BR-040: falta dinheiro, sobram buracos e muitos acidentes

Renato Fonseca, Patrícia Santos Dumont e Carlos Calaes - Hoje em Dia
02/11/2013 às 08:33.
Atualizado em 20/11/2021 às 13:51
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

Nada menos que 68,2% da malha rodoviária mineira apresentam problemas estruturais, mostra pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional de Transportes (CNT). São buracos, deformações na pista, má sinalização e traçado inadequado. As armadilhas refletem diretamente em estatísticas alarmantes de acidentes, vidas perdidas e prejuízo financeiro.

O levantamento atesta que 9.746 quilômetros foram classificados como regular, ruim ou péssimo e “estão impróprios para o tráfego de veículos”. A má conservação dos trechos colocam o Estado abaixo da média nacional. No Brasil, 63,8% das estradas têm algum tipo de problema, seja relacionado a pavimento, sinalização ou mesmo o traçado da via.

O baixo índice de investimentos em Minas pode explicar a precariedade das rodovias. Embora tenha a maior malha rodoviária do país – com quase 22 mil quilômetros –, o Estado é, proporcionalmente, o 16º em investimentos, com R$ 0,93 milhão por quilômetro entre 2002 e 2013. O primeiro lugar, Sergipe, recebeu R$ 2,73 milhões por quilômetro.

As inúmeras falhas colocam as estradas brasileiras em direção a um colapso a curto prazo. A afirmação é do presidente da CNT, Clésio Andrade. “O governo federal perdeu a capacidade de investir nas estradas. Basta observar que as vias melhor avaliadas são as que estão sob gestão privada. E o mais sério é perceber que o país está caminhando para um caos logístico, sobretudo Minas Gerais, que tem o coração de sua economia transportado nas estradas”, afirmou Andrade.
Há 14 anos à frente da ONG SOS Rodovias Federais de Minas, o especialista em trânsito José Aparecido Ribeiro também critica a falta de investimento ao longo dos anos. Ele lembra que a maioria das rodovias que cortam Minas foi construída na década de 50. “É preciso reconstruir. Não dá mais para fazer pequenos reparos. Temos de pensar em vias com curvas mais amenas e inclinação adequada”.

O investimento, alerta José Aparecido, evitaria muitos acidentes. Até setembro, 882 pessoas morreram em colisões apenas nas rodovias federais. A principal causa de morte é a colisão frontal. “Não podemos tapar o sol com a peneira e jogar a culpa só no motorista imprudente. Esse tipo de acidente se elimina com estradas seguras, que tenham pistas independentes e áreas de escape”.
 
Em cinco anos, país cai dez posições em ranking de qualidade
 
A má qualidade das estradas brasileiras fica ainda mais evidente quando há comparação com a infraestrutura das rodovias de outros países.
Relatório do Fórum Econômico Mundial (The Global Competitiveness Report 2013-2014) divulgado pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) mostra que, em um ranking de 148 países, o Brasil aparece apenas na 120ª colocação, dez posições abaixo da ocupada há 5 anos.
A situação fica pior quando se comparam as rodovias federais e estaduais do Brasil às da China (54ª), que tem malha rodoviária menor do que a brasileira, da Argentina (103ª) e de Bangladesh (118ª). A densidade da malha rodoviária pavimentada do Brasil é menor, por exemplo, do que a de Rússia, Estados Unidos, Canadá e China. São 23,8 quilômetros de infraestrutura para cada 1 mil quilômetros quadrados de área.
No topo do ranking nacional dos piores trechos, na 109ª colocação, estão rodovias que ligam Belém (PA) a Guaraí (TO). Na 107ª posição, está a BR-418, que passa por Minas. A rodovia liga a BR-101, na Bahia, a Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri.
Minas aparece na lista dos estados mais bem avaliados. A BR-050, entre São Paulo a Uberaba, no Triângulo Mineiro, é a segunda da lista com conceito ótimo.

A pesquisa da CNT mostra que dos 384 quilômetros da rodovia avaliados, 12,5% dos trechos foram classificados como ruins e 25,8% como regulares.
O motorista Gerson Costa Vieira, de 57 anos, há dez meses em casa, recupera-se das lesões sofridas em um acidente na BR-040. Ele dirigia uma carreta quando um carro que fez ultrapassagem em local proibido atingiu o veículo. Com o pneu estourado, ele perdeu o controle da direção e acabou batendo contra uma outra carreta, que seguia no sentido contrário.

Resposta
 
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou que os dados da CNT são “gerais”, referentes a 96 mil quilômetros de rodovias e não fazem separação das rodovias federais e estaduais. “Como a pesquisa se propõe a ajudar a definir investimentos e políticas, não acrescenta muito nesse sentido e tenta transferir equivocadamente responsabilidades”, informa nota enviada.
 
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