Compostos para garantir a alimentação por sonda em pacientes estão em falta em BH

Simon Nascimento
05/07/2019 às 20:12.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:25
 (LUCAS PRATES)

(LUCAS PRATES)

Usuários da rede pública de saúde de Belo Horizonte incapazes de se alimentar adequadamente por via oral enfrentam um drama. Dois dos três compostos de nutrição enteral – suplemento administrado por sonda – estão com estoques zerados há pelo menos três meses. Sem os produtos distribuídos gratuitamente, muitas famílias são obrigadas a gastar até R$ 1 mil por mês para garantir a dieta do paciente.

A dificuldade é ainda maior para crianças com microcefalia ou paralisia cerebral. Sem condições financeiras para comprar o produto, algumas mães lançam mão de alternativas caseiras, como processar a comida em um liquidificador, coar e dar aos filhos. A medida, no entanto, pode favorecer o risco de infecções e, a longo prazo, comprometer o desenvolvimento.

O Hoje em Dia fez contato com cinco postos de saúde de diferentes regionais e constatou a escassez. “Recebemos um comunicado institucional. Informava que é um problema com licitação e não havia data para resolver”, disse uma funcionária.

A dona de casa Andrea Ferreira, de 35 anos, vive o drama desde abril. O filho Isac, de 2, foi diagnosticado com microcefalia e a alimentação é feita, exclusivamente, por sonda. Desempregada, ela recebe um salário mínimo por meio do Benefício de Prestação Continuada (BPC). O marido dela é porteiro e a renda da família é de cerca de R$ 2 mil.

Cada lata da dieta que o menino precisa custa R$ 60. Por mês, são necessárias 20 embalagens. “Estou vivendo de doação. A nutricionista dele disse que poderia usar o leite de soja misturado com vitamina e aveia. Faço isso e monitoro para ver se não dá diarreia”, conta. Andrea também diz que faltam sondas na rede SUS-BH.

Rifas

Já a engenheira mecânica Edna Paula Nascimento, de 40 anos, tem conseguido comprar o composto que a filha Mônica, de 3, precisa nas refeições. A criança recebe, a cada duas horas, 100 mililitros (ml). São 20 latas por mês, a R$ 50 cada. A mãe organiza rifas para ajudar na despesa.

Desde abril, Edna não tem retorno sobre quando a situação será normalizada. “Essa dieta contém todos os nutrientes para garantir uma alimentação saudável. Antes, ela pesava seis quilos, com 1 ano. Com o nutriente, ganhou cinco quilos”. Segundo a engenheira, a situação é corriqueira. “Ano passado aconteceu o mesmo. Fiquei quatro meses sem receber”.

Professora nos cursos de nutrição e enfermagem das Faculdades Kennedy, Ana Carolina Barbosa Duarte explica que, a curto prazo, a falta do insumo não provoca danos à saúde, desde que preparada de forma balanceada e com alimentos apropriados para a alimentação saudável. Entretanto, problemas podem surgir caso a situação se prolongue. “Compromete completamente o desenvolvimento e o aprendizado da criança. Ela não vai ter os nutrientes necessários e esse desenvolvimento não se recupera”. 

Outro fator de risco é a produção caseira. “O manejo do alimento deve ser feito com muito cuidado. Além da limpeza das mãos, o liquidificador e as facas precisam estar devidamente higienizados”, alerta.

Licitação

As fórmulas alimentares industrializadas são adquiridas anualmente pela Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), por meio de licitação. Atualmente, 1.390 solicitações são atendidas. A maioria é formada por idosos, conforme informou a pasta, em nota.

O órgão disse que o estoque do tipo em pó está regular. Já as versões “enteral líquida” e “enteral pediátrica” estão com o processo de compra finalizado, “aguardando a assinatura do contrato por parte das empresas”. A previsão é a de que a regularização aconteça neste mês. A data exata não foi divulgada. “Até esse prazo, a família pode procurar o centro de saúde para avaliar se é possível a substituição”.

A SMSA reforçou que fornece, de forma alternativa, a sonda “Nasoentérica”. “Este insumo é utilizado na administração de dietas enterais e está com estoque regular na rede SUS-BH”. A distribuição segue um protocolo. O fluxo abrange avaliação do usuário por profissionais dos centros de saúde. Quando há a liberação, o produto é retirado mensalmente, em local específico. A pessoa é acompanhada e reavaliada periodicamente para a manutenção da dieta.

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