'Apagão’ de mão de obra deixa escola sem professor temporário

Renata Miranda - Do Hoje em Dia
23/09/2012 às 08:18.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:30
 (Felipe Couri)

(Felipe Couri)

JUIZ DE FORA – Escolas estaduais da Zona da Mata enfrentam dificuldades para contratar professores temporários, os “designados”. Salário, distância do local de trabalho e falta de perspectiva na carreira são as principais causas do “apagão” de mão de obra, mais comum em física, química, matemática e português.

O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE) aponta para a precariedade do ensino no Estado, sobretudo nas escolas do interior.

A Superintendência de Desenvolvimento da Educação Infantil e Fundamental admite o problema e diz que a solução deve chegar a partir de dezembro, com a contratação de concursados.
 
Há vagas

A Escola Estadual Adalgisa de Paula Duque é referência no ensino público em Lima Duarte, na Zona da Mata. Atende 948 alunos dos ensinos fundamental e médio. Mas só agora, já no segundo semestre, a direção conseguiu profissionais para lecionar português e química. O edital de convocação de professor de inglês ainda está na internet.

Os temporários substituem educadores que estão de licença médica, por exemplo.

A diretoria afirma que, para evitar que os alunos fiquem ociosos, é feito um remanejamento no quadro de horários. Mas conteúdos que deveriam ter sido ensinados no início do ano só estão sendo abordados em setembro.
“O ano tem 200 dias letivos, com carga horária apertada. Então, quando falta um professor, há, do ponto de vista pedagógico, um comprometimento”, avalia a vice-diretora da escola, Giancarla Neves Del Monte.

Viagem
 

Recém-formada em Letras, Camila Silva Corrêa Maia e Silva custou a aceitar a vaga para dar aula de português em Lima Duarte. A dificuldade para se deslocar até a escola foi um dos motivos. A professora terá que viajar cerca de 80 quilômetros, entre Juiz de Fora e Lima Duarte, três vezes por semana. Por dois dias, será obrigada a dormir no município onde vai trabalhar.

Cássia vai lecionar para alunos do ensino médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

“Só com passagem, vou gastar R$ 300, e ainda não calculei o preço do hotel”, diz. “Sei que vou ganhar pouco mais de R$ 900 por uma jornada de 15 horas. Então, se for por dinheiro, não compensa. Aceitei porque preciso de experiência”, diz a educadora, que se formou em dezembro do ano passado.
 
Falta de vínculo com a instituição prejudica ensino, diz sindicalista
“A Secretaria de Estado da Educação insiste em manter essa forma precária de contratação, que traz prejuízos para a qualidade pedagógica do ensino por não haver um vínculo do professor com a escola”.
 
A avaliação é da coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE), Beatriz Cerqueira. Ela também critica o fato de pelo menos um terço dos professores serem designados.
De acordo com Beatriz, o problema não é restrito à Zona da Mata. Atinge municípios do Vale do Jequitinhonha, do Alto Paranaíba, do Triângulo Mineiro e até escolas da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
 
A coordenadora aponta ainda a falta de perspectiva na carreira como mais um agravante. “O temporário não tem direito à projeção na carreira. Vai sempre se manter no mesmo nível porque não há previsão de crescimento regulamentada para ele”.

A sindicalista reclama também do que chama de “desrespeito” ao profissional. “Uma professora designada que engravida tem o contrato suspenso. Não tem sequer direito à licença-maternidade. Tudo isso espanta os profissionais”.
 
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