(Flávio Tavares)
"O sonho acabou", gritava Greice de Oliveira, chorando sem parar, ao ver a Casa da Árvore transformada em cinzas. Ela era um dos moradores de rua que ficavam na casa, localizada na Avenida Barão Homem de Melo, na altura do número 50, no bairro Nova Suiça, na região Oeste de Belo Horizonte. Por volta de 20h45 de hoje (24), um incêndio consumiu dezenas de livros, retirados de lixos, que eram reciclados e emprestados para a comunidade.
O incidente aconteceu seis horas após a realização de uma confraternização no local, que envolveu vários apoiadores da Casa da Árvore. "Fizemos uma grande festa, com batuque e lanche", lamenta o advogado Anito Mário, mostrando as imagens do celular de pessoas que carregavam cartazes com a frase "#Fica Casa da Árvore", em resposta à pressão de moradores da região para a retirada dos mendigos.
O Corpo de Bombeiros, que encaminhou cinco viaturas para o local, não descarta a possibilidade de uma ação criminosa e solicitou a presença de uma guarnição da Polícia Civil para fazer o boletim de ocorrência. A esperança é de que câmeras de prédios tenham registrado o início do incêndio. "A perícia não poderá fazer nada, pois os indícios foram queimados. Não sobrou nada", informou o bombeiro Thiago Costa.
"O que fizeram tinha grande valor, transformando o lixo em cultura, mas havia aqueles que não pensavam assim, por achar que eles sujavam o lugar", lamento o advogado Anito Mário. Coincidência ou não, o movimento de apoio tinha marcado duas reuniões para amanhã, com a secretária municipal de Políticas Sociais, Maira Colares, na parte da manhã, e com o vice-prefeito Paulo Lamac.
Há duas semanas, os moradores da Casa da Árvore receberam uma ordem de despejo do local, uma casa de dois andares instalada numa mangueira há um ano e oito meses. No momento do incêndio, somente Greice - que está preparando um livro sobre o espaço - estava em seu interior, que conseguiu sair sem se machucar. Os outros três moradores, segundo Mário, estavam na casa de um amigo.
Um senhor, que se apresentou como morador da região, procurou a reportagem do HOJE EM DIA para dizer que o incêndio foi merecido, pois o que os mendigos e os apoiadores do grupo estavam fazendo era "teatro" e que os primeiros eram vendedores de drogas e viviam "noiados". Segundo ele, passaram o dia "chapados" no interior da Casa.
Outra moradora registrou que, há duas semanas, num lote vago próximo, onde morava um mendigo, também colocaram fogo no lugar.
