Mortes em Minas que podem ter ligação com o jogo Baleia Azul repercutem e dominam conversas de adolescentes de escolas públicas e particulares de Belo Horizonte. Mesmo causando alvoroço entre alunos dos ensinos fundamental e médio, o assunto, porém, só está sendo debatido fora das salas de aula.
confirmam que o tema – que movimenta redes sociais, preocupa pais e psicólogos e mobiliza até a polícia – não vem sendo abordado, na maioria dos casos, pelos educadores.
De forma geral, boa parte dos jovens ouvidos pela reportagem condena o jogo, uma espécie de “desafio” on-line suspeito de induzir à autoflagelação e ao suicídio. “Minha mãe chegou para conversar comigo para tomar cuidado com jogos e não cair na onda de amigos. A escola deveria conversar sobre isso também, porque existem pessoas que são influenciáveis”, disse uma estudante de 14 anos.
Mesmo entre os vários adolescentes que acham que a brincadeira não passa de uma “modinha”, e que tratam o assunto até com certo deboche, há quem acredite que os praticantes precisam de ajuda.<
“Isso é coisa de quem está querendo chamar a atenção. Ninguém normal entraria em uma brincadeira que obriga a pessoa a se matar no final”, diz um aluno de 17 anos do ensino médio de uma escola no Prado, Oeste da cidade.
A elaboração de medidas práticas para evitar que mais adolescentes se envolvam com o Baleia Azul, que já pode ter vitimado um jovem em Pará de Minas e outro em BH, ainda é incipiente. Tanto na rede privada de ensino quanto na pública municipal, os órgãos responsáveis aguardam manifestações das escolas para que ações específicas sejam planejadas.
O Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep) informou que como não houve, até o momento, demanda por parte das instituições associadas, nenhuma ação foi elaborada para tratar o tema com os estudantes.
Por sua vez, a Secretaria Municipal de Educação informou que “não registrou ainda notificação por parte das escolas de que essa situação esteja ocorrendo”. No entanto, “está atenta a qualquer manifestação que fuja ao cotidiano das escolas e conta com uma equipe responsável por lidar com questões relativas ao clima escolar”.
A pasta afirmou que será feito um trabalho de formação orientando diretores e coordenadores pedagógicos para identificar situações que sugiram ou caracterizem comportamentos de autoflagelação entre os alunos.
Já a Secretaria de Estado de Educação (SEE) disse que está encaminhando às unidades de ensino um ofício orientando o reforço de ações pedagógicas de conscientização sobre o uso seguro da internet e de temas que envolvam a convivência no ambiente escolar, como o bullying.
A reportagem tentou contato com a Federação das Associações de Pais e Alunos das Escolas Públicas de Minas Gerais (Fapaemg). Entretanto, até o fechamento desta edição não havia conseguido retorno.
Wesley Rodrigues / N/ADESAFIO – Cortar a própria pele e desenhar uma baleia é uma das tarefas que devem ser cumpridas pelo participante
Tema deve ser debatido em conjunto, afirma especialista
O Baleia Azul não é o primeiro exemplo de desafios da internet a ganhar fama no Brasil. Há cerca de um ano, a brincadeira do desmaio por asfixia arrebanhou adeptos no país e, em São Paulo, levou à morte um jovem de 13 anos.
O jogo consistia em prender a respiração até desmaiar, com o intuito de viver experiências fortes. A prática registrou, ainda, óbitos em países como Estados Unidos e Canadá.
Para especialistas, fenômenos semelhantes devem continuar a aparecer periodicamente na rede virtual. Por isso, pais e escolas devem se manter vigilantes.
“Hoje, o foco é o Baleia Azul, mas sempre tem algo acontecendo envolvendo um tipo de comportamento nocivo dos jovens. A escola precisa ser mais abrangente, ter uma linha contínua de atenção ao estudante dentro desse contexto crítico do que está sendo acessado. O adolescente que recebe uma formação, que o leva a analisar as coisas, não vai cair nesse tipo de cilada”, defende Marua Íris Mendes, psicanalista e pedagoga da Associação Mineira de Psicanálise.
Ela destaca, no entanto, que a responsabilidade sobre o envolvimento dos jovens com jogos perigosos não deve ser depositada apenas sobre as instituições de ensino.
“A primeira atitude tem que ser familiar. Mas é claro que deve haver diálogo com a escola. Ambos (família e escola) devem caminhar juntos. É imprescindível incentivar um pensamento mais profundo. Os jovens estão extremamente despreparados e sem uma base familiar sólida”, opina a especialista.