Aulas do curso de História são suspensas por 'razões de segurança' e UFMG anuncia medidas

Hoje em Dia
27/03/2015 às 15:09.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:24
 (Wikimedia Commons/Reprodução)

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Alunos do curso de História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tiveram as aulas suspensas, nesta sexta-feira (27). O motivo seria a falta de segurança devido a suspeita de tráfico de drogas dentro da universidade.   O comunicado foi feito por um dos professores da Fafich. Nas redes sociais, estudantes da instituição afirmam que receberam um e-mail informando sobre a suspensão. “De ordem da câmara departamental, venho informar que as aulas do nosso curso (diurno/noturno) estão suspensas a partir de hoje, sexta-feira, dia 27 de março de 2015, por razões de segurança”, diz um trecho do comunicado.    A professora da Fafich Helena Alves Silva disse, por meio do Facebook, que casos de alunos que se sentiram ameaçados foram denunciados e registrados em boletins de ocorrência. Ela explica ainda o motivo da suspensão das aulas. “A medida da suspensão das aulas foi tomada em reunião de câmara onde todos nós temos representação. Ela não seria hoje e sim na segunda-feira (30) depois da reunião da congregação se mais uma vez não tivéssemos nenhuma notícia de providências com relação aos fatos já relatados às instâncias superiores (sic)”, afirmou.    Em sua postagem, Helena diz ainda que ameaças e violência não fazem parte do ambiente da Fafich e “quando o fizeram foi em nome do autoritarismo”. “Nós não estamos pedindo polícia pra prender e agredir menores, não estamos pedindo catracas e nem violência. Nós queremos uma Fafich da pluralidade, de todos e não uma Fafich onde grupos impõem suas pautas... quaisquer que sejam estes grupos. Sabemos muito bem o que acontece e não fazer nada nos torna coniventes com tudo inclusive com o tom da matéria”, destacou.   Medidas   Em função das denúncias de tráfico de drogas dentro da unidade e da repercussão sobre o assunto, o diretor da Fafich, Fernando Filgueiras, se reunião na manhã desta sexta-feira (27) com a reitoria da UFMG. Segundo a assessoria de imprensa da universidade, a primeira medida concreta que foi definida será o aumento do fluxo de seguraça e a redução dos intervalos que os vigilantes passa, pelo local.   Além disso, uma reunião será realizada na próxima segunda-feira (30), Às 8h, na Fafich, do órgão colegiado chamado de Congregação, integrado por professores, servidores e alunos. No encontro será definido quando as aulas serão retomadas, se haverá ou não pedido de intervenção policial na unidade, além de outras medidas de segurança.   A UFMG informou que só irá se pronunciar sobre a questão do tráfico de drogas dentro da UFMG após a reunião da Congressão. O número de vigias dentro da universidade não foi divulgado por questão de segurança.   Relato   Diante da repercussão das denúncias de tráfico de drogas e violência na UFMG, um aluno da Fafich, Felipe Afonso Soares Guimarães, fez um relato sobre a experiência dele na unidade. Confira:   "Devido a grande repercussão da reportagem, acho que como estudante do Noturno na FAFICH tenho que me pronunciar.   Lembro da primeira vez que encontrei o pessoal do "rolezinho" na FAFICH. Estava indo ao banheiro durante o segundo horário de sexta-feira e deparei com diversos adolescentes que estavam na porta do D.A.. O som era alto e atrapalhava a minha aula, mas isso não me incomodava. Confesso que até achei legal ver esses jovens usando aquele ambiente para recreação. Alguns tomavam uma cerveja ou fumavam cigarros, nada demais, essa combinação era comum nas festinhas que frequentei na minha adolescência.   