Atendimento de urgência a dependentes químicos é ineficaz

Iêva Tatiana - Hoje em Dia
17/10/2015 às 07:28.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:05
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

O Brasil é o maior consumidor de crack da América Latina, com cerca de 900 mil usuários, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS). Estima-se que cerca de 3% (27 mil) necessitem de internações hospitalares. E é aí que surge um dos problemas mais graves e menos discutidos em relação à dependência química.

Segundo o médico Antônio José Daniel Xavier, professor da Faculdade de Ciências Médicas, esses pacientes, normalmente, não são reconhecidos como doentes, mas como dependentes de drogas. Dessa forma, os atendimentos nos serviços de urgência são pontuais e não levam em consideração as patologias relacionadas ao uso de entorpecentes.

“Os profissionais (da saúde) reconhecem esses quadros como se o paciente tivesse tido um problema, mas não é isso. Ele é doente, tanto do ponto de vista psiquiátrico quanto das doenças associadas. E o que mata não é a droga, é o que vem junto”, afirma.

De acordo com Xavier, os dependentes químicos, sobretudo os usuários de crack e cocaína, geralmente são levados às unidades de pronto-atendimento em função de psicoses e quadros depressivos com tentativa de suicídio. Mas eles também podem ter problemas cardiovasculares, respiratórios e nervosos.

“O paciente tem o atendimento de urgência e pronto, mas não é tratado. Os demais problemas são cuidados em outras unidades e, novamente, o dependente não é tratado. Depois ele volta para a urgência. A pessoa, então, não tem a situação resolvida nem em um lugar nem em outro, fica em um pingue-pongue”, critica.

Orientações

Essa dificuldade, observada rotineiramente em Belo Horizonte, levou Xavier a escrever um livro sobre o tema, com a proposta de orientar colegas de profissão e demais profissionais da área.

O residente de neurologia do Hospital Odilon Behrens, Lucas Roquim, também é autor da obra “Atendimento de urgência ao paciente usuário de crack e cocaína”. “A ideia partiu da nossa experiência do dia a dia. Nós trabalhamos no serviço de urgência e observamos que esse tipo de paciente, dependente de crack e cocaína, faz visitas frequentes. Só que não existe uma abordagem específica para ele. O objetivo desse livro é justamente estruturar uma abordagem”, diz.

Segundo os autores, embora o assunto esteja constantemente em evidência, a bibliografia de referência é escassa e há poucos dados sobre o que caracteriza a população de dependentes químicos. Esses fatores, na avaliação dos médicos, dificultam o aprimoramento do atendimento médico.

“Esse paciente é diferente dos outros e a droga não é o único problema. A abordagem no serviço de urgência é o início de um tratamento bem mais longo. Falta muita estrutura no serviço e no SUS, como um todo, para o tratamento a longo prazo. Mas acho que o maior desafio é todos os profissionais de saúde terem essa clareza”, conclui Roquim.

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