Bullying é recorrente nas escolas da capital, mas punição deixa a desejar

Ana Júlia Goulart e Mariana Durães
horizontes@hojeemdia.com.br
23/10/2017 às 21:09.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:21
 (Pedro Gontijo)

(Pedro Gontijo)

A prática é recorrente e faz parte da rotina de estudantes tanto de escolas públicas quanto particulares de Belo Horizonte. Por outro lado, faltam ações de prevenção e combate ao bullying. O tema veio novamente à tona após um jovem de 14 anos matar dois colegas de classe na última sexta-feira, em Goiânia, supostamente por ter sofrido atos do tipo. 

Na capital mineira, os estudantes confirmam os ataques. “Rola muito e nem em casos extremos há punição. Geralmente, conversam e preferem abafar o caso”, conta uma estudante do 8º ano de uma escola particular na região central. “Nunca tivemos palestra nem ação sobre isso”, reforça uma aluna da rede pública.

Adolescentes que acompanharam o caso ocorrido em Goiânia garantem estar chocados. “Foi um atitude extrema”, explicou um estudante do 8º ano. Porém, segundo especialistas, não se pode deixar a situação chegar ao limite.

Adriana Torres Monteiro, coordenadora pedagógica da escola Balão Mágico e professora de psicologia da PUC Minas, afirma que cassos como apelidar o colega são corriqueiros, mas podem virar um grande problema. “A vítima deve reagir, mas não de forma extrema também. Quem faz o bullying e quem sofre precisam de um mediador, para que possam conversar, resolver e criar regras de convivência”.

Para evitar as “brincadeiras”que incomodam, muitos pais preferem mudar os filhos de escola; problemas devem ser relatados à família, que pode ajudar

Alvos

Os ataques atingem, em geral, aqueles com aparência física ou personalidade diferentes dos demais colegas. São alvos, dentre outros, os alunos com sobrepeso, que usam óculos, aparelho dentário ou os mais quietos.

Raramente quem pratica o bullying assume a culpa. “Nunca fiz”, diz um aluno em meio a um grupo de adolescentes de cerca de 14 anos. “Já sim. Lembra do Lucas?”, denuncia um amigo.

Solução

Em muitos casos, os pais optam por trocar o filho alvo das chacotas de escola. Foi assim com Miguel, de 10 anos, e Helena, de 13, que pediram transferência ao não encontrarem apoio nas instituições de ensino onde estudavam. “Amigas começaram a me excluir e a me atacar sem motivo. Me senti muito mal e essa foi a solução que encontrei. Já tinha conversado na escola e nada foi resolvido”, conta a adolescente.

Já Miguel conseguiu identificar o que causava o bullying. “Eles me zoavam porque eu era gordinho”, relembra. 

Mãe de um adolescente vítima de bullying, Verônica Rabelo, de 29 anos, diz que nem sempre a escola colabora. No caso dela, até dificultou a transferência do aluno. “Tive que acionar o conselho tutelar”. Para apoiar o filho, Verônica decidiu mudar atitudes dentro de casa, trabalhando a aceitação do garoto. “Ele precisava entender que todo mundo é diferente e que isso é normal. Hoje ele está muito mais tranquilo”, conta.

Chacota ultrapassa os muros das instituições de ensino

O bullying que começa na escola, muitas vezes, acaba invadindo as redes sociais. Nas publicações de colegas, uma enxurrada de comentários maldosos. Foi o que contou uma estudante de 14 anos, da escola pública, a respeito de uma colega. “Chamavam-na de ‘gorda’ na sala. Quando ela postou uma foto de biquíni, todos começaram a zoar, foram mais de 50 publicações”, diz.

Quando não acontecem na rede virtual, as postagens servem para fomentar os ataques pessoalmente. O que é publicado por quem é alvo de chacotas acaba virando comentário em sala de aula. 

“A pessoa que está incomodada pode tanto mudar o comportamento na internet quanto bloquear quem o ataca. Mas é preciso buscar a ajuda da família e da escola, porque o problema que acontece ali provavelmente começou no contexto escolar”, explica a professora de psicologia da PUC Minas Adriana Torres Monteiro.

Prevenção

A especialista reforça que a melhor prevenção é “propor um projeto de educação em que a diversidade realmente seja trabalhada”. 

A Secretaria de Educação de BH explicou que está remodelando uma ficha de notificação de bullying que deve ser lançada em 2018, sendo possível construir um banco de dados para se pensar em ações.

Já a Secretaria de Estado de Educação garantiu estimular o diálogo em todas as escolas. Em nota, o órgão disse orientar as unidades escolares a desenvolverem o Plano de Convivência Democrática, “propondo atividades pedagógicas e iniciativas com foco na prevenção contra a violência no ambiente escolar, o respeito ao próximo e a mediação de conflitos”.

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