Belo Horizonte é repleta de placas que indicam um caminho, mas levam a outro

Gabriela Sales - Hoje em Dia
05/07/2015 às 11:19.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:46
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

A sinalização é um problema histórico em Belo Horizonte. Mesmo com a realização de grandes eventos, como a Copa das Confederações, em 2013, e a Copa do Mundo, no ano passado, a população ainda convive com um sistema falho de informações. Há, inclusive, placas que indicam um caminho e levam a outro.

Em uma volta pela cidade, o Hoje em Dia não teve dificuldades de encontrar exemplos, sendo um deles em um dos pontos viários mais intrincados: o Complexo da Lagoinha. Costurado por viadutos e acessos a várias regiões, o local confunde visitantes e moradores. “As placas estão com informações confusas e em cima das pontes. Não há continuidade”, diz o professor Aurélio de Castro, de 36 anos.

Há três dias na capital, o desenhista pernambucano Pablo Carvalho, de 28 anos, não consegue passar pelo trecho sem o auxílio do GPS. “É uma área grande, um desafio que confunde bastante quem não é da cidade”, afirmou.

Nos meses que antecederam a Copa do Mundo, Belo Horizonte ganhou 250 novas placas com informações turísticas, resultado de um investimento de R$ 1,6 milhão da prefeitura, do Ministério do Turismo e da Secretaria Estado de Turismo.

Segundo a Belotur, somente os principais corredores viários da cidade receberam 81 placas de sinalização, principalmente indicando como chegar ao Mineirão.

Mais um caso

Na avenida Silva Lobo, no bairro Calafate (região Oeste), uma placa orienta o motorista a seguir em frente pela via para chegar a regiões distintas: Pampulha e Savassi. Na verdade, a indicação leva apenas à zona Sul (Savassi). Já para chegar à orla da lagoa é preciso virar à direita antes do elevado. “São 200 metros sem sinalização. A orientação é pouca para quem não conhece”, reclamou Raíssa Avelino, de 27 anos, moradora do bairro São Luiz (Pampulha), ao passar no local pela primeira vez. Claro, ela errou o caminho.

Tradição no turismo

Um ponto turístico bastante visitado na Copa do Mundo foi o Mercado Central. Turistas se encantaram com a diversidade de produtos regionais e artesanais, mas devem ter encontrado problema para chegar lá, principalmente se passaram antes pela Região Hospitalar.

Uma placa instalada na avenida Francisco Sales deixa qualquer um que não conhece Belo Horizonte perdido. Sem setas indicativas, a sensação é a de que o mercado está a poucos metros da Santa Casa.

No sentido oposto da mesma avenida, outra placa sem setas mostra a Savassi na mesma região. O problema já havia sido mostrado pelo Hoje em Dia em outubro de 2013, mas nada mudou.

Outro lado da cidade

Em Venda Nova, intervenções na avenida Vilarinho para a implantação do Move deixaram como lembrança placas sem utilidade. Na rua Padre Pedro Pinto, quem precisa chegar ao Minas Caixa é levado a fazer uma verdadeira peregrinação.

A BHTrans reconhece a falha e argumenta que será feito um levantamento técnico com o objetivo de adequar a sinalização. Sobre o Complexo da Lagoinha, a empresa informa que, até o fim do ano, terá trocado as placas.

Para especialistas, a carência de informações pode causar problemas sérios aos condutores e retenções. “O trânsito exige atenção e raciocínio rápido. Uma má sinalização pode provocar acidentes graves”, afirma o consultor em transporte e trânsito Osias Batista Neto.
 
Semáforo desnecessário coloca motoristas em risco

O excesso de sinalização também pode dificultar o deslocamento do motorista. Quem transita pela avenida Abraão Caram, no bairro Liberdade, na região da Pampulha, com destino a Venda Nova, e precisa acessar a avenida Antônio Carlos é surpreendido com um semáforo logo após o término do viaduto.

A sinalização foi instalada logo depois das intervenções na avenida para a Copa das Confederações. Mesmo assim, ainda surpreende vários motoristas. “É ilógico ter um sinal logo depois do viaduto. Corremos risco de acidentes porque o sinal forma longas filas”, disse o engenheiro Adriano Castro, de 32 anos.

Apesar de o tempo de interrupção do tráfego ser de aproximadamente dois segundos, a fila de carros é inevitável. “É um desperdício de dinheiro público. O acesso a avenida Antônio Carlos poderia ser feito de maneira livre”, afirmou a enfermeira Lívia Nunes, 45 anos.

Explicação oficial

 A BHTrans esclarece que o semáforo tem o objetivo de gerenciar conflitos existentes entre os movimentos de circulação de veículos e de pedestres que transitam pelas avenidas Antônio Carlos e Abraão Caram.

A empresa esclarece ainda que o semáforo é necessário para a travessia de estudantes da UFMG que utilizam esse percurso e também para quem vem do aeroporto e quer fazer a transposição da via.

Atualmente, de acordo com dados da BHTrans, a capital têm 973 interseções semaforizadas, sendo 48 implantadas somente no ano passado. O valor total investido com as implantações foi de R$ 1,1 milhão. Ainda de acordo com a empresa, no ano passado foram gastos R$ 194 mil em manutenção de semáforos danificados.

Bom senso

Para especialistas, não basta investir em semáforos, mas levar em consideração a melhor medida tanto para pedestres quanto para condutores. “A fluidez no trânsito e a segurança de pedestres e condutores são prioridade. Isso deve ser considerado sempre”, reforça o especialista em trânsito José Aparecido Ribeiro, presidente da SOS Mobilidade Urbana.

Osias Batista Neto, consultor em transporte e trânsito, diz que investir em sinalizações horizontal e em cores variadas pode orientar melhor os condutores.

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