Comerciantes denunciam tentativas de roubos e até tiros a caminho da Ceasa

Bruno Moreno
bmoreno@hojeemdia.com.br
30/01/2017 às 20:28.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:38

Uma onda de violência atinge pequenos comerciantes que utilizam a Central de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasa), em Contagem, na Grande BH, como ponto de compras. Os principais alvos são vans, Kombis e camionetes na rodovia BR-040, perto do bairro Morada Nova, ainda de madrugada.

Vários comerciantes relataram tentativas de roubo no local, a cerca de dez quilômetros do entreposto, nos últimos dois meses. Ao menos em duas ocasiões os criminosos dispararam tiros contra os veículos que fugiram.

Uma das vítimas foi Josué*, dono de um supermercado na capital. Há 20 dias, ele passava pelo local por volta de 5h40 quando percebeu uma movimentação estranha perto de um radar na 040. “Estavam assaltando um Fiorino de supermercado. Acelerei, mas a Kombi não anda muito. Quando percebi, já estavam ao meu lado, mostrando a arma e mandando parar. Freiei, e eles frearam também. Acelerei de novo. Passei em cima do canteiro e fui para a marginal e eles atiraram. Um tiro perfurou a lataria. Eles vieram para a marginal, e eu voltei para a pista principal. Me salvei porque me juntei a dois caminhões que passavam por lá até chegar na Ceasa”, contou.

Proprietário de um comércio também em BH, Cristiano* dirigia um Fiorino pela rodovia em direção à Ceasa, há cerca de dois meses, quando foi abordado por bandidos por volta de 5h30. Ele diz que um Fiat Linea preto começou a piscar farol, emparelhou com o carro dele e os ocupantes mostraram as armas. 

“Colei o pé no freio e eles também. Engatei a ré, virei e voltei na contramão até entrar no bairro. Só parei quando achei um ponto de ônibus e tinha gente lá. Desci do carro e fiquei com os motoristas até o dia clarear. Esperei uns 30 minutos. Não contei para a minha família. Agora eu só vou para a Ceasa depois que o dia já clareou”, relatou.

Também alvo dos criminosos, um comerciante de Sabará, na Grande BH, conta ter trafegado cerca de dois quilômetros na contramão na 040 para fugir dos bandidos. Ele só escapou porque encontrou uma saída na rodovia.

Cerca de 70 mil pessoas circulam pela CeasaMinas por dia; o fluxo de veículos sem carga por mês é de 445 mil e o número dos com carga supera 24 mil

Lucas Prates / N/ADE MADRUGADA – Segundo as vítimas, criminosos agem na BR-040, perto do bairro Morada Nova, a dez quilômetros da Ceasa

Após ação criminosa, vítimas mudam rotina de compras

O medo de serem roubados nos arredores da Ceasa tem obrigado comerciantes a mudarem a rotina quando se dirigem ao entreposto para fazer compras.

Depois de 42 anos, Joaquim* alterou o horário de ida à Ceasa após ter sido abordado na BR-040, em dezembro do ano passado.

Segundo ele, eram 5h quando foi surpreendido por ocupantes de um carro que o mandaram encostar na rodovia. Um homem entrou na Kombi de Joaquim e os dois comparsas do bandido seguiram atrás em outro veículo, rumo à Ceasa.

Em uma atitude impulsiva, Joaquim jogou a Kombi numa vala e, levando uma sacola com alguns pertences, o suspeito fez uma ameaça. Batendo com o revólver no pescoço do comerciante, o bandido teria dito: “eu podia te matar”.

Das vítimas ouvidas pelo Hoje em Dia, duas contaram que não quiseram registrar o boletim de ocorrência na polícia. As outras disseram que chegaram a procurar a Polícia Militar, mas souberam que deveriam relatar as tentativas de roubo à Polícia Rodoviária Federal (PRF), responsável pelo patrulhamento na BR-040. Porém, os comerciantes desistiram de fazer o boletim.

Sem registros oficiais dos crimes, a PRF afirma não ser possível planejar operações de combate aos criminosos.

*Nomes fictícios, a pedido dos entrevistados, que temem retaliações dos bandidos
 

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