Após morte de servidor da saúde por Covid, sindicato diz que há sobrecarga de trabalho nas UPA's

Anderson Rocha
@rochaandis
27/07/2020 às 16:35.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:08
Originária de projeto de lei de iniciativa parlamentar, norma visa dar mais transparência à prestação do serviço (PBH/divulgação)

Originária de projeto de lei de iniciativa parlamentar, norma visa dar mais transparência à prestação do serviço (PBH/divulgação)

Após a primeira morte de um servidor da saúde municipal devido à Covid-19 em Belo Horizonte, ocorrida na UPA Barreiro nesse domingo (26), o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de BH (Sindibel) afirmou nesta segunda-feira (27) que os trabalhadores estão sobrecarregados, as UPA's superlotadas e cobrou a abertura do Hospital de Campanha no Expominas.

De acordo com Israel Arimar, presidente do Sindibel, o número de notificações pela doença causada pelo novo coronavírus em servidores municipais passou de 130 no fim de junho para 299 nesta segunda - um aumento de 130% em 27 dias.

"A avaliação que o sindicato faz é que esse crescimento se deve ao avanço natural da epidemia, mas também que há uma sobrecarga de trabalho nas UPA's na capital. UPA não é hospital. Tem leitos, respirador, mas são espaços apertados", afirmou Arimar. 

O gestor explica que os pacientes chegam às UPA's e as transferências dos casos de Covid-19 para hospitais de referência da doença, como o Hospital Júlia Kubitschek, no Barreiro, ocorrem com demora, o que expõe os trabalhadores à doença.

Além disso, Arimar afirmou que os servidores afastados não são substituídos devido à dificuldade de contratação, o que sobrecarrega "ainda mais quem está na linha de frente, aumentando a possibilidade de contaminação".

Só na UPA Barreiro, unidade onde trabalhava o técnico de enfermagem Gerônimo Batista Pires, que faleceu nesse domingo, 30 dos 200 integrantes da equipe já precisaram ser afastados devido à doença desde o início da pandemia.

Segundo Arimar, a situação é recorrente em outras unidades, como a UPA Norte, que já registrou 10 trabalhadores com suspeita da doença no mesmo período. O sindicato não tem o número de quantos servidores estão afastados no momento em BH devido à Covid. A reportagem pediu o dado à PBH e aguarda retorno.

"Enquanto o Hospital de Campanha fica vazio, porque o protocolo é de receber apenas pacientes estabilizados, as UPA's estão superlotadas. Estamos cobrando não só da prefeitura [de Belo Horizonte], mas do governo do Estado e do Ministério da Saúde, que falta uma coordenação mais geral nessa questão da pandemia", disse.

Outro lado

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Barreiro está funcionando em plena condição material e de pessoal, com equipamentos, quadro de funcionários completo e seguindo todas as orientações técnicas de segurança para o combate ao novo coronavírus. "Os trabalhadores das Upas receberam capacitação para atendimento de casos de Covid-19. Eles foram treinados para os procedimentos de uso correto de EPIs, de forma a garantir tanto a segurança dos pacientes quanto dos trabalhadores".

Além disso, a pasta disse que todos os agentes lotados na Saúde com sintomas da Covid-19 são testados, assim como aqueles assintomáticos com contato domiciliar da doença.

Ainda conforme a SMSA, desde maio há casos de trabalhadores confirmados para Covid-19 na unidade. "O protocolo definido pela Secretaria Municipal de Saúde e adotado pelas unidades de saúde determina que os profissionais que apresentarem pelo menos dois dos seguintes sintomas: febre, calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, perda de olfato e perda de paladar, iniciado nos últimos 07 dias, devem realizar a coleta de amostra para exame RT-PCR. Esses profissionais são afastados imediatamente do trabalho e permanecem isolamento domiciliar".

Sobre o excesso de trabalho dos profissionais, a secretaria esclareceu que desde março até o dia 3 de julho, 487 profissionais tiveram a jornada de trabalho ampliada temporariamente, para dar maior suporte ás unidades de saúde. "Além disso foram contratados 1.171 profissionais, dos quais 311 profissionais para aberturas ou ampliações de serviços, 440 profissionais para recomposição de equipes e 420 ampliações temporárias de jornada. E, estão em andamento, mais 302 contratações para essas frentes de ações. Desses profissionais, 264 foram destinados às Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s)".

A secretaria informou também que mantém diálogo constante com o sindicato. 

Já a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) informou que tem trabalhado para ampliar o número de leitos em todo o Estado. "A taxa de ocupação de leitos segue sob controle no Estado, com ocupação geral de 67,12% dos leitos de UTI e de 58,16% dos leitos de enfermaria. Na macrorregião Centro, que engloba Belo Horizonte e as cidades da Região Metropolitana (RMBH), a taxa de ocupação dos leitos de UTI está em 78,03%, e a de leitos de enfermaria está em 70,89%, diz o comunicado. 

Quanto ao questionamento sobre o Hospital de Campanha, a SES disse que a unidade é uma reserva técnica, com conceito de hospital de “porta fechada”, ou seja, "será utilizado apenas após deliberação da Secretaria Estadual de Saúde (SES), a qual detém a regulação dos leitos no estado de Minas Gerais. Apenas será encaminhado ao Hospital de Campanha o paciente que estiver em condições de receber alta dos leitos dos hospitais da Rede Fhemig".

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