Blocos do Carnaval de BH querem que o respeito reine na festa de Momo

Raul Mariano
01/03/2019 às 20:50.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:47
 (ANDRÉ PAIVA/DIVULGAÇÃO)

(ANDRÉ PAIVA/DIVULGAÇÃO)

Se houvesse uma única bandeira a ser hasteada por todos os blocos no Carnaval de BH, sem dúvida, seria a do respeito. Mais do que palavra de ordem compartilhada pelos 515 grupos que vão desfilar pelas ruas da capital, a busca por uma folia em que mais de 4 milhões de pessoas consigam se divertir “de boa” tem, a cada ano, tornado-se marca da maior festa da metrópole.

Seja nas agremiações famosas, que arrastam milhares de foliões pelos grandes corredores, ou nos bloquinhos alternativos, que agitam os bairros fora da região Centro-Sul, a reprovação ao assédio contra as mulheres e ao preconceito contra o público LGBT deve, mais uma vez, ser o discurso vindo de cima dos trios elétricos.

Pelo menos é o que garantem várias das figuras mais conhecidas do evento. A cantora Aline Calixto, que desfila neste sábado, ao meio-dia, na Savassi, conta que a adesão do bloco à campanha “Não é Não” é total. Ela revela que, se for preciso, o cortejo será interrompido para que eventuais episódios de assédio sejam resolvidos. “Infelizmente, fortalecer esse lema ainda é necessário e muito importante”, diz. “Precisamos lembrar vários homens que o corpo da mulher pertence somente a ela”, defende Aline.Maurício Vieira / 10-02-2018Com público cativo, a cantora Aline Calixto garante que a adesão do bloco à campanha “Não é Não” é total

Conexões

A busca por uma festa mais plural também vai ganhar destaque. O Então Brilha, que deve reunir uma multidão nos arredores da rua Guaicurus – zona boêmia do hipercentro – vai abrilhantar o encontro com alunos de um projeto social.

A Escola Brilhante de Arte, idealizada pelo grupo, realizou oficinas de canto e percussão com jovens das periferias de BH durante 2018 e pelo menos 40 deles devem integrar o desfile. 

A vocalista Michelle Andreazzi explica que a experiência é fruto de uma grande troca de aprendizados. “Além disso, nosso lema continua sendo ‘Gente é pra brilhar’, e ele engloba todas as pautas que pregam o respeito à mulher”. 

Abrangência

No Domingo de Carnaval, o Gigante da Pampulha deverá ficar pequeno diante do público que acompanha o Chama o Síndico. A proposta deste ano é desfilar ao redor do Mineirão, com o tradicional tributo a Tim Maia e Jorge Ben Jor.

Com o tema “A incrível história de um país tropical” eles vão abordar, dentre outras questões, o reflexo da escravidão e da colonização na atualidade. O bloco ainda pretende carregar faixas com os dizeres “ninguém solta a mão de ninguém”, mensagem que se tornou viral na internet no fim do ano passado. 

“Nesse contexto, continuamos combatendo o que sempre combatemos: racismo, homofobia, preconceito, assédio e violência”, explica Matheus Rocha, um dos idealizadores do Chama o Síndico.Lucas Prates

Integrantes do Chama o Síndico prometem combater o racismo, homofobia, preconceito, assédio e violência

Mulheres no comando

Na região Leste de Belo Horizonte, bairros tradicionais também vão sediar a folia e, como já era de se esperar, os cortejos devem ser ainda maiores do que no ano passado. A presença feminina será marcante em muitos deles, como no Volta Belchior, criado para homenagear o compositor brasileiro que morreu em 2017. O bloco se concentra no Santa Tereza neste sábado, ao meio-dia.

De cara nova, o grupo terá pela primeira vez uma mulher como regente de bateria, além de uma vocalista – escolhida por concurso – à frente do microfone. A mudança foi feita após a constatação de que o público feminino é maioria entre os seguidores.

“Fomos um dos primeiros blocos a aderir ao ‘Não é Não’ e esse tema é discutido frequentemente nos nossos ensaios”, explica o folião Kerison Lopes. “Bigodudo não aceita assédio”, conclui.

Segurança

No que depender do aparato tecnológico montado pelas forças de segurança para monitorar a folia em BH, criminosos e aproveitadores não terão muito espaço para assediar as mulheres ou praticar outros crimes.

Duas carretas do Centro Integrado de Comando e Controle Móvel (CICC) com câmeras de visão noturna e leitura de calor vão rastrear facas e revólveres a uma distância de até três quilômetros. 

Os equipamentos ainda serão capazes de fazer o reconhecimento facial das pessoas e alcance de 360 graus, estabelecendo comunicação em tempo real entre a cabine e os agentes nas ruas. Para aumentar a capacidade de patrulhamento, sete drones serão utilizados pelos militares. 

Multidão

Todas as previsões apontam que esse deverá ser o maior Carnaval da história de Belo Horizonte. Ao todo, são 620 desfiles pelas nove regionais e um público de 4,6 milhões de foliões – 20% a mais do o registrado em 2018. A cidade ainda vai contar com oito palcos oficiais onde 65 shows deverão acontecer durante os dias de festa.

Quem irá para as ruas, no entanto, deve estar precavido. Conforme os serviços de meteorologia, há possibilidade de chuva nos quatro dias de festa.

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