(Frederico Haikal)
Thiago Soares é pai de um menino de 3 meses, mas se viu obrigado a largar dois empregos. Ludmila Almeida está desempregada e se vira como pode ao lado do marido para pagar as prestações do novo apartamento. Bernardo Guimarães era concursado e agora faz bicos em consultórios odontológicos. Já Thiago Maia entrou em depressão e Gustavo Simões interrompeu uma promissora carreira acadêmica.
As histórias são diferentes, mas a origem dos dramas é a mesma. Os cinco estão entre um seleto grupo de 146 aprovados no concurso da Polícia Civil, realizado em 2013, para peritos criminais e médicos-legistas. No ano passado, entre maio e agosto, fizeram um treinamento – última etapa antes de iniciar o serviço público – e receberam o certificado de formatura. Passados sete meses, após abandonarem os antigos ofícios, vivem momentos de angústia e incerteza.
Apesar de mil investigadores de outro concurso da polícia terem sido nomeados no último sábado, não há perspectiva de quando os novos peritos e médicos poderão atuar, apesar da defasagem na área.
O concurso vence em maio, mas pode ser prorrogado. Porém, a preocupação só aumenta diante da espera, reforça o farmacêutico Thiago Oliveira, de 30 anos. Morador de Betim, na Grande BH, ele também tinha dois empregos. “Como a academia de polícia exigia dedicação exclusiva, acabei tendo que pedir demissão. Estou desempregado, não tenho de onde tirar dinheiro, gastei tudo que estava guardado”.
ABALADO – Thiago veio do interior para BH e agora passa por um tratamento psicológico
Efetivo insuficiente
Não bastassem as condições precárias de trabalho e os espaços sucateados, faltam profissionais para atender à população mineira, conforme revelam o sindicato da categoria e os atuais servidores. Segundo um perito do Alto Paranaíba, que pede para não ser identificado, apenas três profissionais são responsáveis por atender a dez cidades, com uma população de 220 mil habitantes. “Estamos fazendo 56 horas por semana, sem férias desde 2014. Não recebemos hora extra ou qualquer tipo de benefício”.
O presidente do Sindicato da Polícia Civil de Minas (Sindpol), Denílson Martins, diz que existem atualmente 450 médicos-legistas e 700 peritos. O ideal, diz Martins baseado em uma pesquisa nacional feita em 2013, seria de 1.100 médicos e 1.800 peritos. Ele reforça a necessidade urgente de investimento, mas diz que o sindicato tem feito frequentes reuniões com a nova cúpula da Polícia Civil. Segundo ele, a nomeação deve ocorrer em breve.
Questionada sobre o motivo de ter feito o treinamento dos aprovados, mesmo sem perspectiva de nomeação, a assessoria da Polícia Civil disse que a intenção era agilizar o processo. Dessa forma, assim que a nomeação ocorrer, os concursados poderão ser designados para as unidades da corporação.
Segundo o órgão, a convocação dos peritos e médicos-legistas depende, agora, apenas da assinatura do governador Fernando Pimentel.
Já a assessoria do governo do Estado informou que o cronograma de nomeações segue trâmites estabelecidos em lei, que estariam em andamento.