Campanha sugere levar idosos de regiões vulneráveis para hotéis

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
29/03/2020 às 12:26.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:07
 (Divulgação/Urbel)

(Divulgação/Urbel)

"Quando o coronavírus chegar à periferia, será um massacre", alerta o arquiteto Alexandre Nagazawa, que representa o Instituto de Arquitetos do Brasil num grupo de organizações e coletivos ligados à questão urbana e que está liderando uma campanha - chamada "quartos de quarentena" -, para que pessoas em situação de risco e moradores em comunidades vulneráveis possam ser alocadas para hotéis.

Para Nagazawa, o vírus vem se alastrando rapidamente e esta população carente será muito impactada, independentemente se houver ou não isolamento horizontal (como as autoridades vêm definindo a quarentena mais ampla). "Ela não tem como ficar protegida ou isolada corretamente. As pessoas continuam circulando e se aglomerando, dividindo quartos com mais dois ou quatro", assinala o arquiteto.

 Como a rede hoteleira está ociosa, com apenas 10% da taxa de ocupação, já que o turismo foi um dos segmentos mais afetados pelo coronavírus, o grupo de entidades viu a possibilidade de trabalhar dois problemas - o econômico e o social. "Há uma quantidade enorme de leitos, com infra-estrutura instalada e operante", destaca. Segundo levantamento da campanha, são 21.500 disponíveis em Belo Horizonte.

Ele frisa que não se trata de transformar quartos em UTIs de hospital. "Para estes leitos seriam levadas pessoas saudáveis, que estão nesta faixa de risco e que são imunodepressivas", reforça. A partir de dados do Cadastro Único, do governo federal, o grupo calcula que 67,5 mil pessoas se enquadrariam neste perfil. Ou seja, menos de 1/3 desta população poderia ser atendida e isolada em hotéis.

"Precisaríamos de um critério de prioridades, atendendo primeiramente quem tem acima de 80 anos, depois os com mais de 70 e assim por adiante", afirma Nagazawa, que enfatiza que esta ação não seria feita de maneira compulsória. "Não seria uma ocupação ou uma requisição de imóveis, como prevê o artigo quinto da Constituição Federal, para casos de calamidade. Seria tudo acordado com o empresariado", afirma.

"Não temos dúvidas de que estas pessoas em situação vulnerável serão aquelas que morrerão nas filas de hospitais. Infelizmente, o sistema (de saúde) não irá aguentar. Segundo projeções, haverá um crescimento de casos em abril, com a necessidade de internações, e o sistema irá sobrecarregar, colapsar", analisa. Em Minas Gerais, já são 123 casos confirmados, de acordo com relatório divulgado hoje pela Secretaria de Estado da Saúde.

Quem quiser endossar a campanha, pode acessar o site bh.quartosdaquarentena.org. Nagazawa ressalta que esta plataforma pode ser replicada em qualquer lugar do país. "O IAB, em nível nacional, já está empenhado em fazer esta difusão da campanha. Existe no site um link para engajamento e toda a equipe está apta a passar as coordenadas para se fazer a campanha em qualquer  cidade do Brasil".

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por