Ivermectina, azitromicina e hidroxicloroquina. A venda desses medicamentos, que não apresentam eficácia comprovada na prevenção e no tratamento contra o coronavírus, disparou em Minas. Em algumas drogarias até falta estoque. O uso do que tem sido chamado de “kit Covid”, que pode agravar o quadro clínico de alguns pacientes, preocupa o Conselho Regional de Farmácia. Na sexta-feira (30), a Justiça Federal de SP proibiu a propaganda de tratamento precoce desses remédios.
Em alguns estabelecimentos, a venda é feita sem receita, o que configura infração sanitária. A procura pela ivermectina – indicada contra infestações por parasitas, como piolhos e sarna – cresceu 200% durante a pandemia, segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos de Minas (Sincofarma).
“Quando começou a ser falado que esse produto combatia o coronavírus, muita gente foi às drogarias, porque não precisa de retenção da receita”, afirmou Rony Anderson, vice-presidente do Sincofarma. Segundo ele, oito a cada dez receitas de pacientes diagnosticados com a Covid-19 apresentam ao menos um dos remédios do “kit”.
O Hoje em Dia entrou em contato com dez farmácias de BH, de diferentes redes, e constatou o aumento da demanda. Em uma das lojas consultadas, havia apenas uma caixa da azitromicina, antibiótico usado para conter infecções bacterianas. De acordo com uma atendente, o medicamento está em falta em vários laboratórios.
O mesmo cenário é visto com a hidroxicloroquina, que serve para o tratamento da malária e lúpus. Diante do crescimento acelerado do consumo, a receita passou a ser recolhida.
O problema é que muita gente que realmente necessita do medicamento para o combate dos males contra os quais ele é eficaz ficou de mãos vazias. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, o produto está sem estoque na Farmácia de Minas da capital. Os motivos, segundo a SES, estão relacionados ao atraso na entrega pelos fornecedores.
Para o Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais, a situação é preocupante. De acordo com Danyella Domingues, assessora técnica do CRF-MG, os fiscais orientam as drogarias a não vender os medicamentos sem prescrição. “É uma infração sanitária. Sendo constatada, o estabelecimento está sujeito a sanções, a depender do que foi imposto pela vigilância sanitária do município, que pode ser, inclusive, o fechamento”, explicou.
Segundo o médico Unaí Tupinambás, professor da UFMG e membro do Comitê de Enfrentamento à Covid da capital, há relatos de pessoas na fila de transplante hepático por conta da ivermectina. “Todos os trabalhos em andamento, alguns já concluídos, mostraram, inclusive, que podem piorar o quadro clínico daquele paciente, principalmente a hidroxicloroquina, que pode causar arritmia cardíaca, e pacientes com Covid podem ter inflamações no coração”.