Casarões do início do século passado estão abandonados

Letícia Alves e Gabriela Sales - Hoje em Dia
21/01/2015 às 07:27.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:44
 (Flávio Tavares/Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/Hoje em Dia)

Afastados dos principais circuitos turísticos de Belo Horizonte, casarões de arquitetura popular, datados da época da fundação da cidade, no início do século 20, estão em estado de penúria. Tombados pelo patrimônio municipal, são ao menos 24 imóveis nesta situação, nos bairros Floresta, Santa Efigênia e Lagoinha, todos de propriedade particular. Os donos reclamam do alto custo da reforma e da burocracia para dar início às obras.

Na rua Niquelina, no Santa Efigênia (região Leste), um conjunto de oito imóveis residenciais e comerciais, de um mesmo proprietário, está pichado, com paredes trincadas e portas e janelas danificadas. As edificações localizam-se próximo à esquina com a avenida do Contorno.

Em 2011, um projeto para a construção de um hotel no meio dos terrenos, garantindo a restauração dos imóveis – que formariam a fachada do empreendimento –, foi aprovado pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município, mas a obra não foi adiante.

Na rua Itajubá, no bairro Floresta (Leste), a situação não é diferente. Seis casarões correm o risco de desabar. A falta de manutenção é evidente: lixo, pichação e deterioração são problemas comuns a todos os imóveis.

Na rua Itapecerica, no bairro Lagoinha (Noroeste), também falta conservação. São quatro imóveis tombados pelo patrimônio, todos com apenas as fachadas de pé, prestes a ruir. “É a memória da cidade se perdendo com o tempo”, diz o comerciante Maurício de Andrade, dono de um antiquário na rua.

Importância

Professora de teoria e história da Escola de Arquitetura da UFMG, Celina Borges explica que essas edificações, levantadas fora do cinturão da avenida do Contorno, serviram de moradia para operários que ajudaram a construir a cidade. São regiões planejadas pela Comissão Construtora da Nova Capital como áreas suburbanas.

“A arquitetura desses casarões reflete o desenho das grandes edificações das áreas urbanas, como da Praça da Liberdade. São versões mais simples e com materiais mais baratos, feitas por mestres de obra e pedreiros que trabalharam nas construções mais sofisticadas”, explica Celina.

A arquitetura dos imóveis dessa época, avalia a professora, é de extrema relevância. “É importante porque é a cultura dos moradores traduzida pela arquitetura. No entanto, a maioria é de propriedade particular. Acaba que questões econômicas inviabilizam a preservação”.

Responsabilidades

A Fundação Municipal de Cultura esclarece que é responsabilidade do proprietário a preservação do imóvel tombado. Ainda de acordo com o órgão, no caso de estado de abandono, o dono é notificado para realizar obras, podendo recorrer a leis de incentivo à cultura e a programas culturais. Em caso de não cumprimento das exigências, o proprietário pode responder judicialmente por dano ou omissão na preservação do patrimônio cultural.

Com muito custo, dona de uma das primeiras construções da cidade consegue reformar

Belo Horizonte ainda conta com edificações que resistem ao tempo. Na rua Itajubá, no bairro Floresta, região Leste, apenas o casarão da empresária Maria Geralda dos Santos, de 51 anos, ganhou sobrevida. Os traços do imóvel revelam uma certa influência da arquitetura colonial. “Pelo que sei, o casarão foi o segundo a ser construído na cidade, época em que o bairro Floresta era uma enorme fazenda. Aqui era uma das sedes”, conta.

Mas preservar não é tarefa fácil. “A prefeitura disponibiliza um pequeno desconto no IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano), mas não é suficiente. Arcar com reformas e restauração requerer um custo alto”, diz.

Proprietários de imóveis tombados afirmam que essa falta de incentivo financeiro é uma grande dificuldade para manter o bom estado de conservação.

A empresária Maria Geralda não revela os custos das mais de três restaurações feitas no imóvel, mas diz que os valores chegaram à casa dos milhares de reais. “Qualquer tipo de intervenção precisa de planejamento, elaboração de projetos e passar por uma análise, para depois ser aprovado. Antes de a obra começar de fato, o gasto é alto”, explica.

A poucos metros do imóvel de Geralda, na rua Curvelo, restam apenas as fachadas de três imóveis tombados. Os casarões foram restaurados em 2011. As fachadas foram pintadas, preservando as características originais. Todos viraram pontos comerciais. Pelo menos uma vez por mês, a pintura precisa ser renovada para a retirada das pichações. “Tentamos manter a entrada do comércio o mais limpo possível. Mesmo alugado, é a nossa forma de preservar o prédio restaurado”, diz Marília Elisa Alves, gerente de uma loja de roupas.

Tombamento

Moradores do bairro Santa Tereza aguardam pela proteção coletiva do bairro. Segundo a Fundação Municipal de Cultura, a ideia é a de que o tombamento sirva para valorizar a região. A expectativa é a de que o processo aconteça ainda no primeiro semestre deste ano. Atualmente, o Santa Tereza tem 13 imóveis tombados. 

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