Edital para ampliar em 15 vezes os dispositivos em semáforos para cegos é adiado

Simon Nascimento
28/06/2019 às 20:34.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:19
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Menos de 1% dos cruzamentos com semáforo e faixa de pedestre em Belo Horizonte estão adaptados com dispositivos sonoros para cegos. O baixo percentual prejudica o deslocamento a pé de quem depende do sistema para se locomover sozinho e em segurança. Não bastasse o cenário atual, uma licitação que previa a instalação de 500 novos aparelhos foi adiada. O último censo do IBGE aponta 430 mil deficientes visuais na capital.

A suspensão do certame – capaz de aumentar em 15 vezes o número de equipamentos– foi publicada nesta sexta-feira no Diário Oficial do Município (DOM). No documento, consta como justificativa “questionamentos a serem respondidos”. O pedido foi feito por duas empresas. Não há previsão para outro edital. 

Atualmente, a cidade conta com 3.513 cruzamentos com sinais de trânsito e travessias. Desses, conforme a BHTrans, só 34 estão com o dispositivo. Fixado nos postes dos semáforos, ele contém um botão que, ao ser pressionado, emite alertas para orientar o tempo disponível para atravessar a rua com o sinal fechado.

Passos lentos

A instalação foi iniciada em BH em março de 2017. Dois anos depois, o número atual é considerado insuficiente. “Esse adiamento nos prejudica muito. A gente precisa dessa expansão porque o sinal sonoro é de extrema importância para a nossa segurança”, disse Willian Nascentes, coordenador do Movimento Unificado de Deficientes Visuais (Mudevi).Maurício Vieira / N/A

DEPENDÊNCIA – “No cruzamento sem o aparelho, temos que contar com a boa vontade de alguém”, conta Marlene

O grupo, juntamente com integrantes do Instituto São Rafael, sugere cruzamentos na metrópole para serem contemplados. Segundo ele, algumas avenidas como Afonso Pena, Amazonas, Antônio Carlos (próximo à UFMG) e Augusto de Lima (entre as ruas Goiás e Curitiba) são prioridades. 

“Estes locais são de grande movimentação de deficientes visuais. Nossas sugestões partem da necessidade que observamos na cidade”, afirma Willian. A opinião do coordenador do Mudevi é compartilhada por Marlene Gonçalves, de 55 anos. Professora do Instituto São Rafael e moradora da região do Barreiro, ela perdeu a visão ainda na infância e vai ao hipercentro todos os dias. 

Boa vontade alheia

No caminho, Marlene relata diversos obstáculos. Um deles é justamente a ausência dos dispositivos sonoros. “No cruzamento sem o aparelho, temos que contar com a boa vontade de alguém para nos ajudar a atravessar”, conta. “O ruim é que a gente acaba perdendo compromissos. Chega atrasado ao trabalho, tem que desmarcar consultas”, lamenta. 

Cego desde a infância, Ricardo Geraldo de Souza, de 45 anos, sai de Contagem, na Grande BH, para estudar no Centro de Belo Horizonte três vezes por semana. Ele reclamou do adiamento da licitação e pediu a instalação de mais equipamentos nos semáforos. “Funciona muito bem. Mas precisamos de outros, pois só temos em poucos cruzamentos. É um equipamento que traz muita segurança”, explica.

Além disso

Professor aposentado do Departamento de Engenharia Eletrônica da UFMG, Julio Cezar David de Melo desenvolveu, há cerca de dez anos, um sistema voltado para a mobilidade de deficientes visuais. O aparelho informava ao passageiro a aproximação dos ônibus. Três cidades brasileiras – nenhuma mineira – chegaram a aderir à tecnologia. Para ele, ferramentas que visam a facilitar o acesso dessas pessoas são essenciais e as instalações devem priorizar locais de grande movimentação.

Os semáforos que receberão os dispositivos não estão definidos, segundo a BHTrans. A empresa informou que dialoga sobre o tema com associações e o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Sobre o baixo percentual, o órgão de trânsito destacou que licitação é uma demonstração de que é preciso atender às demandas não só de deficientes, mas de toda a população. “Já tivemos o relato de pessoas, sobretudo idosas, que aprovaram o novo semáforo”. Ainda segundo a autarquia, “o número pode ainda ser pequeno, mas, gradativamente, e com a participação da sociedade, os novos dispositivos vão fazendo parte do cotidiano da cidade”.

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