Anastasia afirma que decisão sobre o Senado é dos aliados

Ricardo Corrêa - Hoje em Dia
25/11/2013 às 07:31.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:21
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

O governador Antonio Anastasia não admite. Mas quem o conhece e entende dos bastidores da política dá como certa sua saída do Palácio Tiradentes antes do fim do mandato. De qualquer forma, ao dizer que a decisão de disputar a eleição para o Senado não depende dele, mas dos aliados — como ele afirma nesta entrevista exclusiva ao Hoje em Dia — Anastasia está praticamente assumindo publicamente sua condição de candidato. Afinal, nada é mais claro no projeto do PSDB de se manter à frente do governo de Minas Gerais e, ao mesmo tempo, tentar levar o senador Aécio Neves para a presidência da República do que o papel que o governador pode desempenhar como puxador de votos. Confirmada a saída antecipada, ele completará quatro anos como governador. Pouco tempo para um governante concluir seus projetos, como ele destaca ao defender mandatos de “ao menos cinco anos”, sem reeleição. Se as melhorias de gestão são um orgulho, os desafios se acumulam na reta final do mandato. Melhorar os índices de segurança e destravar uma economia ainda dependente do café e da mineração são dois deles. Problemas que fazem o governador afirmar que o ônus do cargo é maior do que o bônus. “Realizo o que posso, de maneira íntegra. Trabalho feito um condenado, mas não consigo resolver todos os problemas”, admite Anastasia, na entrevista que você confere agora:

O horizonte do senhor no governo é para quatro meses (até março, caso venha a ser candidato) ou para um ano e dois meses?
Sob o ponto de vista político, é claro que meu horizonte é o final do ano que vem. E, se por ventura, as circunstâncias nos levarem a deixar o governo no final de março do ano que vem, o vice-governador, que está conosco de modo siamês, pois temos aqui um trabalho muito harmonioso, vai, claro, no estilo próprio, concluir com muita adequação os projetos do governo.

Há alguma semelhança entre esse momento de se decidir por uma candidatura ao Senado e aquele momento quando o senhor teve de ser vice-governador lá atrás ou de assumir o governo e ser candidato à reeleição?
Não. São circunstâncias muito distintas. Hoje eu não posso ser reeleito, porque já o fui. Então, nosso partido e as forças que nos apoiam vão ter um candidato, cujo nome ainda não está definido. Então, nós teremos essa definição, uma vez feita essa definição, primeiro do governador, depois do vice, aí vai para o Senado. Ninguém é candidato por si mesmo. Eu, da mesma forma que não pleiteei ser candidato a vice-governador ou governador, também não pleiteio ser candidato ao Senado da minha cabeça, de uma vontade, por uma questão voluntária. Mas vai depender da decisão do grupo. Agora, isso vai resolver só depois de ter candidato a governador e a vice-governador e ouvir esses partidos todos que compõem a nossa base. Nós precisamos deles todos.

No caso do candidato a governador, dá para dizer hoje que só há dois nomes na disputa?
É. Na realidade, a crônica política mais ou menos apresenta que hoje nós temos dois que mantêm assim mais viva a questão. O presidente do partido, Marcus Pestana, e o ex-ministro Pimenta da Veiga. Mas isso não quer dizer que outros que postularam, como o presidente da Assembleia (Dinis Pinheiro), ou o vice-governador (Alberto Pinto Coelho), estão descartados. Isso em nenhuma hipótese podemos dizer.

Em 2014, qual a prioridade? É vencer a eleição para o governo de Minas ou erguer a candidatura do senador Aécio Neves no âmbito nacional? Isso implica em viajar mais pelo país com o senador ou viajar mais por Minas com o candidato a governador. É difícil fazer as duas coisas.
É. Ninguém tem o dom da ubiquidade. Ninguém tem o dom de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Só Santo Antônio. O que nós temos em Minas são duas prioridades claras. E elas não se colidem. Ao contrário. Elas se complementam. O objetivo é ter uma vitória expressiva em Minas para o senador Aécio, com uma frente muito expressiva, como também, evidentemente, ganhar o governo do Estado e manter o Senado e a votação que nós temos com nossos partidos aliados na Câmara e na Assembleia. É possível isso? Sim. Pois, no momento que você percebe que vem aquele momento bom, vem um turbilhão positivo. E você consegue essas votações.

