Alerta ligado para a relação com doenças na puberdade

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
07/09/2015 às 07:36.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:40

O surgimento dos sinais que referenciam a idade adulta parece uma boa notícia para quem quer virar gente grande. Mas, nem sempre, as transformações devem ser encaradas como positivas. Mudanças na estatura, aparecimento de acne e corpo mais robusto, por exemplo, precisam soar como alerta quando aparecem cedo demais. As alterações no corpo, causadas pela ação dos hormônios, são a manifestação da puberdade. Precocemente, elas denotam um problema de saúde. Dez vezes mais comum entre as meninas, a chegada prematura da maturidade física e, consequentemente, sexual, também pode ser desencadeada por alterações no Sistema Nervoso Central (SNC). Motivo pelo qual investigá-la torna-se ainda mais importante e urgente. "A puberdade precoce de origem central é provocada por afecções do SNC, como tumores, inflamações ou doenças que afetam a atividade cerebral. Já a do tipo periférico é ocasionada por distúrbios que acometem ovários e testículos”, explica a pediatra Marília de Freitas Maakaroun, especialista em adolescentes (hebiatra) e professora da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais. Primeiros sinais No sexo feminino, os primeiros sinais são o surgimento do broto mamário (telarca), espécie de “carocinho” na região das mamas, e da primeira menstruação, a menarca. Já nos meninos, a puberdade precoce – antes dos 9 anos – chega com o aumento do volume dos testículos, com o crescimento do pênis e aparecimento de pelos na região pubiana e nas axilas. Além das manifestações físicas, o diagnóstico do problema é realizado a partir do histórico clínico da criança, de testes complementares, como a dosagem hormonal, e de exames de imagem para avaliar se a idade óssea da criança é compatível com a cronológica. Além de gerar impactos físicos e estéticos, a antecipação da vida adulta pode ter implicações psicológicas. “O corpo físico está absolutamente ligado aos processos psicológicos e sociais”, avalia o psicólogo e psicanalista Jacques Akerman, professor na Universidade Fumec, em Belo Horizonte. Menstruação antes do tempo compromete o crescimento Segundo o endocrinologista pediátrico Luis Eduardo Calliari, professor da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, meninas que tiveram a primeira menstruação antes dos 8 anos continuam a se desenvolver somente até os 10 ou 11. Enquanto isso, as que apresentam a menarca na idade ideal mantêm o crescimento físico por até mais três anos, ou seja, até completarem 14. “A menstruação é a fase final do desenvolvimento da menina. Depois disso, ela só cresce mais três a cinco centímetros. Por isso, é importante detectar o problema e bloquear a ação dos hormônios para que a criança não fique menor que as outras da mesma idade”, explica. O tratamento é simples, com injeções que podem ser aplicadas mensalmente ou a cada três meses. A medicação bloqueia a ação dos hormônios responsáveis pelas mudanças físicas agindo na hipófise – glândula localizada na base do cérebro e que exerce ação reguladora de várias outras –, bloqueando a produção hormonal até que se chegue à idade correta para o desenvolvimento. Mais frequente A hebiatra Marília de Freitas Maakaroun observa que o problema tem sido, historicamente, cada vez mais comum. Segundo ela, no início do século 20 a menarca ocorria em torno dos 17 anos, quando as meninas pesavam em média 45 quilos. Hoje,de acordo com a especialista, a primeira menstruação costuma chegar aos 12 anos, com as crianças apresentando o mesmo peso. “Avanços importantes na medicina contribuíram para o conhecimento e controle das doenças de um modo geral. Mas a exposição à luz artificial, dia e noite, em função das atividades cotidianas afetadas, e a mídia televisiva, com programas eróticos, também podem deflagrar essa condição”, afirma Marília Maakaroun. Possibilidade do surgimento de 48 tipos de problemas de saúde Meninos e meninas que entram na puberdade muito cedo ou tardiamente têm mais chances de desenvolver 48 tipos de problemas de saúde quando alcançam a idade adulta. Um estudo feito pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, analisou os registros de saúde de 50 mil pessoas e descobriu que a idade do início da puberdade estava associada ao aparecimento de doenças como a Síndrome do Intestino Irritável, artrite, glaucoma, psoríase, depressão e até alguns tipos de câncer. Para o estudo, foram definidas como precoces as meninas que menstruaram entre 8 e 11 anos. Como puberdade tardia, casos em que a menarca chegou após os 15. No caso dos meninos, considerou-se como prematuras alterações na voz notadas entre 9 e 14 anos. Os resultados indicaram que homens e mulheres que entraram muito cedo na puberdade apresentaram um risco 50% maior para o diabetes tipo 2 e para doenças cardíacas. Já no caso de puberdade tardia, foi observado o aumento do risco para problemas respiratórios como a asma. Amadurecimento sexual ligado ao Excesso de peso nos primeiros anos de vida Quanto maior a velocidade de crescimento e o peso nos primeiros anos de vida – especialmente com um ano e meio e aos três anos e meio –, maior o risco de a primeira menstruação ocorrer antes dos 12 anos de idade. O dado é de uma pesquisa da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), no Rio Grande do Sul, que acompanhou cerca de 2 mil mulheres desde o nascimento. Mais de 20% menstruaram antes dos 12 anos A explicação, segundo os pesquisadores, é que o excesso de peso sinalizaria para o cérebro que a criança é mais velha e que já estaria na hora de enviar os sinais para que o corpo dela iniciasse as transformações. Outra conclusão apresentada pelos estudiosos é que o tecido gorduroso produzia e transformava os hormônios que estimulam o amadurecimento sexual e, desta forma, antecipavam os sinais da adolescência e entrada na vida adulta. Sal em excesso prejudica início da puberdade e afeta fertilidade Pesquisa norte-americana mostrou que o consumo exagerado de sal pode retardar a puberdade e afetar a fertilidade. Segundo o estudo, pessoas que extrapolam os cinco gramas por dia, recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), podem demorar a chegar à vida adulta e ainda sofrer reflexos negativos na fertilidade. Editoria de Arte

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