BH busca chancela mundial de valorização da culinária concedida pela Unesco

Mariana Durães*
mduraes@hojeemdia.com.br
16/10/2018 às 20:08.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:17
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Do fígado acebolado com jiló ao requinte dos restaurantes mais badalados. Do cafezinho coado na hora às cervejas artesanais e cachaças. Belo Horizonte quer valorizar e promover internacionalmente a culinária mineira. A metrópole busca junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) a chancela de Cidade Criativa da Gastronomia.

O anúncio da candidatura foi feito ontem, mas um dossiê sobre os pratos e costumes locais será elaborado e entregue em 2019. Por meio do título, a Prefeitura de BH pretende fomentar o turismo e desenvolver novas atividades para o setor. Atualmente, três municípios brasileiros são referência mundial em gastronomia pela Unesco: Paraty (RJ), Belém (PA) e Florianópolis (SC).

“No documento a ser entregue em junho do ano que vem, vamos apresentar o que já é feito, os festivais, a força da cachaça e do queijo. A candidatura é o reconhecimento da riqueza da nossa culinária, que tem muita história”, diz o presidente da Belotur, Aluizer Malab.

Título de Cidade Criativa da Gastronomia é um reconhecimento da Unesco aos municípios que têm uma culinária considerada referência no mundo

Sem carro-chefe

Para o chef de cozinha e embaixador da campanha Leo Paixão, a capital reúne toda a gastronomia do Estado. Em razão disso, ele reforça que a candidatura não terá um produto como destaque, pois dará atenção a toda a produção mineira. “Não é mais só o prato clássico que define um lugar, mas também a criatividade dos chefes locais e a cozinha contemporânea”.

Especialistas que atuam na área veem com bons a busca pela valorização internacional. Coordenador e professor do curso de gastronomia das Faculdades Promove, Jackson Cabral diz que o título irá atrair mais turistas, além de incentivar a inovação. Ele acrescenta que o reconhecimento dá visibilidade, inclusive, para a educação. “Estimula até o estudo na área”, resume.Flávio TavaresMoradoras de Montes Claros, as irmãs Tanisia e Vera Lúcia apreciaram os queijos do centro de compras

Elogios

Mesmo sem a chancela, muitos mineiros não abrem mão de elogiar a culinária local. Moradores de Itaúna, no Centro-Oeste, os amigos Frederico Silva, de 42 anos, e Jonatas Queirós, de 21, sempre vão ao Mercado Municipal quando visitam a metrópole. Segundo eles, durante o passeio é obrigatório “comer o fígado com jiló”.

Quem também esteve ontem no tradicional centro de compras da capital foram as irmãs Tanisia e Vera Lúcia Guerra, de 53 e 63 anos. Elas vieram de Montes Claros, no Norte do Estado, e garantem que aprovam a candidatura. “Esse tipo de ação, que promove a nossa comida, como os eventos gastronômicos, ajudam a divulgar o produto mineiro”, afirma Vera.

Para os comerciantes, o ganho extra é garantido. De acordo com a vendedora Nayane Emily, sempre que o Queijo Minas tem aparição em eventos nacionais e internacionais o movimento na loja aumenta. “Principalmente de turistas de outros estados e países, mas mesmo o mineiro vem mais quando isso acontece”, conta.

Otimismo

O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG), Ricardo Rodrigues, vê com otimismo a proposta. Segundo ele, a cidade está se antecipando na busca pelo reconhecimento. “Temos uma série de requisitos que teremos que cumprir, mas podemos lograr êxito, o que trará muita visibilidade do público externo”, afirmou.

Conforme Rodrigues, a iniciativa será um incremento ao setor, que teve queda no movimento de até 30% após a crise econômica no país. “Na verdade, o título envolve uma série de características que levarão nosso nome além-fronteiras, como a fama dos bares, que já temos. E não é só o queijo e a cachaça, temos o torresmo, o angu, o tropeiro, o frango caipira. Um conjunto que faz um destino ter um maior apelo gastronômico”.

O Ministério da Cultura irá prestar consultoria à capital mineira durante o processo de seleção. A prefeitura contará também com uma parceria junto à Comissão de Gastronomia do Conselho Municipal de Turismo (Comtur) e da Frente da Gastronomia Mineira para elaboração das ações.

Após a inscrição, uma comissão da Unesco irá analisar a proposta que deve incluir o compromisso da cidade com a rede e apresentar um plano de ação que inclua detalhadamente os projetos, iniciativas e políticas que serão executadas nos quatro anos seguintes. O resultado sai em outubro de 2019. Caso seja concedido o título, a metrópole precisará seguir determinações que serão repassadas pela organização.

(*Colaborou Bruno Inácio)

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