Documentos do nascimento de Belo Horizonte viram patrimônio

Letícia Alves - Hoje em Dia
10/12/2014 às 09:23.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:19
 (Flávio Tavares/Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/Hoje em Dia)

O registro documental da transformação do antigo Curral del Rey na capital de Minas Gerais, Belo Horizonte, será tombado na quinta-feira (11) pelo Patrimônio Municipal. São 2.806 itens guardados no Arquivo Público Municipal, desde 1991, que ganham reconhecimento histórico e continuarão preservados para as próximas gerações.

Os documentos, alguns de antes da fundação da cidade, foram produzidos por uma comissão construtora, formada para estruturar a capital no fim do século XIX, sob a coordenação do engenheiro Aarão Reis. Entre as peças estão mapas, recibos e livros de registros de compra e venda de lotes. 

Os itens datam de 1894 a 1899. Os mais antigos são os mapas das fazendas do Curral del Rey. As plantas foram criadas para registrar os territórios e indenizar os antigos proprietários, segundo a pesquisadora da Fundação João Pinheiro, Maria do Carmo Alvarenga de Andrade Gomes. “Eles fizeram uma planta de cada fazenda para embasar o processo de desapropriação. Cada uma delas foi anexada a um processo. São mais de 300 plantas que guardam a memória do antigo arraial”, explicou. 

Fazendas

Um dos mapas mais interessantes, na opinião dos historiadores do Arquivo Público Municipal, é o da Fazenda do Cercadinho. O local foi planejado para ser um reservatório de água da cidade, mas o projeto do engenheiro Hermílio Alves não foi para a frente. O documento, datado de 20 de novembro de 1894, é rico em detalhes e possui marcações das áreas de roça e cafezal. Hoje, a área abriga o bairro Buritis. 

Grandes mapas de quase três metros de largura também estão conservados no acervo que será tombado. Eles foram feitos, na época, para embasar os trabalhos dos engenheiros nos canteiros de obras e, por isso, guardam as marcas do tempo e também do uso. Um dos primeiros mapas data de março de 1895 e mostra as principais ruas da nova capital – naquela época ainda restritas aos arredores da avenida do Contorno. 

Outro mapa demarca as áreas das 422 fazendas desapropriadas. Entre elas está a Fazenda do Leitão. O prédio sede, construído em 1833, hoje é o Museu Histórico Abílio Barreto, localizado na avenida Prudente de Morais, na Cidade Jardim. Outra área demarcada na planta é a Fazenda Capão Grande, que deu origem aos bairros São Bento e Santa Lúcia. 

Já um mapa de 1926 mostra os lotes, quadras e seções criados para compor a nova capital. Também foram registradas as primeiras praças, como a Raul Soares, da Liberdade e do Mercado, que hoje é a praça da Rodoviária. 

“É interessante perceber que a cartografia da época acompanhou o progresso da cidade. Os primeiros mapas mostram as fazendas. Outros já revelam os lotes, primeiras edificações e áreas públicas. Eram extremamente detalhados e isso em uma época em que tudo era manual”, destacou a chefe do departamento de tratamento, pesquisa e acesso do arquivo, Lilian Leão.

Outros 1.265 itens da mesma época estão no Museu Histórico Abílio Barreto. Há textos, acervos cartográfico e fotográfico e telas. O Arquivo Público Mineiro também guarda 94 documentos, como textos, fotos e mapas. 

 

Antes do tombamento, recuperação e limpeza

Todo o acervo tombado é mantido no Arquivo Público Municipal desde 1991. Diversos itens tiveram que ser recuperados, por causa do desgaste do tempo e da má conservação antes da criação do arquivo. “Os documentos ficavam jogados em salas”, conta a historiadora, Michelle Torre. 

Os arquivos são cobertos por papéis brancos para minimizar a degradação pelo tempo e reduzir a incidência da luz, explica a historiadora. “Os itens estão catalogados e contam ainda com inventários, que são pequenas descrições das informações contidas em cada material”, destacou. O trabalho facilita a localização dos itens para pesquisadores e para o público em geral. 

A recuperação dos materiais envolve primeiro uma avaliação e, em seguida, limpeza e reestru-turação, de acordo com o conservador e restaurador do arquivo, Demilson Malta. “O objetivo é deixar a documentação em condições acessíveis para o manuseio”. Dependendo do material, a limpeza é feita de forma seca e, em outros casos, podem ser usados produtos líquidos. “Tudo depende da condição do papel e do tipo de tinta”, apontou Malta. 

Outro passo envolve a recuperação do papel. É utilizado um material de gramatura similar ao empregado no documento para tampar fissuras. Em alguns casos, quando o item está muito danificado, é preciso revestir todo o fundo com outro papel.

Os mapas do acervo da comissão construtora passaram pelo processo de recuperação. Segundo Demilson, não foi preciso revestir todo o fundo. “Apenas cobrimos algumas rachaduras com um papel parecido ao utilizado na época de fundação da capital”, destacou.

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