Ex-diretor do museu de História Natural da UFMG diz que a instituição foi omissa

Renata Evangelista
rsouza@hojeemdia.com.br
15/06/2020 às 15:49.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:46
 (MV/Hoje em Dia)

(MV/Hoje em Dia)

A UFMG teria sido negligente e omissa e nada teria feito para impedir que parte do Museu de História e Jardim Botânico fosse devastada pelo fogo. A denúncia é do ex-diretor do museu e atual professor do Instituto de Geociências da instituição Antônio Gilberto Costa, que esteve à frente do museu de 2013 a agosto de 2019.

“É uma situação que sabia que ia acontecer. Quando houve o incêndio no Museu Nacional (no Rio de Janeiro, em 2018), nós alertamos a universidade sobre o risco”, disse. Costa denuncia que a UFMG não realizava as manutenções necessárias para garantir a segurança do local. Telhados de dois prédios - que não foram afetados pelo incêndio - estão em más condições e tem exposição que não pode ser feita pelo risco de curto-circuito no ambiente, segundo o ex-diretor. “Se a universidade quer manter esses museus, ela tem que se preocupar com isso”, cobrou.

O ex-diretor ainda declarou que, no passado, o museu formulou e aprovou internamente um plano para situação de emergência. “Mas nunca foi aprovado pela reitoria”, disse.

Destruição histórica 

Parte do museu pegou fogo na manhã desta segunda-feira (15). O acervo destruído ainda está sendo periciado pela Polícia Civil e não foi mensurado pela instituição. Mas, conforme Antônio Gilberto Costa, as peças  mais importantes e históricas do museu foram devastadas. “O grande problema é que esse acervo era único. Tinha coisas importantes não só para Minas, mas que contavam a evolução do homem”. 

Pelas imagens do local, o professor acredita que foram destruídos toda a parte do acervo orgânico, parte da zoologia, peças de cerâmica do Vale do Jequitinhonha, além da rara coleção arqueológica do pesquisador inglês Harold Walter, que reunia ossos e fragmentos do homem de Lagoa Santa. 

“Muita coisa se perdeu, coisas fantásticas da paleontologia. Essa destruição é lamentável. É uma catástrofe”, lamentou. 

A UFMG foi procurada pela reportagem, mas ainda não se posicionou especificamente sobre as denúncias do ex-diretor. Em nota, a universidade informou que não são conhecidas informações sobre o horário exato do início e as causas do incêndio, que ficou concentrado em uma das edificações, que abriga parte da reserva técnica do museu. A reitoria ressaltu que está tomando as medidas cabíveis e auxiliando as autoridades competentes na perícia.

Coleção

O Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG fica em uma área de aproximadamente 600 mil metros quadrados no Horto. Ele possui vegetação diversificada e típica da Mata Atlântica, que reúne, além das nativas, espécies exóticas.

Conforme a universidade, o museu é composto por 265.664 itens entre peças e espécimes científicos preservados e vivos, nas áreas da Arqueologia, Paleontologia, Geologia, Botânica, Zoologia, Cartografia Histórica, Etnografia, Arte Popular e Documentação Bibliográfica e Arquivística.

O espaço conta ainda com um auditório, um viveiro de mudas, uma lagoa, um anfiteatro ecológico e um jardim sensorial.

Confira a íntegra da nota da UFMG:

Na manhã desta segunda-feira, 15/06, a UFMG foi informada de um incêndio nas dependências do Museu de História Natural e Jardim Botânico (MHNJB), localizado na região leste de Belo Horizonte. O fogo foi, assim que identificado, combatido por funcionários que integram a brigada de incêndio do próprio museu. O Corpo de Bombeiros foi acionado imediatamente, chegando ao espaço e debelando as chamas ainda no período da manhã. 

Ainda não são conhecidas informações sobre o horário exato do início e as causas do incêndio, que ficou concentrado em uma das edificações, que abriga parte da reserva técnica do museu. Neste momento, o local está isolado e sendo periciado. 

A Reitoria da UFMG manifesta imenso pesar e se solidariza com a diretoria, com aqueles que integram o corpo funcional do Museu de História Natural e Jardim Botânico e com toda a comunidade que atua neste que é um importante patrimônio da Instituição. A Administração Central da Universidade ressalta que está tomando as medidas cabíveis neste momento e auxiliando as autoridades competentes na perícia. O MHNJB possui um precioso acervo e é um importante espaço de pesquisa, de extensão e de preservação histórica instalado em uma área com aproximadamente 600.000 m² com vegetação diversificada e típica da Mata Atlântica, que reúne, além das nativas, espécies exóticas e animais que não sofreram dano causado pelas chamas. A Reitoria da UFMG agradece a ação rápida dos brigadistas de incêndio e informa que estará, junto com diretoria e equipe do Museu, em busca de alternativas e soluções no sentido de reparar de forma célere os danos causados.

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