Afrodescendentes juntos para preservar a história

Alessandra Mendes - Hoje em Dia
20/11/2013 às 08:06.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:15
 (Frederico Haikal/Hoje em Dia)

(Frederico Haikal/Hoje em Dia)

Apesar de todas as dificuldades evidenciadas pelos índices de violência, que ainda apontam grande distinção entre vítimas negras e brancas, há que se registrar avanços na busca pela igualdade das raças.

Historicamente à frente na luta por esse objetivo, líderes de comunidades quilombolas em BH e região metropolitana trabalham com a ideia de propagar a valorização entre os pares. Missão que tem surtido efeito.

“É preciso se orgulhar das raízes. A verdade é que não existe esse negócio de pele. Todos somos feitos da mesma coisa e temos o mesmo valor”, afirma Antônio Maria da Silva, um dos filhos do fundador da Comunidade Quilombola dos Arturos, em Contagem.

A comunidade descende de Camilo Silvério da Silva que, em meados do século 19, chegou ao Brasil em um navio negreiro vindo de Angola. Do Rio de Janeiro, Camilo foi enviado a Minas para trabalhar em um povoado na Mata do Macuco, antigo município de Santa Quitéria, hoje Esmeraldas.

A questão, difundida entre os descendentes do escravo, não é fechar os olhos para o fato de o negro ainda ser alvo mais frequente de crimes violentos, mas considerar os ganhos provenientes da preservação da cultura.

Obstáculos

“O preconceito existe e sempre vai existir. O que devemos fazer é manter nossos costumes e procurar preservar nossa história. Quando vejo os meus oito filhos, 20 netos e nove bisnetos seguindo nesse caminho, sei que o recado foi dado”, avalia Antônio, um dos mais antigos moradores do quilombo, que abriga mais de 500 pessoas.

O maior problema é se manter ileso ao julgamento que toma como base, única e exclusivamente, a cor.

“Há uma diferença até no jeito de olhar, e isso não é fácil de explicar aos nossos filhos. A minha, por exemplo, já perdeu uma vaga de emprego por ser negra. Mas hoje já discutimos essa questão, o que é uma melhoria com relação ao passado”, avalia a líder da Comunidade Quilombola dos Luízes, na região Oeste de BH, Jorgina Nunes.
 
Segregação, a 1ª violência
 
Para o músico Rubens Luciano Alves, de 40 anos, o Doktor Bhu, a violência física começa com a segregação que os negros enfrentam até hoje. Ele teve dois primos – uma de 16 e o outro, de 24 anos – assassinados na guerra do tráfico.

A garota não tinha envolvimento direto com o crime, mas conhecia pessoas ligadas às drogas. Foi morta com um tiro na nuca em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de BH. O rapaz, viciado em crack, foi queimado na rua. “Essa violência é fruto de uma condição mal resolvida política e socialmente no país. A marginalização acontece, e a tendência é piorar a cada dia mais”, diz o músico.
 











 

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