Após tragédia ambiental de 2015, professores da UFMG atuam em projetos de recuperação em Mariana

Da Redação
07/11/2018 às 20:41.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:40
 (Divulgação/ UFMG)

(Divulgação/ UFMG)

Desde a tragédia ambiental em Mariana, em novembro de 2015, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) tem se mobilizado em iniciativas que buscam ajudar a recuperar o meio ambiente na região. Dentre as ações, a recomposição de mata ciliar, política de afetações e resgate de memórias dos moradores estão entre as iniciativas mais bem-sucedidas. 

O projeto de recomposição das matas ciliares e da biodiversidade na região do desastre começou com uma iniciativa de pequeno porte – a revitalização de uma praça no município de Barra Longa, com base em sugestões recolhidas com os moradores – e hoje alcança as margens do rio Gualaxo do Sul, localizado entre a foz do Córrego do Fundão e a confluência do Córrego Laranjeira. O Gualaxo do Sul é a fronteira natural dos municípios de Mariana e Diogo de Vasconcelos.

“Na primeira etapa, diagnosticamos o impacto no terreno e descobrimos, principalmente, grandes quantidades de sódio e éter-amina, substâncias altamente tóxicas usadas no beneficiamento do minério. Na sequência, selecionamos plantas da Mata Atlântica tolerantes a esse solo contaminado e micro-organismos capazes de decompor os produtos tóxicos para reduzir esse impacto. Daí, usamos esses micro-organismos para reduzir a presença das substâncias”, explicou a professora Maria Rita Scotti Muzzi, do Departamento de Botânica do ICB, coordenadora do projeto.

De acordo com Muzzi, os resultados do projeto de recuperação da paisagem da mata ciliar e de áreas urbanas sob impacto dos rejeitos da barragem da mineração Samarco são promissores. 

“Há plantas de até 3 metros de altura na floresta próxima ao Rio Gualaxo, e os indicadores comprovaram que houve uma redução significativa da éter-amina e do sódio. Registramos também aumento da fertilidade do solo, da estabilidade da área e da drenagem. Com base nessas evidências, podemos afirmar que é possível, sim, recuperar a bacia”, afirmou. 

Impactos afetivos

“Laços sociais foram rompidos e, de alguma maneira, essas categorias não conseguem abarcar uma série de experiências vivenciadas pelos atingidos”, disse a professora Raquel Oliveira Santos Teixeira, do Departamento de Sociologia da Fafich e subcoordenadora do projeto de extensão O desastre e a política das afetações: compreensão e mobilização em um contexto de crise.

Segundo Raquel, a equipe analisa as interações dos atingidos com as instituições, investigando, sobretudo, os encaminhamentos de processos, como negociações e deliberações de grupos de trabalho e discussões sobre reparações. Desde 2016, o grupo, coordenado pela professora Andrea Zhouri, acompanha as ações das empresas responsáveis pelo desastre, da Fundação Renova, do Ministério Público, do Estado e dos atingidos em Mariana.

Cartografia social

O projeto Acervos familiares nasceu por sugestão dos próprios moradores. A proposta, que envolveu 30 famílias, materializou-se por meio de quatro oficinas com o intuito de resgatar as memórias através da cartografia social. No primeiro momento, os moradores fizeram croquis dos lugares em que viviam. Em seguida, visitaram territórios atingidos e trabalharam na produção de um boletim com informações atualizadas sobre o andamento dos trabalhos.

“O desastre não termina com os termos de acordos, ele permanece em curso. Dependendo dos encaminhamentos institucionais, a tragédia se agrava. Os danos vão se acumulando justamente por conta das respostas das instituições, que, muitas vezes, são insuficientes e inadequadas, provocando ainda mais angústia e frustração”, analisou Raquel Oliveira.

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