Ano passado a situação começou a ficar complicada. Vi várias vezes grupos utilizando drogas (o que me incomoda nesse ponto não é nem o uso da droga, seria hipocrisia achar normal a rodinha de maconha de alunos do meu curso e achar que outros não poderiam fazer o mesmo. O que me chama a atenção é pela idade das pessoas. Em sua maioria são jovens entre 14 e 16 anos, que se tivessem outras opções de recreação, tenho certeza que não estariam ali fazendo isso), comecei a ouvir relatos de assaltos a estudantes e, o que pra mim é o mais grave, alunas começaram a ser assediadas nos banheiros da FAFICH. As mulheres não conseguiam andar sozinhas pelos corredores sem serem perseguidas ou ouvirem algumas cantadas. Vários professores do noturno começaram a levantar essa pauta da insegurança que estávamos vivendo a noite na UFMG, inclusive o diretor da nossa faculdade, porém, professores que só frequentam a faculdade de manhã ou a tarde reduziam o debate a: "vocês estão sendo racistas e querendo segregar a comunidade do espaço acadêmico". Assim, os debates nunca avançaram e medidas efetivas não conseguiram ser tomadas. A situação foi contornada com o reforço da segurança. Sempre tinha um segurança na porta do D.A., enquanto outros faziam uma ronda pelo terceiro andar, onde se tinha a maior incidência de ataques.   Esse ano a situação chegou num ponto extremamente complicado e delicado. Com o corte de verbas, o quadro de funcionários terceirizados da UFMG caiu, impactando a segurança. Já não se tem mais os seguranças na porta do D.A e rondando o terceiro andar. Como não foram tomadas medidas efetivas anteriormente, o quadro piorou com a saída do nosso "remédio".    Agora eu trago alguns casos que aconteceram nesse primeiro mês do semestre.    Algumas pessoas, durante uma sexta-feira, começaram a esvaziar vários extintores do prédio, "brincando" de tacar um no outro. Com o barulho uma professora do meu curso pediu para os jovens colaborarem e ela tomou um jato de extintor na cara. Ela decidiu que vai honrar os compromissos desse semestre, mas não vai mais dar aula a noite na FAFICH. O curso de Gestão Pública corre o risco de perder a sua melhor professora.   Depois disso, a Rose, uma faxineira da FAFICH, foi limpar o pó branco dos extintores. Ao inalar a substância ela sofreu uma reação alérgica e teve que ser levada as pressas pro pronto socorro.   Um aluno foi abordado na saída do banheiro por um grupo. Um dos membros do grupo colocou uma faca no seu pescoço enquanto os outros faziam a limpa nos pertences do rapaz. O cara que tava com a faca no pescoço esperou todos os membros que carregavam os pertences fugirem, pra poder tirar a faca do pescoço e sair correndo.   As mulheres voltaram a não andarem sozinhas. Professoras que dão aula no segundo horário, que começa às 20:50 e termina 22:30, passam o primeiro horário trancadas em suas salas.   A pós-graduação da história e o DCP estão arquitetando uma paralisação das aulas noturnas até que as medidas cabíveis sejam tomadas. (Aproveito o momento pra registrar meu apoio a paralisação)   O que eu quero atentar é que estamos passando por uma situação crítica na nossa faculdade. Reduzir o debate a racismo ou segregação, não vai resolver nada. Assim como tomar medidas de segurança como: aumento do número de seguranças, espalhar câmeras pela FAFICH, colocar catracas etc., também não vão solucionar. Estudei num colégio particular do terceiro período ao terceiro ano que tinha seus portões fechados, e isso só contribuiu para formar um adolescente alienado, que acreditava que o mundo era a minha realidade e que a classe média sofria. Foi na UFMG que encontrei uma pluralidade incrível de pessoas, que me fizeram quebrar diversos paradigmas sociais construídos durante a minha vida. Não podemos perder isso!   A UFMG tem que fazer parte da comunidade, desenvolver seus conhecimentos junto com ela, não deve se isolar.    Reforço o convite do D.A FAFICH a dialogar sobre o assunto. Temos que partir das nossas experiências, dos nossos relatos para buscarmos uma solução. Não devemos levar em consideração a imagem criada pelo Estado de Minas nessa matéria, que é sensacionalista, racista e "caricata". Tragam seus relatos, façam sugestões, critiquem, opinem, só assim vamos conseguir resolver a situação."   Atualizada às 17h13

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