Caso Backer: bancário vítima de intoxicação por dietilenoglicol tem alta do hospital após 6 meses

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
08/06/2020 às 14:31.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:43
 (ARQUIVO PESSOAL)

(ARQUIVO PESSOAL)

"Meu apartamento tem apenas 70m², mas agora  é como se fosse uma mansão para mim", comemora Luciano Guilherme, após passar 180 dias hospitalizado devido à intoxicação pela substância dietilenoglicol, encontrada em lotes de cervejas da Backer.

Feliz por estar de volta para casa, o bancário de 57 anos, residente do bairro Buritis, teve alta na última quarta-feira (3) do hospital Mater Dei e ainda passará por um longo processo de recuperação, com fisioterapia e fonoaudiologia.

"Estou comendo melhor, dormindo melhor. É outra coisa!", analisa Guilherme, sobre os primeiros dias de retorno. Ele lembra os momentos ruins nos seis meses de hospital, quando passou por diversas cirurgias e teve uma parada cardiorrespiratória.

"Entrei no hospital em 6 de dezembro, imaginando que faria alguns exames e sairia dois dias depois. Mas só fui acordar após 65 dias no CTI, sem entender o que estava acontecendo", observa Guilherme, que hoje só tem 28% da capacidade renal.

O bancário é uma das 42 pessoas que foram identificadas pela Polícia Civil como vítimas de intoxicação de um determinado lote da cerveja Belorizontina, produzido pela cervejaria mineira Backer. As investigações ainda estão em curso.

Com paralisia facial que lhe impede de falar e mastigar adequadamente, Guilherme também teve prejudicada a sua visão. No Mater Dei, passou por uma cirurgia de colostomia, com a extração de 70 centímetros do intestino.

Atleticano roxo, ele di que deve à paixão pelo clube o fato de não ter sucumbido. Curiosamente, no dia seguinte a um jogo que assistiu no Mineirão, contra o Botafogo, pelo Campeonato Brasileiro, ele começou a passar mal.

"Sempre fui um apreciador de cerveja. Aproveitei uma promoção da Black Friday no supermercado e comprei duas caixas. A primeira vez que passei mal fui para o Biocor, onde a minha pressão chegou a 22 por 6", recorda.

Após ter a pressão estabilizada, ele retornou para casa, mas no outro dia foi para o Mater Dei, com dores abdominais e na cabeça. "Não conseguia urinar e colocaram uma sonda em mim. Imediatamente viram que a situação era grave e me internaram".

Sem poder trabalhar e só contando com os recursos da aposentadoria, já que a esposa teve que largar um emprego de 27 anos para cuidar dele, Guilherme vive a expectativa de uma conclusão para o caso.

"Em primeiro lugar, pensamos na minha sobrevivência. Depois na Backer. Mas (a cervejaria) não fez nada até hoje, sem cobrir nada das despesas do hospital, além da renda que perdi do meu trabalho", lamenta.

Inquérito

O inquérito policial está próximo do fim, após 60 pessoas terem sido ouvidas. Por decisão judicial, cerca de R$ 50 milhões da Backer foram  bloqueados. É o que impede, de acordo com a cervejaria, a prestação de auxílio às supostas vítimas.

A Backer informa que espera uma decisão judicial sobre a possibilidade de venda do estoque de cerveja (240 mil litros de cerveja envasados) para que os valores sejam repassados.

Em nota, ela observa que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) "entregou à Backer exames que atestam que 219 lotes de cerveja em estoque estão 'de acordo com os padrões oficiais de identidade e qualidade estabelecidos" e que está pleiteando na Justiça a venda desse estoque certificado pelo Mapa, para que possa honrar compromissos empresarias (colaboradores, funcionários e fornecedores)".

A cervejaria diz que solicitou que parte desse recurso seja utilizado para pagamento do auxílio emergencial a consumidores com sintomas de intoxicação. A empresa reconhece que "algo de muito grave aconteceu e reitera que vai honrar com todas as suas responsabilidades". E  garante que "jamais adquiriu dietilenoglicol, substância suspeita de ter causado a intoxicado de consumidores".

Sobre o pagamento de auxílio emergencial e despesas médicas, explica  que "a judicialização do caso e o bloqueio dos bens da empresa e de seus sócios inviabilizaram as iniciativas da empresa".

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