Após Santa Tereza, bairro de grande relevância histórica pode ser tombado

Renato Fonseca - Hoje em Dia
07/03/2015 às 07:45.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:15

Berço dos imigrantes recém-chegados a BH, primeira zona boêmia da cidade, inspiração para nome de copo de cerveja e responsável por abrigar imóveis históricos, remanescentes da ocupação da capital. Construído nos primórdios da nova metrópole, o bairro Lagoinha, na região Noroeste, é o próximo na lista dos conjuntos coletivos a serem tombados em Belo Horizonte.
A exemplo de Santa Tereza, oficialmente protegido nesta semana, conforme decisão do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município – antecipada com exclusividade pelo Hoje em Dia –, a Lagoinha poderá contar com uma série de restrições para evitar a verticalização.
A medida também promete preservar edificações datadas desde a década de 1920, construídas em variados estilos como Art Déco, eclético e modernista.
Segundo o presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Leônidas Oliveira, as diretrizes sobre o tombamento do bairro ainda dependem de estudos. A proposta, reforça ele, é definir as regras em conjunto com a comunidade. “A ideia é preservar edificações históricas, avaliar as manifestações culturais – como a festa da padroeira–, o ofício de restauradores de mobiliário, dentre outros. Acreditamos que esse será mais um passo na direção da revitalização da Lagoinha”.  
A revitalização, lembrada por Oliveira, é o maior clamor da população. A possibilidade de tombamento coletivo pode até dividir a opinião dos moradores. Porém, todos são unânimes em cobrar, primeiro ou em conjunto, a requalificação da Lagoinha.
A região passou, nas últimas décadas, por grandes transformações. Mazelas sociais e urbanísticas, como espaços públicos deteriorados pelo tempo ou ação de vândalos, lançam alerta para a necessidade de melhorias.
URGENTE
“Praças, vias públicas e imóveis históricos precisam de obras urgentes. Essas são as prioridades do bairro”, destaca a moradora e presidente do Movimento Lagoinha Viva, Teresa Vergueiro.
Segundo ela, somente após a tão sonhada intervenção urbana será possível se pensar em tombamento. “Além disso, a vontade da população deve prevalecer. É preciso uma ampla divulgação do que seria essa preservação. O direito de cada morador, em aceitar ou não a medida, deve ser respeitado pela prefeitura”, acrescenta Teresa.  
Assim como já ocorre em outros locais tombados pelo Conselho do Patrimônio de BH, quem concordar com o processo pode solicitar isenção de IPTU e obter recursos para restauração por meio das leis de incentivo à cultura.
Também proprietário de um imóvel na região, o professor da Escola de Arquitetura da UFMG, Leonardo Castriota conhece como poucos os problemas do bairro. Sempre à frente de estudos sobre a região, ele acredita que tombamento e revitalização são projetos importantes e que podem andar de mãos dadas. “Preservar a Lagoinha é proteger importante história de Belo Horizonte”.   Deterioração dos casarões da região entristece moradores   Oito imóveis estão tombados, atualmente, na Lagoinha. As casas e os sobrados ficam nas ruas Além Paraíba, Bonfim, Itapecerica e do Serro. A proteção legal, porém, não é sinônimo de preservação. A maioria das residências não está em bom estado de conservação.
Dois casarões, ambos na rua Itapecerica, clamam por socorro. As fachadas estão prestes a ruir. Não há teto, janelas estão quebradas, e, pelas aberturas nas paredes, é possível ver a deterioração do piso. Mesmo com os incentivos fiscais oferecidos para o restauro, a responsabilidade é dos donos.  
A reportagem tentou contato com os proprietários, mas apenas uma antiga herdeira foi encontrada. Por telefone, ela não quis falar sobre o assunto. Entre os vizinhos, o sentimento é de tristeza pelo atual estado não só dos imóveis, mas de toda a região. “Vim para cá em 1970. Todas as casas dessa rua (Itapecerica) eram históricas. Ainda sonho em ver tudo isso lindo como antes”, disse o comerciante Manoel Almeida, de 63 anos. Mas também há exemplos de que é possível cuidar do bem tombado. Há três anos, o empresário Diego Rodrigues, de 32 anos, aluga uma casa com proteção especial na rua do Serro. Por fora, o casarão da década de 1930 está impecável, com a fachada preservada e recém-pintada. As medidas garantem a ele a isenção anual do IPTU.
Próximo dali, na rua Adalberto Ferraz, a aposentada Rosita dos Santos, de 76 anos, sonha em ver a casa tombada como patrimônio de BH. Morando na residência há exatos 52 anos, ela teme por novas vertica-lizações. “Muito já se perdeu. O que ainda resta precisa do nosso carinho e atenção”, afirma dona Rosa, como é conhecida por familiares e amigos.
SÓ EM 2016
A possibilidade de revitalização da Lagoinha existe. Mas, na melhor das hipóteses, não sairá do papel antes de 2016. A projeção foi feita pela própria Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).
Em nota, a assessoria da administração municipal informou que o Plano Diretor atual definiu áreas para a realização de Operações Urbanas Consorciadas (OUCs). O bairro da região Noroeste está inserido em uma delas.  
As discussões sobre projetos de requalificação foram iniciadas no segundo semestre de 2014, mas a regulamentação das propostas só deve ocorrer em dois anos. Conforme a PBH, a revitalização considera melhorias em calçadas, travessias para pedestres, iluminação, paisagismo, arbori-zação e mobiliário. Também está prevista a recuperação de imóveis e até a construção de uma esplanada ligando a atual Rodoviária à Praça do Peixe.
Atualmente, a Lagoinha está inserida em Área de Diretrizes Especiais (ADE), aprovada em 1996. Porém, as regras para novas construções ainda não foram regulamentadas. Um Projeto de Lei está sendo feito e “deve ser encaminhado, em breve, à Câmara Municipal”, informou a prefeitura.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por