Além de formação de quadrilha e racismo, skinheads podem responder por corrupção de menores

Ana Clara Otoni - Hoje em Dia
16/04/2013 às 11:24.
Atualizado em 21/11/2021 às 02:52

Antônio Donato Baudson Peret e Marcus Vinicius Garcia Cunha acusados de formação de quadrilha e racismo poderão responder também por corrupção de menores. A Polícia Civil está investigando se o filho de Marcus Cunha, que aparece em fotos postadas no Facebook dele, era incentivado a fazer saudações nazistas. Caso seja comprovado, os dois poderão responder por esse outro crime. O garoto que está prestes a completar 11 anos usava, em uma das imagens, uma cruz de ferro nazista no pescoço, ao lado do pai e de Donato, que trata a criança como "afilhado". Em outra fotografia o menino é carregado nas costas do pai e faz uma saudação nazista.

 

Imagens postadas no Facebook estão sendo investigadas pela polícia (Foto: Facebook/Reprodução)

Donato, Cunha e João Vetter foram apresentados nesta terça-feira (16) na delegacia de crimes cibernéticos, no bairro Carlos Prates, na região Noroeste da capital, pelos delegados Paloma Boson, Henrique Caneto e Vicente Ferreira Guilherme. Eles estão presos no Ceresp (Centro de Remanejamento de Presos) São Cristóvão, após o cumprimento de mandados de busca e apreensão e de prisão realizados no último domingo (14). Pelo crime de formação de quadilha a pena é de um a três anos de prisão, já pelo crime de racismo, o trio pode cumprir de um a cinco anos de reclusão.

Donato ficou conhecido depois de ter publicado uma imagem no Facebook, na qual aparece enforcando um morador de rua na região da Savassi. Os outros dois presos são amigos dele e também faziam comentários e publicações de cunho racista nas redes sociais. Cunha foi preso em casa, no bairro Mangabeiras, e não ofereceu resistência. Já Vetter, estava dormindo quando os policiais chegaram na casa dele, no bairro Carlos Prates. Foram apreendidos vários materiais na residência do jovem, de 20 anos. Fardas do Exército Brasileiro com a identificação dele (soldado Vetter), facas, touca ninja, soco inglês e um livro com a biografia de Adolf Hitler. Agora, a Polícia Civil tem sete dias para concluir o inquérito.

A delegada Paloma Boson explicou que a investigação sobre o caso do trio começou há uma semana, após divulgação na imprensa do caso de agressão a um morador de rua. "Reunimos essas postagens e estamos avaliando qual era a ligação deles com outros grupos que incitavam o racismo nas redes sociais", afirmou. Outras pessoas também estão sendo investigadas, mas não tiveram as identidades reveladas pela polícia. A casa de um dos suspeitos foi, inclusive, alvo de busca e apreensão de materiais no último domingo. Antônio Donato e Marcus Cunha estão presos preventivamente e não há prazo para que eles sejam libertados. Já Vetter cumpre uma prisão temporária, que tem o prazo de cinco dias, mas que pode ser prorrogada pelo mesmo período.

Veja imagens da prisão de Antônio Donato, em Americana, no interior paulista:

 


De acordo com a delegada, há mais de 10 boletins de ocorrência tendo Donato e Cunha como autores. A maioria deles por agressão física e ameaça. "Os alvos deles eram sempre homossexuais, hippies e negros. Há ocorrências registradas na Praça Raul Soares, Praça da Liberdade e na região da Savassi. Isso não significa que eles atuavam apenas nestes locais, porque o alvo deles eram essas pessoas, não importa onde elas estivessem", afirmou.

Os casos de agressões estão sendo investigados nas delegacias onde foram registradas e são apuradas paralelamente à investigação dos crimes cibernéticos. A delegada Paloma explicou que a polícia está analisando se o trio faz parte de algum movimento ou associação de cunho nazista, nacionalista ou racista. Em alguns sites com conteúdo de extrema-direita há a alegação de que eles se baseiam na Constituição Federal e no direito de liberdade de expressão para disseminar suas ideologias. A policial explicou, porém, que nenhum direito é absoluto. "Um dos fundamentos da Constituição é sobre a liberdade de expressão e manifestação, mas essas também encontram limites, o racismo, por exemplo, é crime", afirmou.

