(Samuel Costa)
Crime praticado livremente nas ruas, a utilização do cerol ou linha chilena para soltar pipas faz cada vez mais vítimas em Belo Horizonte. Treze pessoas foram atendidas no Hospital Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, em junho, por ferimentos provocados pelo material cortante. Isoladamente, pode até parecer pouco, mas o número é 85% maior se comparado ao mesmo mês de 2018. O alerta contra a irresponsabilidade cresce nesta época do ano devido aos ventos típicos de julho e as férias escolares.
As principais vítimas são os motociclistas. Quem trafega pela capital nos veículos de duas rodas – além de não ignorar os equipamentos de proteção como as antenas –, deve ficar atento para algumas vias. Levantamento da Guarda Municipal indicou pontos onde os recolhimentos de rolos e linhas são recorrentes. Estão na lista as avenidas Pedro II, no Carlos Prates (região Noroeste), Cristiano Machado, no Primeiro de Maio (Norte) e Andradas, no Centro.
Quem já viveu a situação sabe a importância de se proteger. Por duas vezes, o motoboy Alexandre Brandão, de 36 anos, foi atingido pelos fios que têm uma mistura de cola e vidro moído. Em 2011, chegou a cortar uma das mãos. “Levei oito pontos, mas dei sorte, pois poderia ter sido no pescoço. Hoje tenho só a cicatriz”. No mês passado, mais um susto, quando passava pela Antônio Carlos. “Foi por pouco, a lâmina da antena cortou a linha”.
Alexandre Brandão teve sorte. Conforme o médico aposentado Silvio Grandinetti, que durante 40 anos trabalhou no HPS, os casos atendidos na unidade de saúde são graves. “A velocidade dos condutores com o atrito da corda faz com que lesões sejam profundas”.
A maioria dos ferimentos é na região do pescoço e a recuperação das pessoas, lenta. “Tive um paciente que, após seis meses, foi para casa tetraplégico. A linha atingiu a coluna cervical dele”, relembra. O médico ressalta que medidas de segurança são essenciais. “Antena, capacete, colete, luva e protetor de pescoço podem evitar os ferimentos no caso de condutores de motos”.
Perigo para todos
Tenente do Corpo de Bombeiros, Herman Ameno reforça que os motociclistas são as principais vítimas. No entanto, o militar destaca que crianças e adolescentes não estão imunes aos riscos. “Estão sujeitos a quedas de laje e, em alguns poucos casos, choques elétricos tentando resgatar a pipa na rede elétrica”, aponta o militar.
Ele ainda aconselha que a população denuncie, por meio do 181, pessoas que fazem uso e comercializem as linhas de cerol.
Proibição
A utilização do cerol ou de linha chilena foi proibida há 17 anos em Minas. Lei de julho de 2002 prevê multa de até R$ 1.500 para quem for flagrado com o material. Além disso, o Código Penal qualifica o uso como crime passível de prisão, que pode render até cinco anos de cadeia. Em BH, uma lei barra a venda do material. Comerciantes que cometem o delito podem ter que pagar até R$ 2 mil e, em caso de reincidência, ter o alvará de funcionamento cassado.
A Guarda Municipal tem realizado ações de conscientização na cidade. Por meio da campanha “Cerol Mata!”, blitze educativas são feitas nas ruas com a distribuição de materiais. Na sexta-feira (19), agentes da corporação estarão na avenida Cristiano Machado, próximo à Estação Primeiro de Maio, a partir das 9h. Em 2018, foram apreendidas 161 latas com linhas cortantes.
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