Atendimento a vítimas feridas por cerol aumenta 85% no Hospital João XXIII

Marília Mesquita
17/07/2019 às 18:52.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:35
 (Samuel Costa)

(Samuel Costa)

Crime praticado livremente nas ruas, a utilização do cerol ou linha chilena para soltar pipas faz cada vez mais vítimas em Belo Horizonte. Treze pessoas foram atendidas no Hospital Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, em junho, por ferimentos provocados pelo material cortante. Isoladamente, pode até parecer pouco, mas o número é 85% maior se comparado ao mesmo mês de 2018. O alerta contra a irresponsabilidade cresce nesta época do ano devido aos ventos típicos de julho e as férias escolares. 

As principais vítimas são os motociclistas. Quem trafega pela capital nos veículos de duas rodas – além de não ignorar os equipamentos de proteção como as antenas –, deve ficar atento para algumas vias. Levantamento da Guarda Municipal indicou pontos onde os recolhimentos de rolos e linhas são recorrentes. Estão na lista as avenidas Pedro II, no Carlos Prates (região Noroeste), Cristiano Machado, no Primeiro de Maio (Norte) e Andradas, no Centro. 

Quem já viveu a situação sabe a importância de se proteger. Por duas vezes, o motoboy Alexandre Brandão, de 36 anos, foi atingido pelos fios que têm uma mistura de cola e vidro moído. Em 2011, chegou a cortar uma das mãos. “Levei oito pontos, mas dei sorte, pois poderia ter sido no pescoço. Hoje tenho só a cicatriz”. No mês passado, mais um susto, quando passava pela Antônio Carlos. “Foi por pouco, a lâmina da antena cortou a linha”.

Alexandre Brandão teve sorte. Conforme o médico aposentado Silvio Grandinetti, que durante 40 anos trabalhou no HPS, os casos atendidos na unidade de saúde são graves. “A velocidade dos condutores com o atrito da corda faz com que lesões sejam profundas”. 

A maioria dos ferimentos é na região do pescoço e a recuperação das pessoas, lenta. “Tive um paciente que, após seis meses, foi para casa tetraplégico. A linha atingiu a coluna cervical dele”, relembra. O médico ressalta que medidas de segurança são essenciais. “Antena, capacete, colete, luva e protetor de pescoço podem evitar os ferimentos no caso de condutores de motos”.

Recolhimento de cerol é recorrente nas avenidas Pedro II, no Carlos Prates, Cristiano Machado, no Primeiro de Maio e Andradas, no Centro

Perigo para todos

Tenente do Corpo de Bombeiros, Herman Ameno reforça que os motociclistas são as principais vítimas. No entanto, o militar destaca que crianças e adolescentes não estão imunes aos riscos. “Estão sujeitos a quedas de laje e, em alguns poucos casos, choques elétricos tentando resgatar a pipa na rede elétrica”, aponta o militar.

Ele ainda aconselha que a população denuncie, por meio do 181, pessoas que fazem uso e comercializem as linhas de cerol.

Proibição

A utilização do cerol ou de linha chilena foi proibida há 17 anos em Minas. Lei de julho de 2002 prevê multa de até R$ 1.500 para quem for flagrado com o material. Além disso, o Código Penal qualifica o uso como crime passível de prisão, que pode render até cinco anos de cadeia. Em BH, uma lei barra a venda do material. Comerciantes que cometem o delito podem ter que pagar até R$ 2 mil e, em caso de reincidência, ter o alvará de funcionamento cassado.

A Guarda Municipal tem realizado ações de conscientização na cidade. Por meio da campanha “Cerol Mata!”, blitze educativas são feitas nas ruas com a distribuição de materiais. Na sexta-feira (19), agentes da corporação estarão na avenida Cristiano Machado, próximo à Estação Primeiro de Maio, a partir das 9h. Em 2018, foram apreendidas 161 latas com linhas cortantes.

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