Novo rosto de Luzia: estudo mostra que fóssil mais antigo da América não tem traço africano

Malú Damázio
mdamazio@hojeemdia.com.br
08/11/2018 às 12:50.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:40
 (Divulgação / André Strauss / Reconstruções de Caroline Wilkinson e Richard Neave)

(Divulgação / André Strauss / Reconstruções de Caroline Wilkinson e Richard Neave)

A história do povoamento das Américas ganha novos capítulos e começa a ser reescrita a partir desta quinta-feira (8). Um artigo publicado hoje por uma das maiores revistas científicas internacionais, a Cell, traz uma importante revelação: Luzia, o fóssil mais antigo encontrado no continente, em Lagoa Santa, na Grande BH, não tinha traços africanos ou de aborígenes australianos, como propunha a teoria do antropólogo brasileiro Walter Neves. 

Na verdade, Luzia e toda a população que habitava a América descendem de uma mesma leva migratória vinda do leste asiático, que chegou ao continente há cerca de 20 mil anos. Os estudos sobre o povoamento foram realizados por uma equipe de antropólogos e geneticistas, incluindo pesquisadores brasileiros da Universidade de São Paulo (USP). 

A descoberta sobre a fisionomia do Povo de Luzia, como são chamados os indivíduos que que habitavam a região de Lagoa Santa e de cidades vizinhas, em Minas Gerais, só foi possível devido à extração do DNA das ossadas. Um dos coordenadores da pesquisa, o bioarqueólogo André Strauss, professor do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, classifica o feito como “histórico”. 

“O Povo de Luzia ganha, sem dúvida, um novo rosto. A população de Lagoa Santa é totalmente ameríndia, não tem nada de africano ou australiano. Os habitantes mais antigos da América vêm da mesma linhagem que um povo Tupi, por exemplo”, afirma o pesquisador. 

Essa é primeira vez em que o material genético desses fósseis é acessado por cientistas. A dificuldade de se extrair o DNA está relacionada à condição de armazenamento dos esqueletos: em um país de ambiente tropical, com possibilidade de contaminação e fragmentação dos ossos. 

Nova face

Luzia, esqueleto feminino descoberto nos anos 1970 em Lagoa Santa, é o rosto mais conhecido dos ancestrais brasileiros. Com boca e nariz largos, tom de pele escuro, a imagem da mulher foi eternizada pela famosa reconstrução facial feita pelo especialista britânico Richard Neave, na década de 1990. 

A representação de Luzia foi moldada a partir da teoria de Walter Neves. Devido à diferença de fisionomia entre os crânios encontrados na cidade mineira e as demais ossadas de antepassados dos indígenas atuais, Neves acreditava que os indivíduos de Lagoa Santa poderiam ter uma conexão com povos da África e da Melanésia e que teriam chegado ao continente antes dos demais.   

No entanto, o estudo mostra que o Povo de Luzia é tão ameríndio quanto os demais habitantes da América. Foi possível concluir que toda a população que habitava o Novo Mundo antes da chegada dos europeus tinha traços asiáticos, como os ancestrais dos indígenas americanos. 

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