Aves de todo o planeta estão no foco de observadores no 'grande dia' para catalogar espécies

Manoel Freitas
04/05/2019 às 06:00.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:30
 (Manoel Freitas/O Norte)

(Manoel Freitas/O Norte)

Neste sábado (4) será realizado no Brasil e em vários países o maior evento voltado à observação de aves do mundo – o Global Big Day, ou o “grande dia”. Promovido pelo Laboratório de Ornitologia de Cornell com o intuito de reunir listas de espécies observadas em um único dia em todo o planeta, a ideia é registrar o maior número de aves possível no intervalo de 24 horas. 

Apesar de parecer uma brincadeira, o clique das espécies, além de contabilizar a biodiversidade, ajuda cientistas e pesquisadores a compreenderem melhor o comportamento desses animais, pois os registros flagram momentos que podem ser reveladores.

Em 2018, mais de 30 mil pessoas participaram do evento e o resultado foi surpreendente: em um dia, mais de 7 mil espécies foram catalogadas pelos birdwachters (observadores de aves) – e o Brasil se apresentou como o país com o segundo maior número de espécies de aves no mundo. 

Para documentar a observação de aves, uma das modalidades de turismo ecológico que mais cresce no planeta, O NORTE percorreu dois caminhos distintos. O primeiro trabalho de campo aconteceu no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, acompanhando a equipe de reportagem da EPTV (Emissoras Pioneiras de Televisão), afiliada da Rede Globo, na produção de conteúdo sobre observação de aves para o programa Terra da Gente.

O material será exibido em 20 emissoras de sinal aberto em seis estados, com área de cobertura de 32 milhões de habitantes. Será repassado também pelo Canal Internacional da Globo para 46 países, nos cinco continentes.

No foco

Fotógrafo de O NORTE, que em oito anos catalogou 4.103 registros científicos de 314 aves distintas, Manoel Freitas foi um dos personagens da equipe de TV. 

Em sete horas, clicou seis novas espécies, entre as quais o raro Arapaçu-do-Nordeste (Xiphocolaptes falcirostris), Bico-Virado-da-Caatinga (Megaxenops parnaguae), o curiango João-Corta-Pau (Antrostomus rufus), Asa-de-Telha-Pálido (Agelaioides fringillarius), Gralha-do-Campo (Cyanocorax cristatellus) e Rapazinho-dos-Velhos (Nystalus maculatus).

“Aqui, o que impressiona, é ter três biomas em um só lugar. Então, há espécies distintas, uma diversidade gigante, que está me possibilitando descobrir outra Minas, que é encantadora”, afirma o repórter Marcelo Ferri, do programa Terra da Gente.

A existência de três biomas – Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica – transforma o Cavernas do Peruaçu em um berço para a diversidade de aves. São mais de 300 espécies, segundo o ornitólogo Daniel Dias. “É muita diversidade por se tratar de uma unidade de conservação pequena, pois isso significa quase 50% das aves do Estado inteiro. Por ser uma área protegida há mais de 20 anos, contribui para preservar a avifauna, com espécies raras”, explica. Ele exemplifica lembrando que, em poucas horas, o grupo registrou três espécies distintas de Arapaçu, como Arapaçu-do-Nordeste, com registro em apenas seis estados brasileiros.

Treinamento de jovens guias

Depois de documentar o registro científico em um dos parques mais importantes do Brasil, no Extremo Norte de Minas, O NORTE acompanhou o treinamento de sete condutores e observadores de aves na Reserva Natural Rolinha do Planalto, em Botumirim.

A iniciativa é da Associação para Conservação das Aves do Brasil (Save). Na área, dois registros importantes: o Cara-Dourada (Phylloscartes roquettei) e o Canário-do-Campo (Emberizoides herbicola).

Wilson Ferreira, de 28 anos, que mantém o site Belezas de Botumirim, faz o treinamento desde o início do ano para atuar como condutor na reserva natural. Atualmente desempregado, estudando para concursos, vê na atividade de guiar observadores de aves oportunidade de ajudar no sustento da família. Um curso de inglês já está nos planos de Wilson.

Para ele, além de fonte de renda para muitos jovens, o curso semeia a educação ambiental. “Indispensável para preservação de nosso rico patrimônio natural”. 

Marcelo Lisita, ornitólogo que coordena a reserva, argumenta que o treinamento “é indispensável, porque qualquer mudança, mesmo que sutil, no ambiente enseja o aparecimento de novas espécies e conhecê-las é ferramenta importante para dar suporte aos observadores de aves”.

Na área de 600 hectares, os futuros guias percorrem a trilha, registram espécies com binóculos, câmeras e gravadores em pontos de escuta e observação. 

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