Comercial com família negra é alvo de ataque de ódio

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
30/07/2018 às 20:43.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:40
 (Reprodução)

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Trinta segundos de comercial e uma avalanche de comentários racistas na internet. Protagonizada por uma família negra, a propaganda de Dia dos Pais de uma empresa de cosméticos provocou indignação por parte de muitos internautas. A situação traz a tona o debate sobre preconceito racial, que gera ao menos uma denúncia de crime por dia em Minas.

Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (Sesp), foram 187 queixas registradas de janeiro a junho deste ano no Estado. Entram na conta os 52 casos de racismo e os 135 de injúria racial. Só em Belo Horizonte foram 40 denúncias no primeiro semestre de 2018. 

Presidente da Comissão de Promoção à Igualdade Racial da Ordem dos Advogados em Minas Gerais (OAB-MG), Gilberto Silva Pereira explica que a lei define “racismo” quando todo um grupo é ofendido com esse tipo de xingamento. 

Na avaliação do especialista, exemplo disso é quando um internauta branco afirma que não mais usará determinada marca por ela produzir perfumes voltados para negros. Já a injúria racial é quando a hostilidade é direcionada a apenas uma pessoa. 

O crime de racismo não permite pagamento para liberar o acusado da prisão. Ele pode ter pena de até cinco anos de reclusão. Por sua vez, a injúria tem fiança definida pelo delegado e rende até três anos de cadeia. 

“Casos como esses são frequentes, mas poucos viram estatísticas. A sociedade engatinha em busca de direitos e nem todo mundo consegue diferenciar quando é a queixa é passível de denúncia”, afirma o advogado. Gilberto defende que, ao relatar as ofensas, há punição para os criminosos e redução dos ataques.

Contexto

Para a historiadora da UFMG Regina Helena Alves, os comentários preconceituosos direcionados ao comercial do Boticário e os 17 mil “dislikes” (quando a pessoa não gosta da publicação) no vídeo só escancaram uma realidade existente há anos. 

“O racismo vem da ideia de que existe uma supremacia branca e de que o diferente é inferior. É o que sofrem negros, imigrantes e índios. A internet tornou menos velada essa situação porque as pessoas criam coragem para dizer o que realmente pensam”. 

Em nota, o Boticário disse se pautar “pelo respeito a todas as pessoas” e “deseja que, muito em breve, questões como essa não gerem mais polêmicas”.

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