Confinamento imposto pela pandemia permitiu a muitos homens praticarem a 'paternidade plena'

Izamara Arcanjo
Especial para o Hoje em Dia
08/08/2021 às 11:51.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:37
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Home office, ensino remoto e distanciamento social transformaram na marra o relacionamento em lares onde a correria diária limitava a convivência de pais e filhos. Confinados pela pandemia, muitos homens tiveram a deliciosa – mas não fácil – chance de ressignificar a paternidade. Assumiram a ajuda com o dever de casa, os cortes de unha e as brincadeiras, fortalecendo vínculos que merecem toda a comemoração possível neste Dia dos Pais.

Num contexto de pandemia, é preciso admitir que algumas aproximações foram marcadas por doses cavalares de amor e de apreensão. Foi exatamente o que aconteceu com o analista de sistemas Rafael de Almeida Oliveira. Casado com Nathália e pai de Ana Clara, hoje com 6 anos, ele conta que a rotina da família, totalmente alterada em função do isolamento social, sofreu um golpe em maio deste ano. Foi quando, mesmo trabalhando em home office, a esposa contraiu a forma mais grave da Covid. Maurício Vieira

Rafael mergulhou no mundo da filha Ana Clara, de 6 anos, quando a mulher, Nathália, precisou ser cuidada, no hospital, com Covid-19, por mais de um mês. “De repente, me vi cuidando sozinho da minha filha. Eu já ajudava a cuidar dela, mas nunca sem a presença da minha esposa e nunca de uma maneira tão intensa”, diz

Nathália precisou ser hospitalizada e intubada no CTI, onde permaneceu por mais de um mês. “De repente, me vi cuidando sozinho da minha filha. Eu já ajudava a cuidar dela, mas nunca sem a presença da minha mulher nem de maneira tão intensa”.

Desafio

Um dos momentos mais delicados foi planejar a festinha de aniversário de Ana Clara sem contar com a ajuda da mãe dela. 

“Minha vida precisou ser totalmente reconfigurada, senti como se minha casa tivesse aumentado de tamanho em umas dez vezes durante esse período. Tive que lidar com situações que nunca tinha enfrentado de maneira voluntária antes, como no caso dessa comemoração de aniversário. Pedi ajuda à minha mãe e demais familiares, pois não sabia nem por onde começar”, conta Rafael, que também teve que acompanhar de perto a rotina de aulas a distância da filhota. “Estar inserido na sala de aula dela me fez perceber seu aprendizado efetivo”, conta.

União enriquece

Com a esposa recuperada e a família reunida, Rafael avalia que, apesar de ter vivido momentos atribulados, a experiência mais próxima da filha foi enriquecedora para ambos. 

“Ela, com toda a inocência, me ajudou a ser mais forte naqueles momentos difíceis”, diz o pai. “Enquanto eu estava perto da Clarinha, me esquecia um pouco do que estava acontecendo e sentia-me consolado, o que me dava forças para enfrentar toda aquela situação”, diz.

“Enquanto eu estava perto dela, sentia-me consolado, o que me dava forças para enfrentar toda aquela situação” (Rafael de Almeida Oliveira, pai da Ana Clara, de 6 anos)

Adolescentes

Pais com filhos adolescentes também tiveram a chance de fortalecer laços nesta pandemia. João Pedro Bernardes, de 19 anos, diz que tinha uma relação distante com o pai antes de 2020. “O estresse ocasionado no 3º ano do Ensino Médio, o fim de um ciclo e a indecisão sobre qual rumo tomar na minha vida acabaram afetando minha relação com meu pai. Quase não conversávamos antes de 2019. Estávamos sempre correndo e estressados. Porém, quando a pandemia começou, não pude mais sair de casa e ele também não. Por isso, tivemos que ficar mais tempo juntos”, revela.

“Daqui a pouco, vou ter um filho que também será meu colega de profissão. Espero que, antes de mais nada, ele seja muito feliz na sua carreira. O que mais um pai pode querer? Que seu filho seja feliz” (Nelson Bernardes de Oliveira, pai do João Pedro Bernardes, de 19 anos)

Hoje, João Pedro considera que a relação melhorou muito, tanto que o jovem resolveu seguir os passos do pai, Nelson Bernardes de Oliveira, que é perito contábil. “Tenho muito orgulho do meu pai, ele me ajudou a definir e a escolher o curso de Ciências Contábeis. Como estou estudando em casa, sempre que tenho alguma dúvida recorro a ele”. Fernando Michel

Nelson e João Pedro fortaleceram a relação de pai e filho nesta pandemia, quando passaram a ficar mais tempo em casa, um ao lado do outro 

O pai também tem aproveitado bastante os momentos junto de João Pedro. “Descobrimos que temos interesses em comum. Tinha pouco contato com ele e nossa relação interpessoal mudou para um patamar muito melhor. Daqui a pouco, vou ter um filho que também será meu colega de profissão. Espero que, antes de mais nada, ele seja muito feliz na sua carreira. O que mais um pai pode querer? Que seu filho seja feliz”, frisa Nelson.

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