Áudio de professor causa polêmica na internet e docente diz que frases estão fora de contexto

Bruno Inácio
binacio@hojeemdia.com.br
23/08/2018 às 15:48.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:04
 (Reprodução/Youtube)

(Reprodução/Youtube)

Um vídeo postado nesta quarta-feira (22) no Youtube, gravado por um aluno do Centro Universitário Una, de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, exibe declarações polêmicas de um professor do curso de direito durante uma aula na unidade. Na internet, há reações contrárias e a favor do docente, que se manifestou dizendo que as frases foram retiradas de contexto e não expressam seu posicionamento sobre os temas.

O vídeo já foi visto mais de 11 mil vezes e tem mais de cem comentários, a maioria cobrando uma postura da universidade com relação ao tema. Nos áudios, o professor diz frases machistas e racistas, como “não haveria escravidão se o negro não consentisse com ela e nunca tem nada a ver com cor” e “coloca feminista no Google e coloca imagem, pra você ver que ‘mulherzada’ horrorosa”.

As declarações foram dadas durante uma aula de Filosofia, na última terça-feira (21). O tema da exposição era “Preconceito”. Durante a aula o professor teria citado que “há 30 anos, mulher não trabalhava e elas não saíam pra rua afora batendo em ninguém não, arrancando sutiã”. No vídeo também há frases polêmicas sobre homossexuais. (ouça o áudio abaixo)

Em resposta publicada nas redes sociais, o professor se defendeu, dizendo que as frases foram ditas fora do contexto da aula. “As frases citadas foram ditas dentro do contexto de hipóteses usadas para justificar como o preconceito é muitas vezes verbalizado e não como ponto de vista próprio”, afirmou o docente, que dá aulas no Una há sete anos.

Ele também agradeceu as manifestações de apoio que tem recebido e citou que nunca havia tido retornos deste tipo por causa da aula, e convidou as pessoas que se incomodaram com o vídeo a conhecê-lo, para esclarecimentos.  Até a publicação desta reportagem, a resposta do profissional já havia sido compartilhada 16 vezes e contava com 40 manifestações de apoio dos alunos.

Em nota, a Una disse que “não tolera qualquer tipo de discriminação em suas instalações” e que se orgulha “de toda a diversidade que a Universidade abraça”. A instituição informou ainda que vai avaliar e apurar as denúncias recebidas e “adotar as medidas cabíveis”.

Nesta quinta-feira (23), alunos do curso de direito farão uma manifestação em apoio ao professor, às 20h30, na unidade de Contagem da universidade.

Veja o vídeo com as declarações polêmicas que foi postado na internet.

Leia na íntegra a resposta do professor sobre os áudios polêmicos:

Belo Horizonte, 23 de agosto de 2018 -

Em respeito a todos os alunos e ex-alunos para os quais ministrei e ministro aulas nos meus 7 anos de vida acadêmica, gostaria de esclarecer um fato que chegou a mim na manhã do dia 22 de agosto de 2018.

Na data supracitada, recebi o contato da diretoria da UNA Contagem informando-me sobre o desconforto de um estudante em relação à aula de Filosofia que ministrei na noite do dia 21 de agosto sobre o tema “Preconceito”.

Na aula ministrada, para explicar o contexto do conceito do Pré-conceito para e deixar claro que ele se constitui uma opinião errônea que é aceita passivamente sem passar pelo crivo do raciocínio ou da razão (conceito do filósofo Norberto Bobbio), citei hipóteses sobre julgamentos comumente usados em nossa cultura.

Ministrei uma aula de 1h30 discorrendo sobre o tema, que é bastante importante para os profissionais de qualquer área nos dias atuais. Sei que é um tema delicado e que trata do comportamento humano, sendo passível de entendimento errôneo, motivo pelo qual venho me posicionar.

Assim, venho informar:

1 – Esta aula de 90 minutos foi resumida por um estudante em 14 frases que, para serem pronunciadas não tomam mais que 2 minutos e que, se olhadas em separado, causam desconforto até a mim mesmo.

2 - Estas frases soltas e tiradas do contexto não refletem a minha opinião como ser humano e muito menos como professor.

3 – As frases citadas foram ditas dentro do contexto de hipóteses usadas para justificar como o preconceito é muitas vezes verbalizado e não como ponto de vista próprio.

Em 7 anos de academia nunca tive um problema de nenhuma ordem nem junto aos estudantes, colegas de trabalho ou direção das escolas por onde passei. Já ministrei aulas outras vezes com este mesmo tema e sempre recebi como feedback o que ouvi ontem de alunos que permaneceram todo o tempo na sala e disseram ter sido esta uma ótima aula.

Ressalto que minha paixão por ensinar e minha missão por compartilhar conhecimentos já foi reconhecida neste tempo pelos próprios estudantes (que em algum momento vivenciaram uma aula como a de ontem) o que resultou no meu nome indicado como paraninfo por várias vezes e como professor homenageado pelo menos outras 10 vezes. Agradeço as inúmeras manifestações de apoio que tenho recebido.

Por fim, reitero o que disse ao fim da aula da qual foram pinçadas as frases (e que quem estava em sala de aula escutou) - antes de ter um pré- conceito dedique-se à ter um conceito. Convido a quem quiser me conhecer, me conheça antes de ter em relação a mim um pré-conceito

Atenciosamente,

Professor Fabiano Zica

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