É mais difícil governar em um ano eleitoral?
No último ano afunilam as entregas. Então, acaba que é um ano que, em primeiro lugar, você tem uma dificuldade maior, pois a lei eleitoral restringe muito, o que eu até critico. Faço aqui um parêntesis: eu acho muito grave e sempre defendi a coincidência eleitoral, por vários motivos, inclusive por isso. Pois em quatro anos de mandato você tem dois anos inteiros que você tem impedimentos rígidos. Então, você tem dificuldades de governar.

O que o senhor achou do projeto de reforma política construído pelo grupo setorial na Câmara, com fim da reeleição, mantendo o mandato de quatro anos?
Eu acho que nós deveríamos ter mandatos mais longos. Quatro anos é pouco, mas sem reeleição. Cinco... Talvez seis seja um exagero, mas com coincidência de mandato e sem reeleição. Coincidência total no Legislativo, Executivo, nos âmbitos municipal, estadual ou federal. Ou, se for de seis anos o mandato, pelo menos fica (a limitação do ano eleitoral) de três em três, já é um espaçamento maior. Agora, de fato, de dois em dois, como é hoje, eu sou testemunha aqui do que acontece. Todo mundo acompanha o que acontece, parlamentares, secretários, as organizações não-governamentais... Se no dia 15 de janeiro uma enchente destruir uma creche numa cidade do interior mineiro, levar tudo embora, eu não posso doar bem para aquela creche. É o que a lei me proíbe.

O senhor fez uma reforma administrativa, que inclui extinção de cargos, o que o governo federal não tem conseguido fazer, às vezes por pressão da base. Como foi trabalhar isso?
É evidente que, no momento em que nós temos um enxugamento, todas as pessoas se queixam. É normal. Tira isso, tira aquilo, diminui cargo, mas é necessário. Então acho que as pessoas têm a compreensão, o bom senso e a solidariedade de perceber que são medidas importantes para o próprio desenvolvimento do Estado e a própria base vê com bons olhos.

O senhor diz que isso é preciso para que sobre recursos para investir. Na área da segurança pública, que registrou aumento de investimento, o senhor fez mudanças, trocou o secretário, mas os dados de criminalidade não cederam. O que tem ser feito para vencer esse desafio?
De fato, nós aumentamos, segundo dados do Forum Brasileiro, em 19% os investimentos na área de segurança pública, aumentamos efetivos, nunca nomeamos tantos delegados, fizemos concursos das polícias. Em equipamentos foram R$ 600 milhões, aumentamos o número de penitenciárias, mas, lamentavelmente, ainda, e você tem razão, não houve uma reação. E aí são vários os fatores. Lamentavelmente, o Brasil hoje vive uma sociedade violenta. Está no nosso dia a dia a questão da violência. Nós não temos aqui uma cultura de paz. Então, é um processo que talvez demore um pouco. Muitas vezes não adianta nem melhorar a estatística. Basta ter um caso para que a sensação subjetiva de insegurança fique muito grande. Nós temos que melhorar o sentimento das pessoas através de uma sociedade de paz. Lamentavelmente, na origem de 80% do problema, está o tráfico de drogas. No caso de homicídios, que é sempre um crime mais odiento, nós temos cerca de 70%, 75% vinculados ao tráfico. Temos aí uns 20% de passional, que não tem como o poder público fazer prevenção, a não ser quando há uma acusação, uma ameaça, e um percentual pequeno, mas que é o pior, que é o latrocínio. O latrocínio não chega a 10%. Todo homicídio é repugnante, mas esse é o que mais fere a sociedade, que é matar para roubar. Então, o que precisamos é um clamor nacional para que os três níveis de governo: federal, estadual e municipal – e o federal entra um pouco, mas entra menos do que deveria, pois o recurso está lá e o tráfico de drogas e de armas não depende do estado e as rodovias federais são fiscalizadas por eles – invistam. E, é claro, um processo permanente de prevenção. Melhorando a questão cultural das crianças. Nós temos um programa muito bom da Polícia Militar, o Proerd, de alerta da questão das drogas. Então, essa tentativa de maturidade é que é importante. Agora, é claro que as medidas tradicionais são fundamentais. Aumentarmos ainda mais o efetivo. Aumentamos 19% a despesa e não há como aumentar mais. Precisamos equipar ainda mais. Então, de fato, não é um processo fácil.

