Brumadinho tem mais mortes que a soma de desastres das últimas duas décadas

Simon Nascimento e Malú Damázio
28/01/2019 às 21:58.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:17
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

​O tsunami de lama que devastou Brumadinho já é a maior tragédia de Minas em número de mortes dos últimos 18 anos. Só na cidade da Grande BH, pelo menos 65 pessoas perderam a vida após três minas do Córrego do Feijão ruírem na última sexta-feira. Juntos, em quase duas décadas, outros rompimentos de barragens e desastres naturais ocorridos no Estado registraram 46 óbitos. 

 Os corpos das vítimas estão sendo levados para o Instituto Médico-Legal (IML) de Belo Horizonte. A identificação é feita por meio das impressões digitais, arcada dentária e exames de DNA. Na porta da unidade da polícia o clima é de muita comoção. 

O empresário Alan Delon, de 30 anos, veio de Brumadinho a capital para reconhecer um amigo e buscar informações sobre dois cunhados e dois primos, que estão desaparecidos. Ao chegar ao local, ele diz que não teve acesso ao cadáver, sendo impossível fazer o reconhecimento facial. 

“Veio todo mundo chorando no meio do caminho, chegamos aqui e não foi possível nem entrar. Assinamos um molho de papéis a partir de um protocolo, que confirmava que ele estava morto, por causa do estágio avançado de decomposição”, afirma.

Resgate

O número de mortes que já é elevado pode aumentar. Pelo menos 292 pessoas estão desaparecidas. O trabalho de resgate é bastante delicado. À medida que o tempo passa, a esperança diminui. Segundo o comandante de Busca e Salvamento Especializado dos Bombeiros, capitão Leonard Farah, a expectativa de encontrar sobreviventes em ocorrências desse tipo é praticamente nula após sete dias.

“A gente sempre atua com a probabilidade de sobrevivência. A doutrina internacional preconiza que a gente trabalhe assim, com a hipótese de encontrar essas pessoas até sete dias depois”, explica Farah.

Atualmente, mais de 200 militares do Corpo de Bombeiros atuam na região. A agilidade necessária, no entanto, esbarra na dificuldade de atuação na área tomada pelos rejeitos. “A lama não está totalmente seca. A gente ainda está afundando até a altura do peito. Por isso, usamos a técnica de rastejar”. Além disso, os militares colocam painéis de madeira sob o barro para caminhar em pontos com maior perigo.

Ônibus 

Ontem, o principal ponto de atuação dos militares foi uma área abaixo dos refeitórios e escritórios da mineradora. Lá, um ônibus – o segundo encontrado – fez com que os agentes aliassem técnica, cuidado e paciência.

Para dar dinâmica na localização das vítimas, principalmente as que estavam na Pousada Nova Estância e nas estruturas da Vale, os Bombeiros receberam, ontem, reforço da equipe de agentes do Israel, que atua com equipamento próprio para ajudar na localização das vítimas.
 

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