Adeus sem despedida: artista homenageia avó e vítimas da Covid na Praça Tiradentes, em Ouro Preto

Vivian Chagas (*)
@vivisccp
21/10/2020 às 14:18.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:51
 (Reprodução/Instagram)

(Reprodução/Instagram)

Luto sem adeus. Essa é a realidade que parentes e amigos de vítimas da Covid-19 enfrentam na hora da despedida. Com velórios vetados devido ao risco de contaminação pelo vírus, muitos não têm a oportunidade de dar adeus aos seus entes queridos. Foi o que aconteceu com a travesti, artista e dançarina Vina Amorim. Sem poder se despedir da avó, a artista realizou uma ação emocionante na Praça Tiradentes, em Ouro Preto, na região Central de Minas Gerais, homenageando cada uma das 150 mil pessoas mortas no Brasil pelo coronavírus.

O ato, que foi batizado com o nome de "Lourdes não é um número”, homenageia Lourdes Ribeiro da Silva Amorim, avó da artista, que foi enterrada com suspeita da Covid-19: "Minha avó morava no interior de São Paulo, e eu não pude viajar  nem dar o último adeus devido à pandemia. Não consegui me despedir", conta.

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Envolvida por um saco plástico de alta resistência usado para embalar as vítimas do vírus, vestida com as roupas da avó e máscara, a artista começou sua homenagem nesta segunda-feira (19), às 17h na Praça Tiradentes. 

Durante 21 horas praticamente sem interrupção, permaneceu imóvel para velar a morte das vítimas da Covid no Brasil. A performance foi transmitida no instagram de Vina de hora em hora durante 15 minutos, remetendo aos 150 mil mortos, para que o público que não estava nas ruas pudesse acompanhar e velar as vidas perdidas em tempo real ou apos a finalização da transmissão. 

Confira o vídeo:

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Durante a performance, a artista conta que sentiu um pouco de todos os sentimentos, inclusive medo, melancolia e tranquilidade: "Tive muitas sensações distintas durante o ato, como  pavor  e medo de morrer. As vezes também pensava na minha avó, isso me trazia tranquilidade e me conectava com o foco da ação no passar das horas. Entendi também em um momento que o tempo iria passar, então teria que ficar tranquila e respirar", lembra.

Vina faz questão de frisar que não realizou a ação sozinha. Contou com o apoio de testemunhas, amigos e da família: "Muitos amigos me ajudaram a filmar, publicar os vídeos, compartilhar, e também ficaram preocupados com o meu bem estar deitada na praça devido ao tempo chuvoso da cidade", conta.

A performance também faz parte da finalização da disciplina de “Performance, Gênero e Feminismo” do programa de Pós Graduação em Artes Cênicas da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) ministrada pela professora Nina Caetano.

(*) Estagiária, sob supervisão da editora Cássia Eponine

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