Casos de assédio em ônibus e metrô triplicam no Estado; BH lança 'botão do pânico'

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
22/10/2018 às 21:01.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:22
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Os casos de assédio a mulheres no transporte de passageiros em Minas triplicaram de janeiro a setembro na comparação com o mesmo período do ano passado. Os registros foram feitos em ônibus, metrôs e trens dos transportes coletivo e privado, segundo informações da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp). Enquanto, em 2017, apenas 15 ocorrências haviam sido contabilizadas, em 2018 o número saltou para 48.

Apesar do crescimento, especialistas garantem que o número ainda é subnotificado, uma vez que nem todas as mulheres formalizam a denúncia. No fim de setembro, a importunação sexual tornou-se crime tipificado no Código Penal. Agora, quem for condenado pode pegar de 1 a 5 anos de prisão. 

Os números podem chamar a atenção, mas para grande parte das mulheres refletem uma realidade que já se tornou comum dentro do transporte público, principalmente das grandes cidades. Em Belo Horizonte, os relatos de “encoxadas”, “passadas de mão” e olhares intimidadores durante as viagens são frequentes. 

Que o diga a funcionária pública Sátila Bispo, de 34 anos. Ela conta já ter passado por experiências “repugnantes” ao ser tocada por desconhecidos dentro do vagão do metrô. “Na última vez, um senhor veio desde a Estação Vilarinho até a Lagoinha encostando em mim o tempo inteiro. Você chega a ficar em dúvida, não tem certeza se aquilo está mesmo acontecendo”, diz.

A estudante universitária Gabriela Soares, de 25 anos, afirma que o problema é tão comum que ela se acostumou a andar sempre com “cara de brava” nos trens para evitar a aproximação de possíveis agressores. “O assédio pode acontecer só com o olhar e, mesmo assim, já é horrível”.

Ações

A angústia de mulheres que sofrem diariamente com esse tipo de importunação pode estar com os dias contados, pelo menos dentro dos ônibus da capital mineira. A partir de novembro, todos os 2.900 coletivos que circulam pela metrópole terão um “botão do pânico” que, ao ser acionado pelo motorista, enviará um alerta instantâneo para a Guarda Municipal.

A iniciativa faz parte de um projeto da corporação para coibir a prática criminosa no transporte público. Pelo menos dois mil veículos já têm o dispositivo instalado.
 Lucas Prates/Hoje em Dia Para evitar as investidas nos trens, Gabriela afirma fazer “cara de brava”


​Além disso, em parceria com a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), BHTrans e Transfácil, quatro agentes farão panfletagem, entrega de dez mil apitos e irão conversar com passageiras. O objetivo é indicar formas de ação em situações de vulnerabilidade.

A Guarda Municipal informou que, hoje, 80 agentes atuam no projeto Viagem Segura; a Polícia Militar foi procurada, mas não se manifestou até o fechamento da edição

“A minha dica é, se possível, manter a calma, acionar a Guarda pelo 153, pedir ajuda de outros passageiros, mas não se calar”, afirma a agente Aline Oliveira, que atua no desenvolvimento da campanha.

Usuária do metrô, a advogada Jéssica de Souza Neves, de 25 anos, comemora o lançamento das ações. “Tudo que vem para somar no combate ao assédio é válido. Já testemunhei inúmeros casos, é mais comum do que se imagina”, diz.

939 casos de assédio foram anotados em Minas Gerais de Janeiro a setembro deste ano, conforme dados da Sesp


Incentivo

Para a pesquisadora Luana Hordones, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, o mecanismo dentro dos ônibus pode contribuir à medida que der visibilidade a um problema que ainda é “invisível” para a sociedade.

“Esse tipo de assédio é sempre uma violência velada, além de as mulheres serem muitas vezes culpadas pelo fato. Por isso, o número de denúncias ainda é muito pequeno”, analisa a especialista. (Colaborou Mariana Durães)


 

  

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