Concentração de dengue em duas áreas de BH revela endereço do mosquito

Raquel Ramos - Hoje em Dia
11/02/2016 às 06:43.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:22
 (Luiz Costa)

(Luiz Costa)

Belo Horizonte tem 142 centros de saúde, mas apenas dois foram responsáveis por receber quase 40% dos pacientes com diagnóstico de dengue. O motivo de tamanha concentração de casos é visível. A reportagem percorreu bairros de abrangência desses postos – sediados no São José (Pampulha) e Lindeia (Barreiro) – e flagrou quintais sujos e muitos bota-fora.

Num ambiente ideal para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor também da zika e da chikungunya, o resultado não poderia ser diferente. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, das 289 notificações na capital, 109 se deram nos dois centros de saúde citados – de janeiro a 3 de fevereiro. Há, ainda, muitas ocorrências em investigação: 193 na do São José e 85 na do Lindeia.

Os números servem de referência para a prefeitura definir ações estratégicas e mutirões de limpeza.

Desrespeito

Jogar lixo em logradouro público pode render multa de até R$ 5 mil. A reportagem flagrou pessoas descartando entulho em um terreno na rua David Rabelo, na divisa dos bairros São José e Alípio de Melo.

“Não adianta xingar, eles nos ameaçam. Ficamos de mãos atadas e com um grande problema na porta de casa”, reclama o aposentado Antônio Lopes, vizinho do lugar.

A Prefeitura de Belo Horizonte já recebeu denúncias sobre o caso e multou o proprietário. Até mesmo uma cerca foi instalada no local. Nada disso, porém, serviu para dar fim ao bota-fora, que existe há 15 anos.

A consequência do desrespeito recai sobre a própria vizinhança. Pelo menos 71 moradores de áreas próximas dali já receberam diagnóstico de dengue nos primeiros 35 dias deste ano.

Barreiro

No bairro Tirol, vizinho ao Lindeia, parte do problema vem de uma Unidade de Recolhimento de Pequenos Volumes (URPV) na rua Antônio de Souza Gomes. Segundo moradores do entorno, o local fica esquecido por semanas. “E próximo daqui, temos dois bota-fora. Assim, realmente fica difícil vencer a dengue”, diz o aposentado Sebastião Fernandes.

Responsável pela limpeza da unidade, a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) se defendeu, afirmando que os resíduos são recolhidos a cada dois dias, justamente para evitar acúmulo de água e a proliferação de vetores de doenças.

Acúmulo de lixo no quintal de casa persiste e revolta vizinhos
Sem o devido cuidado, quintais de residências também se transformam em grandes ilhas de contaminação. Os próprios moradores das áreas mais problemáticas confirmam que ainda há negligência.

“As pessoas acumulam lixo. Na semana passada, fizeram um mutirão e, da casa de uma só vizinha, retiraram materiais que poderiam encher quase um caminhão inteiro”, contou o serralheiro Donizete Junior, que vive no Lindeia.

A situação é semelhante no São José. “Vemos alguns quintais com possíveis criadouros do mosquito, mas nem todo mundo permite a entrada de agentes de endemia”, disse Magda Rodrigues, que há 49 anos mora no bairro.

Para o infectologista Luiz Wellington Pinto, professor da Faculdade de Ciências Médicas, essas são provas de que muita gente ainda ignora a gravidade da proliferação do Aedes aegypti. “São nesses locais que já registram vários casos de dengue onde também há maior risco para a contaminação pelo zika e chikungunya”, alerta.
 

 

Balanço

Pelas contas da Secretaria Municipal da Saúde (SMSA), mais de cem toneladas de entulho foram retirados apenas desses dois bairros nos mutirões realizados em janeiro.

E dos 3.134 imóveis visitados nessas ações, 789 – cerca de 25% do total – foram encontrados fechados.

Salgado Filho

Na área próxima ao Centro de Saúde Salgado Filho, na região Oeste de BH, não há lixo na rua nem problemas com descarte irregular de entulho. No entanto, essa foi a terceira região da capital que mais confirmou casos de dengue neste ano (até 3 de fevereiro).

“Eu mesmo conheço umas quatro pessoas que ficaram doentes só em 2016. Infelizmente, as pessoas só se tornam cuidadosas com as próprias casas após levar um susto”, diz Wenderson Hendrigo, proprietário de um salão.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que 2.957 imóveis do bairro já foram vistoriados e que 14 toneladas de lixo foram recolhidas.

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