polícia

José Vítor Camilo
19/09/2019 às 16:00.
Atualizado em 05/09/2021 às 21:50

Uma excursão escolar à Sede Campestre do clube Cruzeiro, na região da Pampulha, em Belo Horizonte, acabou virando caso de polícia na manhã desta quinta-feira (19). Os pais de um adolescente de 15 anos resolveram acionar a Polícia Militar (PM) após o filho deles ser impedido de entrar no local por ter gritado "Galo" no momento em que atravessava a catraca do estabelecimento. O estatuto do clube prevê, entre outras coisas, que nas dependências do clube é proibido usar camisas, tocar, cantarolar e, até mesmo, assobiar músicas de outras "agremiações esportivas". 

O registro da polícia indica que os pais chamaram uma viatura ao local, na rua das Canárias, no bairro Santa Branca, pouco depois das 8h. O pai, que não teve a idade divulgada, informou que recebeu um telefone do filho contando que foi barrado por ter gritado o nome do outro clube. Ele relata que, chegando ao clube, se dirigiu até os seguranças e teria sido surpreendido pela professora e a direção do clube "de forma agressiva, aos gritos", afirmando que ele era responsável por retirar o garoto do clube. 

Ainda de acordo com o relato do pai, a professora o teria provocado para que ele "perdesse o controle". Já a mãe disse ter sido agredida verbalmente por uma diretora do clube, que teria dito que "educação se dá em casa". Ainda de acordo com a PM, aos policiais o menor confirmou ter gritado, mas que tratava-se de uma brincadeira com o colega, tendo pedido desculpas e garantido que não aconteceria de novo, mesmo assim sendo informado pela professora que não entraria na excursão. 

Em um vídeo, publicado pelo pai do garoto nas redes sociais, é possível ver a funcionária do Cruzeiro dizendo: "Vocês têm mania de acreditar que educação vem dos professores, mas ela vem de casa. Seu filho está dentro do clube do Cruzeiro e vem gritar 'Galo'?". Em seguida, a mãe pergunta se ele não pode gritar o nome do time e recebe como resposta que não dentro das dependências do local, apenas na rua. 

Ainda conforme a PM, os pais do aluno solicitaram as imagens das câmeras de segurança do clube para "elucidação do fato". A reportagem do Hoje em Dia tentou contato com a família do adolescente, porém, até o momento ninguém foi localizado para comentar a confusão. 

Alunos foram orientados

Os militares também conversaram com a professora do colégio particular, que relatou que agendou para esta quinta um passeio para 100 alunos. Segundo ela, antes de sair, ainda em sala de aula, todos os estudantes teriam sido orientados que, por se tratar de um clube de pessoas que torcem para o Cruzeiro, lá dentro eles deveriam respeitar o ambiente e a rivalidade, não levando roupas do Atlético ou cantando músicas alusivas ao clube rival. 

Na versão da educadora, o menor teria gritado o nome do time no instante exato em que passou a catraca do clube, já estando nas dependências do local. Por isso, ele foi deixado na portaria com um outro funcionário enquanto aguardava a chegada dos pais, que foram acionados para buscá-lo. 

A PM também ouviu a funcionária do Cruzeiro que foi acusada pelos pais de agressão verbal. Ela disse que estava chegando ao trabalho quando presenciou o tumulto e viu a mãe discutindo com a professora do filho, respondendo os pais explicando que ele não poderia entrar por ter quebrado a norma do clube. 

O caso foi encaminhado para a Delegacia de Plantão de Venda Nova. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Cruzeiro informou que o time não comenta assuntos externos, relativos à Sede Campestre, porém, funcionários do clube afirmaram que uma nota formal será divulgada em breve à imprensa. 

O Estatuto 

O texto que estipula as normas do clube pode ser acessado na internet. Em seu artigo 59, ele prevê que, em suas dependências, é proibido: usar uniforme ou vestimenta alusiva a qualquer agremiação esportiva; manifestação pública ou ostensiva por outra agremiação esportiva; usar telefone celular, ou outro tipo de aparelho, programado com hino de outra agremiação esportiva; e, por fim, tocar, cantarolar, assobiar, ou solfejar hino de outra agremiação desportiva.

"A infringência ao disposto nos incisos deste artigo sujeita o associado ou dependente às penalidades previstas no art. 60.§ 2.º O convidado que infringir as mesmas normas será imediatamente retirado das dependências do Clube, sem prejuízo da aplicação de sanções ao associado que o convidou", determina o estatuto.

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