Após dez anos do lançamento do Fome Zero, pouco mudou em Itinga

Do Hoje em Dia
25/09/2012 às 06:14.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:33

É desalentador o retrato de Itinga mostrado por este jornal. Considerado o município mais pobre de Minas, ele foi escolhido pelo presidente Lula como símbolo do programa Fome Zero. Em janeiro de 2003, o presidente, acompanhado de vários ministros e do governador Aécio Neves, esteve na cidade para lançamento do programa e prometeu muito aos moradores. Passados quase 10 anos, pouco mudou ali.

De fato, houve mudança do nome do programa, para Bolsa-Família, cujos recursos estão sendo mal empregados em Itinga, que tem como prefeito um petista. Aécio Neves, que ouviu do presidente Lula a promessa de que trabalhariam juntos para melhorar as condições de vida das populações pobres, incluiu Itinga no Programa Vida no Vale, para levar água e esgoto aos moradores.

Em abril de 2010, depois que a Fundação João Pinheiro divulgou que Itinga continuava sendo a pior cidade mineira para se viver, o prefeito disse que em breve 100% das residências teriam água e esgoto e que nos últimos anos tinham sido construídas cinco escolas-núcleo e inaugurado um conjunto habitacional com 57 casas. Porém, o único hospital da cidade, que Lula prometera reformar, continuava fechado.

Em 2011, a Controladoria Geral da União fiscalizou Itinga e mais 13 municípios mineiros e em todos encontrou irregularidade na aplicação de recursos federais. Para Itinga, três ministérios destinaram R$ 6,9 milhões, inclusive para a merenda escolar dos 1,8 mil estudantes. Pois a prefeitura gastou em dois anos, sem licitação, R$ 3,7 milhões para a merenda, que consiste apenas de sopa de macarrão com água ou arroz, preparada sem qualquer higiene.

Itinga pode ser o mais pobre – sua renda per capita é de apenas R$ 3,5 mil por ano – mas não se destaca muito de outros municípios do Vale do Jequitinhonha, que se tornou conhecido como “Vale da Miséria”. É uma região rica de recursos naturais, mas dominada por um sistema econômico e político arcaico. É um tradicional sorvedouro de recursos públicos que não melhoram a vida da maioria mais pobre.

Um dos ministros que acompanhavam o presidente Lula a Itinga era José Dirceu, da Casa Civil, um dos réus do mensalão, que em discurso reforçou a importância de o Congresso Nacional “aprovar medidas para retomarmos o desenvolvimento”. Se um dia ele for preso, vai ficar mais difícil para prefeitos e políticos em geral desviar dinheiro público confiando na impunidade.

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