Várias postagens dos perfis de Donato, Cunha e Vetter foram anexadas ao inquérito policial com o intuito de comprovar os atos ilegais do trio. Em uma delas, Donato, incitando a violência se vangloriza aos amigos dizendo que o "soco inglês dele é o mais gasto", conforme a delegada Paloma. Em outra postagem, Cunha exibe uma pichação com a frase "Devemos cuidar do futuro de nossas crianças brancas" e uma suástica ao lado.

Há suspeita de que o trio se reunisse frequentemente na capital para discutir e difundir a ideologia nazista. A Polícia Civil quer saber agora com qual frequência esses encontros ocorriam e se Donato, Cunha e Vetter tinham uma logística para definir as vítimas das agressões.

Operação Bastardos

A ação que levou à prisão do trio foi nomeada "Operação Bastardos", em referência ao modo como os suspeitos se referiam aos policiais. Em uma delas, uma fotografia com as inscrições "A.C.A.B" foi postada no Facebook. A sigla, em inglês, quer dizer "All Cops Are Bastards" (Todos os policiais são bastardos, na tradução livre). A operação contou com investigadores da delegacia especializada em crimes cibernéticos, policiais da 1º Delegacia Sul e do Grupo de Respostas Qualificadas.

De acordo com o delegado Henrique Canedo, da 1º Delegacia Sul, para burlar a legislação brasileira, alguns sites são hospedados em países nos quais é permitida a divulgação de mensagens com teor nazista e racista. Ele destacou que o grupo mineiro que está sendo investigado é apenas uma das correntes skinheads. "Eles são de um grupo chamado skinhead white power, mas nem todos os skinheads são violentos ou contra a micigenação", afirmou.

O uso de armas brancas, como facões, facas e soco inglês era recorrente entre Antônio Donato e Antônio Vetter, conforme o delegado. Tanto que foram apreendidos com os dois facões, soco inglês e camisas com símbolos discriminatórios.

O delegado Henrique Canedo contou ainda há indícios de movimentos neonazistas em São Paulo e no Rio Grande do Sul. "Muitos jovens são atraídos por essas ideologias por serem pessoas carentes e sem estrutura familiar", afirmou.

Morador de rua agredido foi ouvido

 


Imagem postada na rede social de Donato causou revolta entre usuários no Facebook

 

O morador de rua Luiz Célio Damásio, de 42 anos, foi ouvido pela polícia e registou boletim de ocorrência contra Antônio Donato Baudson Peret, de 25 anos. Ele foi enforcado por Donato com uma corrente na região da Savassi, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Durante o relato aos policiais, Damásio contou que tentou se defender do agressor com a corrente, mas não conseguiu.

Uma imagem postada no perfil de Antônio Donato no Facebook foi a motivadora de toda a investigação. Ele aparece enforcando o morador de rua com uma corrente. Durante a apresentação nesta terça-feira, Donato disse que a prisão dele ocorreu devido a um "mal-entendido" e chamou a fotografia na qual aparece enforcando um morador de rua como "infeliz brincadeira". "O melhor a fazer agora é esperar o rapaz aparecer para ele confirmar que tudo foi uma brincadeira", contou. O que Donato não sabia, porém, é que o homem agredido foi ouvido pela polícia e registrou um boletim de ocorrência alegando ter apanhado de Donato.

De acordo com o delegado Henrique Canedo, Donato vai responder pelo crime de tortura racial. A expectativa da Polícia Civil é de que outras vítimas do skinhead se apresentem à polícia, após a divulgação das fotos dos suspeitos na imprensa. " A gente tem tido uma colaboração muito grande da sociedade civil, por meio do número 188. E isso tem sido importante para as investigações", afirmou.

Atualizada às 14h24.

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