Bruno Fernandes: do talento nos gramados ao cotidiano na penitenciária

Vinícius Las Casas - Do Portal HD
14/11/2012 às 10:57.
Atualizado em 21/11/2021 às 18:16

 

 

 

A rápida ascensão profissional interrompida em 2010
 
Com 1,91 metro, Bruno Fernandes desde a infância em Ribeirão das Neves já chamava a atenção pelo talento esportivo. Revelado nas categorias de base do Atlético, o jogador fez a sua estreia na categoria profissional em 2005, como suplente de Danrlei, que estava suspenso. O bom trabalho realizado o levou ao posto de titular.
 
A boa fase na temporada feita pelo Atlético despertou o desejo do Corinthians, na época parceiro da MSI, que não hesitou em comprar o passe do jogador. Entretanto, divergências no Parque São Jorge fizeram com que o craque sequer atuasse pelo Timão, sendo repassado, então, ao Flamengo pela empresa investidora.

 


 
No clube carioca, Bruno encontrou sua casa. De cara, assumiu a titularidade e foi um dos principais líderes do grupo. Foi eleito entre os melhores goleiros do Brasileirão nos anos de 2006 e 2009. E o melhor arqueiro do Campeonato Carioca em três anos seguidos: 2007, 2008 e 2009.
 
Foi alçado ao posto de capitão do clube flamenguista e, em 2009, conquistou o seu maior título na carreira: o Campeonato Brasileiro. Teve a honra de ser o primeiro a erguer o troféu.
 
No entanto, se as glórias apareceram em 2009, o ano seguinte o levou a prisão, acusado do assassinato de Eliza Samudio, ex-amante e mãe de um dos seus filhos.
 
Quando se entregou à polícia do Rio de Janeiro, Bruno comentou que esperava ser o goleiro da seleção brasileira em 2014. Ali, a sensação era de que sua carreira estava indo por água abaixo. O sonho, como ele definiu, acabou.
 
Bruno tem o respeito de ex-colegas de trabalho
 
O goleiro Bruno passou boa parte da sua carreira no Atlético. Mesmo tendo saído em 2006 do clube com destino ao Corinthians. Depois, foi repassado ao Flamengo, onde ficou até 2010. O jogador era considerado temperamental por muitos. Mesmo assim, o ex-camisa 1 deixou amigos no Galo.
 
No início deste ano, em conversas com a reportagem do jornal  Hoje em Dia, alguns funcionários da Cidade do Galo relembraram a passagem de Bruno pelo clube. Desde o período na categoria de base até os dias nos profissionais foram comentados. Incredúlos, alguns duvidam que o homem que eles conheceram tivesse a capacidade de ter participado de um crime como o de Eliza Samudio. Alguns, ainda confiam na absolvição do goleiro.

 

 

 
Jogadores defenderam o goleiro e esperavam retorno ao futebol
 
Na epóca em que surgiram as primeiras informações do caso Bruno, o mundo do futebol levou um grande baque. Os jogadores do Flamengo, companheiros do goleiro, evitavam tecer qualquer comentário sobre o fato e, alguns, temiam que o nome deles respingassem no inquérito policial - devido ao fato de participarem de festas em que Eliza Samudio estava presente. De fato, o goleiro reserva Paulo Victor confirmou ter organizado orgias que envolviam Bruno e a modelo.
 
Posteriormente, o lateral Léo Moura, que permanece no Fla, e o volante Kleberson, hoje no Atlético-PR, deram declarações confiando na absolvição do companheiro e que acreditavam que o goleiro retomaria seu posto no gol flamenguista em breve.
 
No entanto, a diretoria do Flamengo não demonstrava a mesma boa vontade com Bruno. No dia 8 de julho, dez dias depois das primeiras notícias do desaparecimento de Eliza Samudio, o clube já tinha anunciado a suspensão do contrato do arqueiro e retirado as camisas de goleiro das lojas do clube, tentando evitar a associação com o crime.

 

 

Biblioteca é o novo lar de Bruno na penintenciária
 
Na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, Bruno Fernandes tem procurado o que fazer para passar o tempo. Começou atuando na faxina interna, limpando até mesmo os banheiros da cadeia. O ex-goleiro de Atlético e Flamengo passou pela fábrica de bolas, fez artesanatos e crochês. Hoje é o responsável pela biblioteca do presídio.
 
Bruno toma conta de todas as obras catalogadas na Nelson Hungria. Organiza os livros em sequência alfabética, os limpa e tenta manter as edições em bom estado de conservação.
 
O trabalho na prisão é algo comum entre os detentos, como explica o advogado Rui Pimenta, defensor do arqueiro Bruno.
 
"Ele está tendo uma ascensão lá dentro (nos empregos). Eles (direção da cadeia) têm que dar atividade para presos provisórios, que ainda não têm condenção. Acho que é o calvário dele (ficar preso). Mas isso já está passando", disse confiante na absolvição de seu cliente.
 
Com o contato íntimo com os livros, Bruno está tomando gosto por uma obra especial:  Bíblia. Segundo Pimenta, o detento sabe todos os versículos e pretende deixar a prisão como pastor.
 
"A Bíblia é o preferido de Bruno. Ele vai sair de lá pastor. Sabe os versículos todos. Bruno pega com Deus e está pagando um pecado de todos nós. Ele é inocente nesta parada. Não soube escolher os amigos, mas é um homem bom. Sem ter prova que era pai do menino, mandou registrar. Ele é um homem do bem".
 
Futebol ainda presente
 
Bruno, entretanto, não abandonou a prática esportiva. O futebol, que outrora foi a profissão, hoje faz parte do lazer. Ele atua nas peladas entre os detentos, ora no ataque, ora como goleiro, função que exercia nos campos profissionais. As embaixadas também fazer parte das brincadeiras durante estes momentos.
 
Bom relacionamento
 
Bruno tem alguns amigos na Nelson Hungria. De acordo com o advogado do jogador, ele já fez amizades no local e é muito querido, até mesmo por ter sido um atleta reconhecido nacionalmente.
 
Aliás, a exposição na penintenciária gera até mesmo ciúmes por parte de outros detentos.
 
"Todo mundo é louco por ele, tem boas amizades lá. Ele tem um bom caráter. Até gera ciúmes por causa da fama dele. Como em todo lugar, há pessoas que têm inveja", argumentou.

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