Babá detalha tragédia e alegria de Ieda, a garotinha morta a facadas por desconhecido

Raul Mariano
30/10/2019 às 21:45.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:28
 (Riva Moreira )

(Riva Moreira )

Apaixonada por brinquedos, Ieda Isabella Manoel Peres, de 5 anos, pediu à babá que levasse uma das várias bonecas que tinha quando fosse buscá-la na escola, no fim da tarde de ontem. A menina, no entanto, não conseguiu sequer chegar à aula. Foi morta a facadas, em uma calçada do bairro Vila Cristina, em Betim, na Grande BH, por um homem de 25 anos, que estaria em um quadro de surto esquizofrênico e seria usuário de crack.[

Alegre e inteligente, Ieda era calma e demonstrava prazer em estudar. De acordo com a babá Brenda Souza de Andrade, de 23 anos – que estava com a garotinha no momento do crime –, a menina era fã do filme “A Fantástica Fábrica de Chocolate”. “Adorava assistir, imitava os personagens, se divertia muito com a história. Ela também tinha um fogãozinho e panelinhas de brinquedo que amava”, relembra. Riva MoreiraIeda foi morta a caminho da instituição onde estudava; menina adorava brincar com panelinhas, diz babá

Para Brenda, a vida nunca mais será a mesma. “Passar pelo local de novo não vai ser fácil. A ficha ainda não caiu. É difícil acreditar que isso está acontecendo”, lamenta a babá, magoada, segundo ela, com o fato de não ter conseguido proteger a menina. 

O autor do crime usava tornozeleira eletrônica. Ele já tinha passagens pela polícia por porte e tráfico de drogas. Segundo a PM, havia deixado o sistema prisional há cerca de 60 dias.

Testemunhas relataram que o homem chegou a comemorar o assassinato. Em seguida, começou a ser linchado por populares, mas as agressões foram interrompidas com a chegada dos militares. Na delegacia, ele afirmou que cometeu o crime “por ordens do patrão” – o “patrão” seria o diabo, conforme teria dito à polícia.

Na casa dele, a própria família temia ser atacada. Segundo a PM, a mãe do rapaz tinha o hábito de esconder facas e objetos pontiagudos, com medo de que surtos repentinos pudessem colocar a segurança de todos em risco.Riva Moreira

 Autor do crime foi preso em flagrante; antes, chegou a ser agredido por populares

Doença

"Mas não podemos associar o comportamento violento aos portadores de doenças mentais”, alerta o psiquiatra forense Lucas Fantini. “A esquizofrenia é uma queda do juízo, que pode se manifestar com delírio. Agora, não quer dizer que um sujeito, em surto, vai ser sempre alguém perigoso”, completa.

Fantini destaca que o uso de álcool e drogas pode piorar quadros de psicopatia e explica que, diante de pessoas em surto, o ideal é pedir ajuda para que o indivíduo seja encaminhado ao serviço especializado. “O Samu, o Corpo de Bombeiros e até mesmo a PM podem ser acionados”. 

Agressividade

Pessoas em situação de transtorno esquizofrênico e sob efeito de drogas podem ter comportamentos agressivos. Quem afirma é o psiquiatra e diretor da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), Paulo Roberto Repsold. “A droga potencializa o quadro psicótico e dificulta o tratamento da doença. Então, se ela não tomar a medicação, em um quadro agudo pode fazer bastante bobagem”.

O especialista destaca que, em momentos de alucinação, os portadores da esquizofrenia podem ouvir vozes, como teria acontecido com o autor do ataque à menina. “É comum também o surgimento de delírios de perseguição, pensamento desorganizado. A pessoa, geralmente, está insone (que tem insônia), imagine isso associado ao uso de crack”.

O esquizofrênico em crise aguda precisa ser encaminhado para tratamento especializado. “É como, por exemplo, um hipertenso que tem elevação repentina da pressão. Se não for levado para a emergência, pode ter um acidente vascular cerebral, com sequelas graves”. 

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