'Baleia Azul' está na boca dos alunos, mas escolas ignoram riscos do jogo

Raul Mariano e Cinthya Oliveira
horizontes@hojeemdia.com.br
18/04/2017 às 20:05.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:11

Mortes em Minas que podem ter ligação com o jogo Baleia Azul repercutem e dominam conversas de adolescentes de escolas públicas e particulares de Belo Horizonte. Mesmo causando alvoroço entre alunos dos ensinos fundamental e médio, o assunto, porém, só está sendo debatido fora das salas de aula.

O jogo Baleia Azul nasceu na Rússia, em 2015, e se tornou conhecido no Brasil em 2017; além dos dois suicídios investigados em Minas, há suspeitas de casos nos estados do Rio de Janeiro e Mato Grosso

confirmam que o tema – que movimenta redes sociais, preocupa pais e psicólogos e mobiliza até a polícia – não vem sendo abordado, na maioria dos casos, pelos educadores.

De forma geral, boa parte dos jovens ouvidos pela reportagem condena o jogo, uma espécie de “desafio” on-line suspeito de induzir à autoflagelação e ao suicídio. “Minha mãe chegou para conversar comigo para tomar cuidado com jogos e não cair na onda de amigos. A escola deveria conversar sobre isso também, porque existem pessoas que são influenciáveis”, disse uma estudante de 14 anos.

Aluna de 13 anos, rede pública)

Mesmo entre os vários adolescentes que acham que a brincadeira não passa de uma “modinha”, e que tratam o assunto até com certo deboche, há quem acredite que os praticantes precisam de ajuda.<

“Isso é coisa de quem está querendo chamar a atenção. Ninguém normal entraria em uma brincadeira que obriga a pessoa a se matar no final”, diz um aluno de 17 anos do ensino médio de uma escola no Prado, Oeste da cidade.

A elaboração de medidas práticas para evitar que mais adolescentes se envolvam com o Baleia Azul, que já pode ter vitimado um jovem em Pará de Minas e outro em BH, ainda é incipiente. Tanto na rede privada de ensino quanto na pública municipal, os órgãos responsáveis aguardam manifestações das escolas para que ações específicas sejam planejadas.

O Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep) informou que como não houve, até o momento, demanda por parte das instituições associadas, nenhuma ação foi elaborada para tratar o tema com os estudantes. 

Por sua vez, a Secretaria Municipal de Educação informou que “não registrou ainda notificação por parte das escolas de que essa situação esteja ocorrendo”. No entanto, “está atenta a qualquer manifestação que fuja ao cotidiano das escolas e conta com uma equipe responsável por lidar com questões relativas ao clima escolar”.

A pasta afirmou que será feito um trabalho de formação orientando diretores e coordenadores pedagógicos para identificar situações que sugiram ou caracterizem comportamentos de autoflagelação entre os alunos. 

Já a Secretaria de Estado de Educação (SEE) disse que está encaminhando às unidades de ensino um ofício orientando o reforço de ações pedagógicas de conscientização sobre o uso seguro da internet e de temas que envolvam a convivência no ambiente escolar, como o bullying.

A reportagem tentou contato com a Federação das Associações de Pais e Alunos das Escolas Públicas de Minas Gerais (Fapaemg). Entretanto, até o fechamento desta edição não havia conseguido retorno.

ede pública)
luna de 13 anos, rede particular)

 Wesley Rodrigues / N/ADESAFIO – Cortar a própria pele e desenhar uma baleia é uma das tarefas que devem ser cumpridas pelo participante

luno de 16 anos, rede particular)

Tema deve ser debatido em conjunto, afirma especialista

O Baleia Azul não é o primeiro exemplo de desafios da internet a ganhar fama no Brasil. Há cerca de um ano, a brincadeira do desmaio por asfixia arrebanhou adeptos no país e, em São Paulo, levou à morte um jovem de 13 anos. 

Aluna de 14 anos, rede particular)

O jogo consistia em prender a respiração até desmaiar, com o intuito de viver experiências fortes. A prática registrou, ainda, óbitos em países como Estados Unidos e Canadá. 

Para especialistas, fenômenos semelhantes devem continuar a aparecer periodicamente na rede virtual. Por isso, pais e escolas devem se manter vigilantes. 

“Hoje, o foco é o Baleia Azul, mas sempre tem algo acontecendo envolvendo um tipo de comportamento nocivo dos jovens. A escola precisa ser mais abrangente, ter uma linha contínua de atenção ao estudante dentro desse contexto crítico do que está sendo acessado. O adolescente que recebe uma formação, que o leva a analisar as coisas, não vai cair nesse tipo de cilada”, defende Marua Íris Mendes, psicanalista e pedagoga da Associação Mineira de Psicanálise. 

de particular)

Ela destaca, no entanto, que a responsabilidade sobre o envolvimento dos jovens com jogos perigosos não deve ser depositada apenas sobre as instituições de ensino. 

“A primeira atitude tem que ser familiar. Mas é claro que deve haver diálogo com a escola. Ambos (família e escola) devem caminhar juntos. É imprescindível incentivar um pensamento mais profundo. Os jovens estão extremamente despreparados e sem uma base familiar sólida”, opina a especialista.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por