Alerta contra febre maculosa rompe os limites da Pampulha e preocupa moradores da região Norte de BH

Simon Nascimento
05/06/2019 às 19:24.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:58
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

O alerta contra a febre maculosa ultrapassa os limites da Lagoa da Pampulha e de bairros da capital que fazem divisa com Contagem, na Grande BH. A doença, que tem taxa de letalidade de 40%, deixa apreensiva a população do conjunto Ribeiro de Abreu, na região Norte. Lá, dois moradores foram picados por carrapatos e estão com suspeita da enfermidade. Até o momento, 31 casos são investigados na metrópole.

O temor se dá pela presença de capivaras às margens do Ribeirão do Onça. O roedor é o único hospedeiro responsável por transmitir a bactéria rivkettsia rickettssique, que causa a doença. No entanto, cavalos, bois e vacas, que podem transportar o parasita, também são comuns no bairro. Uma agente municipal de endemia da região informou que carrapatos estão sendo recolhidos para análises.

Quem já foi picado aguarda com ansiedade pelo resultado de exames. É o caso do aposentado Geraldo dos Reis, de 76 anos. Na semana passada, ele retirou dois carrapatos da barriga. Desde então, teve febre alta, dores nas pernas, náuseas e perda de apetite, principais sintomas da febre maculosa. “Estou com medo. Agora não adianta mais lamentar. É só torcer para que não seja nada. Já estava com dengue e esse bicho me derrubou”, conta o idoso, que já iniciou o tratamento à base de antibiótico.Lucas Prates

“Tem que tirar esses animais daqui porque estamos assustados, com medo”, diz Gabriel Félix

O mesmo drama é vivido por uma mulher de 61 anos que pediu para não ser identificada. Também na semana passada, ela encontrou um carrapato na perna e começou a apresentar os sintomas da enfermidade. “Rezo para que não seja nada. A gente está mais velho e fica com medo de doenças assim”, lamentou. “Aqui está cheio de capivara, cavalo”.

Pela ruas do Ribeiro de Abreu, há moradores que se dizem tranquilos e acostumados com a presença dos roedores. Outros, porém, cobram ações mais rigorosas, como o aposentado Gabriel Félix dos Santos, de 58 anos. Ele mora distante do Ribeirão do Onça, mas passa próximo ao curso d’água diariamente. “Se tem capivara, vai ter o carrapato. Tem que fazer igual na Pampulha e tirar esses animais daqui porque estamos assustados, com medo”. 

Até novembro

Mais comum entre junho e novembro, quando a população de carrapato-estrela aumenta devido ao ciclo de vida da espécie, a febre maculosa tem sintomas semelhantes aos da dengue. Por isso, a atenção deve ser redobrada, diz a vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Virgínia Antunes.

Segundo ela, pessoas que têm contato com áreas perto de matas ou lagoas e no meio rural devem reforçar os cuidados. “Usar roupas longas, botas, meia por cima da calça. É preciso ficar atento aos locais onde os animais frequentam, especialmente em época de frio, porque os carrapatos podem ficar, inclusive, no meio das plantas”, alerta.

Áreas com notificações são monitoradas na capital

Todos os locais onde foram notificados casos suspeitos de febre maculosa são monitorados, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte. A administração municipal não revelou qual regional da cidade está em situação mais delicada sob a justificativa de não alarmar a população. Entretanto, o órgão está aplicando carrapaticidas nos cavalos de carroceiros cadastrados junto ao Executivo. Ações de capina também são desenvolvidas.

Subsecretário de vigilância e promoção de saúde de BH, Fabiano Pimenta explica que é importante o paciente não fazer automedicação em caso de sintoma de febre maculosa. Os 31 casos suspeitos, segundo ele, estão dentro da média histórica. “A primeira ação é ir direto ao centro de saúde”, reforça Fabiano.

O gestor também pede à população para redobrar os cuidados ao visitar áreas que podem ter carrapatos. “O ideal é usar uma roupa mais clara que deixa mais fácil a identificação. Além disso, colocar a calça dentro da meia e redobrar a atenção no banho depois de retornar destes locais”.

Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, o trabalho com as capivaras foi feito exclusivamente com os bichos da Lagoa da Pampulha devido à confirmação da presença da bactéria transmissora da doença. Os roedores foram capturados, esterilizados e receberam carrapaticida. Depois, foram soltos novamente na região. 

A Secretaria de Meio Ambiente não foi notificada sobre a presença do parasita em outras localidades da capital. “Caso isso ocorra, será feito um estudo para viabilizar providencias a serem tomadas”, diz nota enviada. 

Situação em Contagem

Além da confirmação de duas mortes provocadas pela febre maculosa, Contagem ainda investiga outros dois óbitos que podem ter sido provocados pela doença. A cidade da Grande BH já admitiu que enfrenta um surto. Todos os 32 casos suspeitos são de moradores da região do distrito Nacional. As pessoas teriam participado de um mutirão de capina no bairro Vila Boa Vista. No total, 128 moradores entraram na mata.

A Defesa Civil isolou a área e apenas pessoas cadastradas podem acessar o local. Além disso, a Secretaria de Saúde aplicou carrapaticidas na região e nas casas próximas. Uma unidade móvel de saúde também foi montada na região. A prefeitura já aplicou oito toneladas de cal no terreno na tentativa de matar o parasita.

Letalidade e exames

De 2014 até este ano, 145 notificações da doença ocorreram em Minas, com um saldo negativo de 59 óbitos. Em relação aos prazos de análises laboratoriais para o diagnóstico da febre maculosa, a Fundação Ezequiel Dias (Funed) informou que sete dias são necessários para liberar concluir os exames de sorologia.N/A / N/A

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