Bicicletas compartilhadas ainda não atraem usuários em BH

Iêva Tatiana - Hoje em Dia
29/11/2014 às 08:50.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:12
 (CARLOS RHIENCK)

(CARLOS RHIENCK)

Há seis meses em funcionamento em Belo Horizonte, o projeto de bicicletas compartilhadas, batizado de “Bike BH”, avança a curtas pedaladas pela cidade. Desde a implantação, pouco mais de 31 mil viagens foram realizadas em 290 “magrelas” distribuídas por 29 estações. O número é quase cinco vezes inferior ao registrado em Brasília, que tem o mesmo número de bikes e está apenas um mês à frente da capital mineira na iniciativa.   Essa disparidade pode ser justificada por dois motivos, basicamente, na avaliação do professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Fumec Jacques Lazzarotto: topografia e infraestrutura.   Segundo ele, o relevo de BH é pouco convidativo; as ciclovias, além de não estarem em circuitos fechados, sofrem interrupções “sem sentido” e, em muitos lugares, inexistem.   “Subir a avenida Afonso Pena ou o ‘tobogã’ da avenida do Contorno, por exemplo, é complicado, porque são locais bem íngremes. Sair da Praça da Liberdade e circular pelo entorno dela dá certo, mas se a gente pegar a rua da Bahia, já começa a ficar movimentado. Os ramais (da cidade) que não estão conectados podem ser uma inferência do insucesso do projeto”, diz.   Incipiente   Para a professora de Logística da Faculdade Business School/Fundação Getúlio Vargas, Julimara Danielle Ferreira, o aspecto cultural, somado aos motivos elencados por Lazzarotto, também justifica a falta de fôlego dos belo-horizontinos. “Bicicletas não são nosso meio de transporte, mas, sim, de lazer. As pessoas aqui estão muito acostumadas com carros”, afirma Julimara.   Por meio de nota, a superintendente de Relações Governamentais do Itaú Unibanco – instituição patrocinadora do “Bike BH” –, Luciana Nicola, afirmou que ainda é prematuro dizer que a proposta de compartilhar bicicletas fracassou em Belo Horizonte e reforçou a importância da adoção de medidas complementares à iniciativa.   “Nossa experiência em outras praças nos mostra que o hábito nasce no lazer e, aos poucos, amplia o alcance para a vida cotidiana. Além disso, o compartilhamento de bicicletas não é a única forma de promover a cultura das bikes, também é preciso promover iniciativas de infraestrutura e conscientização”, diz o texto.   O professor Jacques Lazzarotto também acredita que o tempo poderá ser um aliado nesse caso, podendo até reverter o quadro atual.   “O fato de não termos uma orla igual à de Copacabana e à de Ipanema e nem sermos uma cidade muito plana como Governador Valadares e Brasília não inviabiliza, de forma nenhuma, o projeto. Como cidadão e urbanista, destaco que esse tipo de ação tem que ser persistente”, avalia o especialista.   Projeto ‘pedala’ na Pampulha e é pouco procurado no Centro   A procura pelas bicicletas compartilhadas é maior, de acordo com o Itaú Unibanco, na Pampulha. Na região, estão concentradas seis estações do projeto “Bike BH”. Destinado ao lazer e à prática de esportes, o local possui paisagem e topografia favoráveis à iniciativa, ao contrário do hipercentro de Belo Horizonte, onde a proposta – que não vingou – era conectar as estações de metrô aos terminais do Move e facilitar o deslocamento da população.   O estudante Lucas Ladeira, de 21 anos, está experimentando o serviço, mas já lista algumas deficiências. “A geografia da cidade atrapalha mesmo, porque existe muito morro. Também acho que as estações estão muito centralizadas. Em alguns lugares onde deveria haver pontos de retirada e de devolução não há. Em outros, temos bicicletas disponíveis, mas não há ciclovias”, observou o estudante enquanto trocava de bike na estação da praça Afonso Arinos, no Centro. A que ele pegou anteriormente estava com pneu furado.   Apesar dos contratempos, Lucas adianta que vai insistir na tentativa de usufruir do projeto em função da economia. “Ao invés de gastar R$ 5 por dia com tarifa de ônibus, gasto R$ 9 por mês com o passe das bicicletas”.   Má impressão   Por outro lado, Julimara Ferreira, professora da Faculdade Business School/Fundação Getúlio Vargas, que também experimentou o serviço, sentiu-se decepcionada com as falhas do sistema. “A ideia é boa, gostei muito dela e, no dia que fui experimentar, fiquei apaixonada. Me cadastrei, comprei o passe de um mês e nunca mais usei”, contou.   Segundo Julimara, é comum encontrar as “magrelas” danificadas e ter problemas com a liberação nas estações. A professora também queixa-se da dificuldade para devolver as bikes e do desencontro de informações.   “O número de bicicletas disponíveis e o de vagas não confere. Às vezes, a gente retira a bicicleta e o sistema acusa que ela está em uso, mas ela continua presa na estação. Mandei um e-mail para a empresa responsável e eles levaram 15 dias para me responder”, lamentou.   A Serttel, responsável pela implantação e operação do sistema, foi procurada durante a semana, mas, até o fechamento da edição, nenhum responsável pronunciou-se sobre o assunto.   Mais estações nos próximos dias   A previsão é a de que, até a próxima segunda-feira, outras 11 estações do “Bike BH” sejam inauguradas na cidade, totalizando 40, conforme contrato firmado com a prefeitura da capital. Dessa forma, o número de bicicletas saltará de 290 para 400.   Em Belo Horizonte, existem três planos de contratação do serviço: passe diário, com validade de 24 horas (R$ 3), passe mensal, válido por 30 dias (R$ 9), e passe anual (R$ 60), com validade de 365 dias.   As estações de compartilhamento funcionam diariamente, das 6h às 23h, para empréstimo, e até a meia-noite para devolução. Viagens de até 60 minutos de segunda a sábado e até 90 minutos aos domingos e feriados são gratuitas, desde que realizadas com intervalos de pelo menos 15 minutos entre elas.   O uso do sistema requer o preenchimento de um cadastro pelo mobilicidade.com.br/bikebh. Para destravar a bicicleta, o usuário pode usar o aplicativo para smartphones ou ligar, do aparelho celular, para 4003-9847.

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