Apreensão de alimento inadequado para consumo sobe 76% em Belo Horizonte

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
23/03/2017 às 20:35.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:51

A Operação Carne Fraca chocou o país ao desmascarar um esquema de venda de produtos estragados. Mas a verdade é que os belo-horizontinos, sem saber, são expostos diariamente a alimentos impróprios para o consumo. Realidade encontrada em sacolões, padarias, lanchonetes, açougues e supermercados pela Vigilância Sanitária (Visa) da capital mineira.

fevereiro de 2017

Somente nos dois primeiros meses de 2017, a quantidade de produtos apreendidos nos estabelecimentos comerciais da cidade cresceu 76,6% comparado com 2016, ao passar de 18 quilos para 31,79 quilos. Em todo ano passado, foram 137,3 quilos, segundo dados do órgão. 

Apesar do crescimento, os números poderiam ser muito maiores, segundo o gerente da Visa, Daniel Nunes. Ele explica que os 147 fiscais que atuam em Belo Horizonte acumulam uma série de funções além da análise dos alimentos à venda propriamente dita. “São dezenas de atividades, como vistorias em residências por causa de acúmulo de lixo e de água parada, por exemplo”.

Perceptível

As principais causas de apreensão de alimentos na cidade são data de validade vencida, produtos sem registro no órgão competente e armazenamento inadequado. São inúmeros os motivos e muitos deles são perceptíveis até por quem não é fiscal.

A reportagem percorreu vários estabelecimentos na região Central de Belo Horizonte, a que acumula maior quantidade de ocorrências, e flagrou uma série de irregularidades. Foram encontrados sacolões onde o lixo disputava espaço com frutas, verduras e hortaliças. Em alguns casos, a sujeira era tanta que moscas pousavam sobre os produtos vendidos e o chão, que era branco, estava preto. Em um sinal de que a situação seria rotineira, as pessoas não pareciam se incomodar com ela. Lucas Prates / N/AMISTURA – Lixo disputa espaço com frutas, verduras e hortaliças; clientes já se acostumaram com a situação

Condição inadequada de higiene é algo tão grave que pode levar à notificação do estabelecimento e até a multa. “A grande questão é o risco de contaminação dos alimentos. Esse lixo pode se tornar foco de animais como moscas, baratas e ratos. E quem consumir o produto depois pode contrair uma série de doenças”, afirma Daniel Nunes.

Outra irregularidade encontrada ontem foi a “maquiagem” do prazo de validade. Uma pêra importada do Chile, por exemplo, tinha na embalagem a informação de que deveria ser consumida em 180 dias, mas não havia a especificação da data de referência. 
“Um produto com essa rotulagem ou foi adulterado pelo revendedor ou não passou por qualquer tipo de fiscalização. Jamais poderia estar sendo vendido”, diz o gerente da Vigilância Sanitária. 

Fiscalização da carne vendida depende de denúncias

A Vigilância Sanitária de Belo Horizonte aguarda orientação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para fazer uma vistoria mais intensa nas carnes vendidas na cidade. Até que isso ocorra, a instituição só conta com as denúncias feitas pelos consumidores para agir. 

“Precisamos de uma diretriz para criar uma estratégia. É importante saber quais produtos e lotes devemos priorizar. Porque sair apreendendo qualquer coisa não faz sentido”, afirma o gerente de Vigilância Sanitária de Belo Horizonte, Daniel Nunes. 

Neste ano, até fevereiro, chegaram à instituição apenas 62 denúncias referentes a todo tipo de alimento. No mesmo período do ano passado, foi registrado mais que o dobro (146). 

O retorno dos consumidores é importante principalmente por causa dos riscos da ingestão de carne imprópria. Segundo a coordenadora do laboratório de carnes da Escola de Veterinária da UFMG, Cléia Batista Dias Ornellas, esse consumo pode levar até à morte. 

“Temos várias doenças relacionadas a agentes contaminantes. O impacto sobre a saúde de quem consome esses microorganismos varia de acordo com o tipo e a quantidade deles no alimento”, afirma.

 Editoria de Arte / N/A

Cuidados

A especialista alerta que para não “levar gato por lebre” o consumidor precisa tomar alguns cuidados simples. O primeiro deles é observar a cor e o cheiro das carnes. A higiene do profissional que manuseia o alimento também precisa ser levada em consideração. As unhas, por exemplo, precisam ser curtas e limpas. E nunca pode ser a mesma pessoa quem corta a carne e recebe o dinheiro. É preciso ter também cuidados após a compra do produto, mantendo-os refrigerados. 

Aqueles estabelecimentos flagrados com produtos impróprios para consumo podem ser multados e até mesmo interditados até que resolvam a irregularidade. Além disso, podem ter o alvará sanitário cassado. O documento é renovado anualmente e necessário para funcionamento regular dos estabelecimentos.

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