Em relação à área da saúde, o Hoje em Dia destacou recentemente o caso de 130 instituições médicas que, por problemas de gestão, acabaram fechando as portas. Como o Estado pode contribuir para impedir que essas unidades fechem, o que afeta toda a saúde do Estado?
Esse fato corrobora aquilo que tem sido o nosso mantra. Que um grande problema brasileiro é o da gestão. Tanto pública como privada. Nós estamos falando de unidades privadas. O problema de gestão está em todo os setores. O exemplo das unidades filantrópicas é triste. Pois elas recebem os recursos, tanto de doações como os recursos públicos expressivos e, por má gestão – e quando eu falo má gestão não estou dizendo que há desvio de dinheiro, má fé ou corrupção, é incompetência, ineficiência, incúria no sentido geral da expressão, ausência de práticas, de resultados –, aquilo leva à bancarrota.

Nós falamos tanto de desafios, problemas, de quanto o Estado precisa estar agindo o tempo todo que eu pergunto: o senhor é mais feliz hoje, sendo governador, do que era antes?
Eu aprendi quando era criança, eu tinha uma madrinha, a Martinha, que falava assim: “a felicidade se reproduz em momentos felizes”. Não existe o estado permanente de felicidade. Eu acho que ninguém é plenamente feliz 24 horas por dia. Não acredito muito, mas pode ser que tenha alguém nesse nirvana, nesse “valhalla” de felicidade. Agora, temos momentos felizes. O exercício do cargo de governador, para uma pessoa que tem o meu perfil, que tem um senso de responsabilidade muito agudo, claro que o ônus é muito grande. Digamos que o ônus é maior do que o bônus. Porque os problemas são muitos, as preocupações são muito grandes. É natural que você tenha muitos aborrecimentos, existe muita incompreensão, muito desconhecimento. Mas, por outro lado, também tem os momentos bons, em que você consegue realizar. Eu respondo à sua indagação dizendo que, antes de ser feliz, eu tenho uma coisa que me dá muita felicidade: eu tenho a consciência tranquila. Porque realizo o que posso, de maneira muito íntegra, com muito esforço, trabalho feito um condenado, mas é claro que não consigo resolver todos os problemas, porque o universo de problemas é muito grande. Agora, eu tenho muita felicidade também de ter sido escolhido pelo povo do meu Estado para governá-lo, que é uma honra que no máximo 25 pessoas no século conseguem. De fato é um trabalho muito desgastante, com muitas incompreensões. No Brasil, acham que o governo pode tudo, o que é uma mentira. As pessoas acham que o governador pode tudo, como naqueles regimes da idade média. Ao contrário. Hoje, felizmente, o poder do Executivo é muito limitado. Quando eu falo governador, é prefeito, o presidente da República também. Nós somos extremamente enquadrados dentro de possibilidades. Apesar disso, eu recebo aqui demandas de pessoas bem intencionadas, que pedem o impossível, o dia inteiro. E não compreendem que eu não posso atender. Então, é esse o quadro.
 

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