Moradores de 43 cidades mineiras estão imunes aos crimes violentos

Renato Fonseca - Hoje em Dia
11/12/2015 às 06:59.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:17
 (Ralfp Justino/divulgação)

(Ralfp Justino/divulgação)

Nada de assassinato, assalto à mão armada, famílias reféns de bandidos ou mulheres violentadas. Na contramão dos índices de criminalidade registrados em quase todo o Estado, moradores de pequenas cidades do interior vivem em paz, harmonia e sossego. O sonho da vida bucólica e tranquila é realidade em um seleto grupo de 43 municípios.

Os dados mais recentes da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) apontam a inexistência de crimes violentos (homicídio, sequestro, extorsão mediante sequestro, cárcere privado, roubo e estupro) nessas localidades em 2015 (até outubro). No ano passado, 34 municípios estavam nesta condição.

A ilha de segurança é formada por pacatas comunidades sem favelas, baixo desemprego e pouca evasão escolar. A maioria tem entre 2 mil a 3 mil habitantes e está concentrada nas regiões mais ricas, como a Zona da Mata, Sul de Minas e Centro-Oeste. As poucas queixas prestadas à polícia são de furtos e agressões.

 

Perto de BH

Mas há exemplos de lugares seguros não tão distantes da capital, onde as casas estão sempre com as portas e janelas abertas, como afirma a relações públicas Andréia Cristina Rodrigues, de 45 anos. Nascida e criada em Ibertioga, a 210 quilômetros de BH, na região Central, ela conhece bem as diferenças da metrópole e do interior.

Aos 18 anos, Andréia se mudou para Juiz de Fora. Depois passou pela capital e desde maio deste ano voltou a morar na cidade natal. As diferentes experiências serviram para confirmar a acertada escolha.

“Na semana passada, estive em BH e por pouco não roubaram o meu celular dentro do ônibus. Em Ibertioga, se eu perdesse meu telefone, tenho certeza que viriam à minha casa devolver”, compara. A casa dela, no bairro Santana, nunca fica fechada de dia. “Sempre estamos acenando e cumprimentando quem passa pela rua”.

Participação comunitária facilita policiamento, diz especialista

A histórica Tiradentes, na região Central de Minas, também figura na lista dos municípios sem registro de crimes violentos neste ano. Pelas ruas de pedra do importante roteiro turístico é fácil ver pessoas batendo papo na porta dos antigos sobrados até tarde da noite.

Morador de Belo Horizonte, o médico Eduardo Filgueiras, de 59 anos, tem casa em Tiradentes há cerca de 30. Ele conta que já se considera “inserido na sociedade local” e confirma a ilha de tranquilidade.

O imóvel, próximo ao centro histórico, nunca foi arrombado e frequentemente está com as portas e janelas abertas. “Todos se conhecem na cidade, sabem se a pessoa é filho ou parente de alguém. Essa interação entre os moradores é um facilitador para a sensação de segurança das pessoas”.

O ex-secretário de Cultura e Turismo de Tiradentes, o agora prefeito Ralfp Justino (PV), lembra que o índice de desemprego é muito baixo e que o município ainda “dá emprego para pessoas de São João del-Rei, Prados e até Barroso”, diz. Para ele, qualidade de vida, opções de inserção no mercado de trabalho e “cidade pequena onde todos se conhecem” favorecem a paz no local.

Responsável pelo policiamento de Tiradentes e outras oito cidades, o capitão Geraldo Cezar Veloso, da 190ª Companhia da Polícia Militar, diz que o efetivo é de 126 homens. O patrulhamento prioriza regiões próximas a bancos, casas lotéricas e Correios. São executadas ações preventivas, como o Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd) e reuniões com a comunidade.

Situação favorável

Policial civil por 35 anos, o ex-delegado Islande Batista, que chefiou o Departamento de Crimes Contra o Patrimônio, ressalta que características das cidades favorecem a ação policial. “São localidades muito pequenas, às vezes do tamanho de um bairro de BH. As pessoas são simples e há pouca movimentação de dinheiro. Ou seja, não são visadas pelos bandidos”, afirma Batista.

Além da facilidade devido ao pequeno limite territorial, o especialista em segurança lembra que o trabalho da PM é comunitário, com ampla participação da sociedade. “Na maioria dos casos, existe apenas um destacamento. Os policiais são chamados pelo nome e qualquer atitude fora da acostumada rotina das famílias, como um carro com placa de fora, já levanta a suspeita dos próprios moradores”.

Sem homicídios, municípios são premiados

Na tentativa de incentivar políticas públicas voltadas para a segurança da população, o governo de Minas homenageou, na noite dessa quinta (10), 33 municípios que tiveram índice zero de homicídios nos últimos dez anos. Foi a primeira vez que o chamado Prêmio Mineiro de Direitos Humanos foi entregue.

A solenidade, na Assembleia Legislativa, foi promovida pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (Sedpac) e marcou as comemorações da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Dia Internacional dos Direitos Humanos.

Pequenas Ilhas

A lista foi feita com base em informações da Polícia Militar e da Secretaria de Estado de Saúde e contempla cidades pequenas do interior, como Alto Caparaó, Arantina, Belmiro Braga, Capela Nova, Caranaíba, Carrancas, Casa Grande e Conceição da Barra de Minas.

Foi entregue a cada prefeitura um acervo de livros para que as cidades modernizem ou comecem a montar uma biblioteca pública. O kit é composto por 600 livros da Secretaria de Estado de Cultura e um computador, dentre outros materiais.

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