Camisinhas somem dos postos de saúde de BH e o risco de doenças aparece

Simon Nascimento
scruz@hojeemdia.com.br
06/09/2018 às 20:51.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:20
 (Riva Moreira)

(Riva Moreira)

Faltam preservativos em vários centros de saúde de Belo Horizonte. Em alguns, os estoques estão zerados há três meses. A escassez é provocada por problemas na distribuição pela empresa responsável. O risco maior é o comprometimento da prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). Na capital, 1.517 casos de Aids foram notificados desde 2015. 

O fornecimento irregular também prejudica municípios do interior. Em Minas, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que há desabastecimento. Conforme a pasta, 3,3 milhões de camisinhas deveriam ser recebidas a cada 30 dias. O Ministério da Saúde disse que o envio deve ser retomado ao longo de setembro.

No primeiro semestre deste ano, 200 casos de HIV foram registrados em BH

Vazias

Nos postos de saúde de BH, apenas caixas de preservativos vazias são encontradas. A equipe do Hoje em Dia identificou a falha em 17 locais de todas as regionais, com exceção de Venda Nova. O prejuízo, no entanto, não é apenas para os usuários.

“Todas as meninas estão tendo que comprar camisinha para trabalhar. Assim, além do aluguel do quarto, tem mais esse gasto. A gente acaba tirando 50% de tudo que foi arrecadado no dia para pagar dívidas”, diz a coordenadora-geral da Associação de Prostitutas de Minas Gerais (Aspromig), Cida Oliveira.

Ela e outras mulheres são beneficiadas pelo programa BH de Mãos Dadas contra a Aids, da ONG Associação Cidadãos Posithivos-Acp Sempre Viva. O projeto distribuía, mensalmente, 11.200 proteções para mais de 6 mil pessoas em BH. O grupo também faz a entrega de 5 mil unidades para cidades da Grande BH. Moradores de rua e famílias em situação de vulnerabilidade social também são atendidos.

“Trabalhamos com a prevenção dessa população que chamamos de ‘chave’, porque estão na zona de risco das doenças. Com a falta, aumentam as chances de infecção”, afirma a assistente social Rose Campos, que coordena o programa.

Riscos

Professora do Departamento de Ginecologia da UFMG, Sara de Pinho reforça que tratar uma enfermidade, como a Aids, é mais caro que fornecer preservativos. “Uma vez que o adolescente vai ao posto e não encontra a camisinha e começa a vida sexual sem proteção, ela pode se contaminar com uma infecção sexualmente transmissível e pode se tornar um vetor de doenças”, disse.

Além do perigo das DSTs, a especialista acrescenta que a situação prejudica o planejamento familiar. A docente destaca que um dos principais objetivos da camisinha é a prevenção da gestação não planejada.

Em nota, a Secretaria de Saúde de BH informou que, desde junho, não recebe a cota destinada e “para suprir a demanda, até o momento, as unidades de saúde utilizam o estoque interno”. Já a SES disse que encaminhou vários e-mails às regionais e serviços vinculados para avisar sobre a indisponibilidade.

O Ministério da Saúde garantiu que as providências cabíveis quanto aos atrasos estão sendo tomadas. Também por meio de nota, a FBM Indústria Farmacêutica, responsável pela distribuição, informou que não conseguiu cumprir o prazo “devido à burocracia, pois a fornecedora é empresa localizada na Índia”. Segundo a FBM, foram entregues seis parcelas de preservativos (422 milhões), restando duas. A distribuidora acredita que o “fornecimento será imediatamente retomado”.

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