Chuva recorde acende alerta em 2.100 mil imóveis de BH

Raul Mariano*
rmariano@hojeemdia.com.br
15/11/2016 às 07:35.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:39

A expectativa de um período chuvoso mais intenso do que o registrado nos últimos dois anos elevou o nível de alerta nas vilas e favelas de Belo Horizonte. O risco de deslizamentos de terra é uma realidade para 2.100 imóveis erguidos sob encostas ou à beira de barrancos. 

Até o fim da temporada de chuva, que começou em outubro e termina em março, a média histórica de 1.318 milímetros pode ser superada em até 20%. Na comparação com o ano anterior, o volume de precipitações pode ser até 30% maior.

A maioria das residências em situação de alto risco de deslizamento – conforme dados do Diagnóstico da Situação das Áreas de Risco Geológico das Vilas e Favelas de BH – estão em comunidades do bairro Taquaril, na regional Leste, e do Aglomerado da Serra, região Centro-Sul.

O medo de ser engolido por toneladas de terra e escombros é o principal companheiro de muitas famílias. O drama é vivido por Débora Cristina Barbosa de Souza, de 26 anos, na Vila Novo São Lucas, no Aglomerado. Mãe de dois meninos, um de 9 anos e outro de 1, ela teme que a encosta de mais de cinco metros de altura desabe sobre o cômodo em que mora. 

“Tenho muito medo da ventania durante a noite. Minha preocupação maior é com meu (filho) pequeno”, conta. 

ENTULHO
Perto dali, na Vila Fazendinha, o processo de desapropriação de várias casas para a construção da rua Cruzeiro do Sul está paralisado. Enquanto a obra não é retomada, o entulho da demolição corre o risco de cair sobre uma escola municipal situada poucos metros abaixo. 

Apesar do perigo, ainda há muita resistência das pessoas em abandonar as casas. Na divisa com o município de Sabará, entre o Taquaril e o bairro Castanheiras, o perigo é ainda mais evidente. Pai de nove filhos, Antônio Dias dos Santos, de 73 anos, mora próximo a duas casas que desabaram com as chuvas do ano passado. Mesmo após o acidente ele e a família não saíram de casa. “Não temos para onde ir. Já vieram aqui pedindo para que a gente saísse, mas a conversa não andou e acabamos continuando aqui”, conta.

A Defesa Civil de Sabará informou que as vistorias são feitas regularmente, mas não há como impedir que os moradores voltem aos locais de risco, apesar de todas as recomendações.

Além disso

Ano mais quente da história

A Organização Meteorológica Mundial – uma agência especializada das Nações Unidas – divulgou ontem um estudo no qual aponta que 2016 “provavelmente” será o ano mais quente da história, superando o recorde batido em 2015. Dados preliminares mostram que o aumento da temperatura global neste ano será 1,2°C acima dos níveis pré-industriais. Segundo o levantamento, as temperaturas registradas entre janeiro e setembro de 2016 ficaram 0,88°C mais altas do que a média entre 1961 e 1990 (14ºC).

Resultado do fenômeno El Niño
O pico de temperatura foi registrado nos primeiros meses do ano devido à intensidade registrada em 2015 e 2016 do fenômeno conhecido como El Niño, que provoca o aquecimento das águas em alguns pontos do Oceano Pacífico. Esse calor contribuiu também para o branqueamento dos recifes de coral e a elevação do nível do mar acima do normal, informou a Organização. Ainda segundo a entidade, apesar de o calor do El Niño já ter sido amenizado, os efeitos continuarão a ser sentidos no planeta.

Alagamentos também preocupam Defesa Civil

BH tem 215 vilas, favelas e conjuntos habitacionais. Cerca de 450 mil pessoas moram nesses locais, o equivalente a quase 20% da população da capital.

Segundo a prefeitura, durante todo ano é feito um trabalho preventivo. As medidas consistem em vistorias, monitoramento, remoção de famílias e obras como muros de contenção, escadarias de acesso, impermeabilização de lajes e encostas, dentre outras intervenções. Capaci-tações com voluntários também são desenvolvidas.

De janeiro a outubro deste ano, foram realizadas 1.458 vistorias em moradias erguidas em vilas e favelas. As famílias removidas recebem uma bolsa moradia de R$ 500 até o reassentamento definitivo em uma unidade habitacional.

Alagamentos
Além dos riscos de deslizamentos de terra, alagamentos e inundações nas partes mais baixas da cidade também preocupam a Defesa Civil de BH. De acordo com o chefe do órgão, coronel Alexandre Lucas, a capital tem 80 pontos com risco de inundação, todos sinalizados. 

Ele explica que locais como a avenida Teresa Cristina são focos de maior atenção, principalmente com a conclusão do viaduto do Barreiro, que aumentou o fluxo de veículos na região.

“A principal recomendação é não passar por esses pontos nem de carro nem a pé. Estamos realizando ações conjuntas com o Corpo de Bombeiros e vamos treinar a comunidade para prestar o socorro às vítimas”.

Parcerias
Outra ação que tem dado resultado, segundo o coronel, é a utilização de mensagens de texto enviadas pelo celular para alertar moradores sobre temporais. 

“Estamos muito atentos às situações da rua Sustenido, na Serra, e Vila Chaves, no Califórnia, que são locais com situação delicada. Em termos de risco, a situação (em toda a capital) é igual. Agora, vamos ter mais chuva que o ano passado e isso preocupa”. 

A Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel) não havia se posicionado, até o fechamento desta edição, sobre a desapropriação dos moradores da Vila Fazendinha, local onde será construída a rua Cruzeiro do Sul.

*Com Liziane Lopes

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por