Barragens sem 'garantia' põem em risco água de Belo Horizonte

Simon Nascimento e Raul Mariano
18/02/2019 às 20:51.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:36
 (Wesley Rodrigues/Arquivo Hoje em Dia)

(Wesley Rodrigues/Arquivo Hoje em Dia)

Importante fonte de abastecimento de Belo Horizonte e municípios da região metropolitana, o rio das Velhas está na rota dos rejeitos de pelo menos oito barragens com alto risco de rompimento em Minas. O diagnóstico das estruturas é da Agência Nacional de Mineração (ANA) e do Ministério Público do Estado (MPMG), que alegam problemas na estabilidade dos reservatórios. Para especialistas, a situação é “extremamente grave” e “preocupante”.

O temor é justificado pelo eventual impacto na oferta de água à Grande BH, além dos possíveis “danos irreparáveis” à bacia, em caso de rupturas. Atualmente, segundo a Copasa, além da capital mineira, Nova Lima, Raposos, São José da Lapa, Sabará, Vespasiano, Santa Luzia e Lagoa Santa recebem o recurso hídrico captado do Velhas.

A população afetada em caso de interrupção da captação é de, pelo menos, 3 milhões de pessoas. “Se ocorrer algo similar ao registrado em Brumadinho, a Região Metropolitana de Belo Horizonte vai entrar em colapso no abastecimento”, garante a ambientalista Maria Teresa Corujo, integrante do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam).

Na rota de colisão com o rio das Velhas está a barragem Dique 2, em Itabirito, na região Central do Estado, pertencente à Minar Mineração. Além dela, há os reservatórios I e II na Mina do Engenho, em Rio Acima, da Mundo Mineração. 

Já em Ouro Preto, há a estrutura Água Fria, da Topázio Imperial. A cidade histórica também abriga Forquilha I, II, III, todas da Vale. A mineradora também é dona da barragem B3/B4 em Macacos, distrito de Nova Lima – que apresentou problemas no fim de semana passado, motivando a evacuação de mais de 200 pessoas.

Além dos moradores de Belo Horizonte, o rio das Velhas abastece a população de Nova Lima, Raposos, São José da Lapa, Sabará, Vespasiano, Santa Luzia e Lagoa Santa

Sobrecarga

A suspensão da captação de água do rio Paraopeba, cujas águas foram poluídas após o rompimento na mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, aumenta a preocupação de municípios e órgãos ambientais. Para suprir o volume que o manancial gerava às cidades, a Copasa tem recorrido às represas do rio Manso, Serra Azul, Várzea das Flores.

Os reservatórios operam como reserva do rio e são capazes de suprir as necessidades da população durante os períodos de estiagem de 2019 e 2020, conforme a companhia.

“O Paraopeba não vai poder atender às pessoas tão cedo. É uma situação de extrema gravidade e grande preocupação”, reforça Maria Teresa.

A ambientalista ainda demonstra preocupação com o São Francisco, que tem o Velhas como principal afluente. “É mais uma ameaça ao ‘Velho Chico’, assim como o ocorrido em Brumadinho. Estamos diante de uma bomba-relógio”, lamenta.

A Vale foi procurada pela reportagem, mas não se pronunciou até o fechamento desta edição. As demais mineradoras também foram acionadas, por telefone, mas não atenderam às ligações do Hoje em Dia.

Trabalho no lixo

De todas as barragens em risco de ruptura, a situação mais preocupante, de acordo com o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano, é a das duas estruturas em Rio Acima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Elas estão próximas à Estação de Tratamento Bela Fama, onde é realizado o processo de limpeza da água que é entregue para abastecer a população. “Ao contrário do Paraopeba, o rio das Velhas não tem nenhuma reserva. O sistema de captação é a fio d’água (direto do rio)”, justifica Polignano. 

O complexo pertence à empresa Mundo Mineração e está desativado há sete anos, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM). “Está totalmente abandonado. O comitê já denunciou a situação das barragens e ninguém fez nada. Se romper ali e a lama cair no Velhas, será um desastre completo”, avalia o ambientalista.

Recuperação

Outra preocupação de Marcos Vinícius Polignano é em relação ao trabalho de revitalização do rio das Velhas. O processo começou em 2005, com a ajuda do Projeto Manuelzão, da UFMG, e apoio da Copasa, Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e do governo do Estado.

Estações de tratamento de esgoto, recuperação de nascentes urbanas nas bacias dos ribeirões Arrudas e Onça em Belo Horizonte, além de outras ações, receberam investimento de R$ 1 bilhão, de 2005 a 2019.

“Conseguimos melhorar os parâmetros de oxigenação e reduzir o índice de metais na água. Tudo isso está ameaçado e, caso aconteça alguma coisa, a gente pode retroceder dez anos”, teme o especialista.

Prevenção

Biólogo da Fundação SOS Mata Atlântica, Tiago Felix explica que diante da possibilidade de rompimento é imprescindível agir de forma preventiva.

O especialista, que passou dez dias em expedição no rio Paraopeba, analisando os impactos do desastre de Brumadinho, garante ser possível “minimizar os danos” no caso de outro vazamento. 

“Perder o Velhas a essa altura do campeonato seria algo gravíssimo, principalmente porque afetaria o São Francisco”, afirma. “Lembrando que a situação desse rio (Velhas) já não é a desejável. Então, se isso acontecer, acaba de vez com uma importante fonte de abastecimento da capital mineira”, avalia Felix. Editoria de Arte

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